O gigante Antonov AN-225 foi destruído durante a invasão russa. Mas a Ucrânia diz que voltará a voar

CNN , David McKenzie, Ghazi Balkiz e Maria Avdeeva
11 abr 2023, 08:21
O gigante Antonov An-225 foi destruído durante a invasão russa. Mas a Ucrânia diz que voltará a voar. Foto: Ghazi Balkiz/CNN

Apenas uma aeronave destas foi concluída, tendo o primeiro voo sido efetuado em 1988

O cone do nariz rasgado do avião de carga Antonov AN-225 paira sobre Yevhen Bashynsky.

Carinhosamente conhecido como o Mriya, ou "Sonho", o colossal avião era o orgulho da Ucrânia e de Bashynsky, de 38 anos, um dos seus pilotos.

Esta é a primeira vez que Bashynsky regressa para ver o que resta de Mriya.

"É muito difícil estar aqui e ver todo este cenário. O avião em destroços, os hangares destruídos. É muito difícil de ver", diz.

Nas primeiras horas da guerra, para-quedistas de elite russos aterraram no aeródromo da Antonov, um grande aeroporto de carga em Hostomel, a noroeste de Kiev. Era suposto ser um ponto de partida para atacar a capital. A tomada não correu como planeado. As tropas russas no interior do aeroporto foram cercadas, sem qualquer hipótese de trazer reforços rapidamente.

Rapidamente se espalhou a notícia nos círculos da aviação de que o Mriya tinha sido danificado durante os combates. Quando as forças ucranianas retomaram o aeroporto, a dimensão da destruição tornou-se clara.

Os Serviços de Segurança da Ucrânia disseram na quarta-feira que tinha sido lançada uma investigação conjunta com a polícia nacional sobre o fracasso do antigo chefe da empresa estatal Antonov em ordenar a retirada planeada do avião em segurança para a Alemanha.

Quando voava, o Mriya foi concebido para superlativos da aviação: o avião mais pesado do mundo; a maior envergadura de asas de qualquer avião de carga no ativo; seis motores turbo ventilados com mais de 50 mil libras de impulso cada um; uma capacidade de carga de 250 toneladas.

Apenas uma aeronave destas foi concluída, tendo o primeiro voo sido efetuado em 1988. Foi concebido para transportar a nave espacial Buran – a resposta da União Soviética ao vaivém espacial da NASA – nas suas costas. Mas, após a independência da Ucrânia, a Antonov renovou o avião várias vezes.

No início dos anos 2000, o Mriya começou novamente a operar com uma vertente comercial. Lentamente, encontrou um nicho importante, diz o executivo da divisão de carga da Antonov, Ruslan Bykovets.

Satélites, transformadores eléctricos, entrega de água após um furacão – o gigante ucraniano transportou de tudo, diz. Durante a pandemia de covid-19, transportou carga médica vital.

O piloto Yevhen Bashynsky conta que pilotar o Antonov era fazer parte de algo "grandioso". Foto: Ghazi Balkiz/CNN
O avião é conhecido na Ucrânia pela alcunha Mriya, que significa "sonho". Foto: Ghazi Balkiz/CNN

Bashynsky, o piloto, diz que o avião era um desafio para manobrar em terra, mas era um prazer voar nele – era seguido atentamente pelos entusiastas da aviação.

"Era como se fizéssemos parte de algo grandioso. Estávamos a tocar em algo grandioso", diz.

"Era também uma grande responsabilidade porque atraías muita atenção. Uns dias depois de voar, podia ir ao YouTube e ver tudo o que tinha feito."

Em maio do ano passado, provavelmente tendo em conta a importância simbólica para o país, o presidente Volodymyr Zelensky disse que a Ucrânia iria reconstruir o avião.

Funcionários da Antonov dizem que outro AN-225 foi parcialmente construído – mas abandonado nos anos 90 devido à falta de fundos. O plano atual é utilizar o que já têm como base para um novo avião.

Engenheiros e técnicos têm estado a vasculhar os destroços do Mriya em Hostomel para retirar as peças úteis. Eles vão acabar por retirar uma das suas asas gigantes para tentar restaurá-la, diz o designer da Antonov Valerii Kostiuk.

"A aeronave será equipada com motores modernizados. Novos equipamentos eletrónicos de bordo serão instalados no avião. Serão envolvidas empresas bem conhecidas", diz.

Que empresas serão essas e como é que a Ucrânia se dará ao luxo de construir o avião não é ainda claro, essa informação não foi divulgada pelos funcionários da empresa. É impossível dizer exatamente quanto custará a reconstrução do avião, mas algumas estimativas colocam-na perto de mil milhões de dólares norte-americanos. O empresário da Antonov Bykovets reconhece que não será uma prioridade para um país despedaçado pela guerra.

Ainda assim, diz, é algo que deve ser feito.

"Este avião é um símbolo da Ucrânia", diz. "É um símbolo tal como o são o Burj Khalifa [no Dubai], ou a Estátua da Liberdade [nos Estados Unidos]."

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