Tomar o controlo do Grupo Wagner é um dos maiores desafios que Putin enfrenta – e já o iniciou

3 jul 2023, 17:04
Grupo Wagner (Getty)

Controlar todas as empresas vai ser uma tarefa difícil para o Kremlin, dada a obscuridade das ligações e a forma complexa como toda a rede empresarial de Prigozhin foi montada

A rebelião do Grupo Wagner trouxe a Vladimir Putin um novo desafio: a tomada de controlo dos negócios de Yevgeny Prigozhin.

O Wall Street Journal escreveu este domingo que esta é a operação mais complexa do género desde que o Reino Unido começou a liquidar a Companhia das Índias Orientais no séc. XIX.

“Putin está agora a tentar assumir o controlo de um monstro empresarial que ajudou a criar, de acordo com responsáveis ocidentais, do Médio Oriente e de África, juntamente com desertores russos e documentos que detalham mais de 100 empresas controladas pelo Grupo Wagner”, pode ler-se na publicação norte-americana.

Controlar todas as empresas vai ser uma tarefa difícil para o Kremlin, dada a obscuridade das ligações e a forma complexa como toda a rede empresarial de Prigozhin foi montada. Todos os seus funcionários, desde combatentes a geólogos e trolls que espalham desinformação nas redes sociais, eram pagos em dinheiro vivo, sem deixar qualquer rasto. Também os acordos da Wagner com os governos africanos, de natureza informal e “dependentes do contrabando e das transferências ilícitas e negociados pessoalmente pelo próprio Prigozhin”, são um fator que o Wall Street Journal enumera para exemplificar a dificuldade da operação.

Para já, o governo russo comunicou aos executivos africanos e do Médio Oriente que contrataram a Wagner para garantir a sua segurança que as empresas de mercenários que lá operam não vão continuar a atuar de forma independente.

Há também outro fator que pode complicar a tomada de controlo destes negócios. De acordo com mensagens de um assalariado de Prigozhin vistas pelo Wall Street, o líder dos mercenários transferiu o controlo de várias empresas para alguns dos seus empregados nas semanas que antecederam a rebelião do Grupo Wagner.

O jornal americano dá o exemplo de Abbas Juma, que foi nomeado líder do conselho de supervisão do grupo de media Patriot (uma das muitas empresas de Prigozhin), um cargo que anteriormente pertencia ao antigo confidente de Putin. “Ele é uma pessoa muito prudente e esperta, nunca faz nada sem algum motivo”, disse Juma, citado pela publicação.

Certo é que o seu império está sob ataque. No sábado da rebelião, dia 24 de junho, os escritórios do Grupo Wagner e outras empresas associadas a Prigozhin foram alvo de buscas por parte dos serviços secretos russos, o FSB. Foram apreendidos computadores, servidores, pistolas, passaportes falsos e cerca de 44 milhões de euros em dinheiro.

A operação de tomada de controlo do Wagner, iniciada ainda as forças de Prigozhin controlavam Rostov e marchavam em direção a Moscovo, já está a dar frutos no campo mediático. Nesse mesmo sábado, os canais oficiais das redes sociais do Grupo Wagner e da Concord, empresa-mãe, foram bloqueados pelo Kremlin.

A agência de notícias criada por Prigozhin, a RIA FAN, via fechar portas, anunciou o seu diretor, Yevgeny Zubarev, na sexta-feira. A própria rede social fundada pelo “chef de Putin”, a YaRUS, comunicou que vai suspender a sua atividade e procurar por novos investidores “devido à situação política”.

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