Marina interrompeu a emissão de uma TV estatal russa, foi detida e agora ninguém sabe onde está

Cláudia Évora , Notícia atualizada às 12:04 com imagens do Twitter
15 mar 2022, 11:19

O incidente aconteceu na segunda-feira, por volta das 21:30 (horas locais, menos três em Lisboa)

Uma mulher interrompeu o noticiário da noite do Channel 1, um canal estatal russo, ao aparecer atrás da pivô com um cartaz contra a guerra na Ucrânia. Naquele pedaço de papel branco podiam ler-se frases como: "parem a guerra", "não acreditem na propaganda" e "aqui, estão a mentir-vos". 

O incidente aconteceu na segunda-feira, por volta das 21:30 (horas locais, menos três em Lisboa). Marina Ovsyannikova, editora e produtora do canal televisivo, invadiu o estúdio, colocou-se atrás da colega Ekaterina Andreeva, empunhou o cartaz, mas rapidamente a emissão foi interrompida com uma peça sobre hospitais, como pode verificar no vídeo associado a este artigo.

De acordo com a imprensa internacional, Marina Ovsyannikova acabou por ser detida pelas autoridades russas, mas até agora desconhece-se o seu paradeiro. A BBC diz mesmo que o advogado de Marina tentou contactá-la e procurou-a em todas as esquadras perto do canal estatal, mas sem sucesso.

A editora e produtora pode ser condenada pela justiça russa com base na recente lei que proíbe atos públicos que desacreditem o exército. Antes da conta do Twitter ter sido desativada, Marina tinha feito uma publicação na qual admitia que podia enfrentar uma pena de prisão entre os cinco e os 10 anos. 

Antes de interromper a emissão do Channel 1, gravou e publicou um vídeo nas redes sociais no qual pedia desculpa pelo seu trabalho naquela televisão estatal, dizendo que o que estava a acontecer na Ucrânia era "um crime" e que Vladimir Putin era "um agressor".

"Infelizmente, nos últimos anos, trabalhei no Channel 1, trabalhei para a propaganda do Kremlin. Agora, tenho muita vergonha. Tenho vergonha por ter permitido que as mentiras fossem ditas nos ecrãs das televisões", disse. 
 

No mesmo vídeo, a produtora, filha de mãe russa e pai ucraniano, fez um apelo ao povo russo que não concorda com esta guerra: "Está nas nossas mãos parar com esta loucura. Saiam às ruas. Não tenham medo. Eles não nos podem prender a todos". 

"A minha mãe é russa, o meu pai é ucraniano e o colar que tenho ao pescoço [com as cores das bandeiras dos dois países] é o símbolo de esperança de que, um dia, os dois povos possam fazer as pazes". 

As televisões russas "têm optado" - a utilização das aspas deve-se ao facto do governo russo controlar os meios de comunicação social estatais - por não transmitir imagens da guerra. Expressão que, tal como Vladimir Putin, se recusam a utilizar, dizendo sempre que se trata de uma "operação militar especial" para "desnazificar" a Ucrânia. 

Kremlin fala em "hooliganismo", Zelensky agradece a coragem

O canal, que é controlado pelo governo russo, já garantiu que o incidente está a ser investigado. Esta terça-feira, em comunicado, o Kremlin classificou este protesto como um ato de "hooliganismo". 

"No que diz respeito a esta mulher, isto é hooliganismo", escreveu o porta-voz Dmitry Peskov.

Por sua vez, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, através do Telegram, deixou uma palavra de agradecimento pela coragem deste gesto de resistência: "Sou muito grato aos russos que não param de tentar transmitir a verdade, que lutam contra a desinformação"

Já o gabinete dos Direitos Humanos das Nações Unidas pediu às autoridades russas que assegurem que esta mulher "não enfrente quaisquer represálias por exercer o seu direito à liberdade de expressão".

Entretanto, o presidente francês afirma que a embaixada de França na Rússia está disponível para receber Marina Ovsyannikova.

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