Médicos, enfermeiros, polícias e professores: as reivindicações e as linhas vermelhas. Será possível resolver tudo em apenas 60 dias?

10 abr, 19:46
Manifestação de polícias (Estela Silva/Lusa)

PS mostrou disponibilidade para negociar e fechar acordo em 60 dias. Montenegro elogiou a iniciativa e prometeu reunião para "quando for oportuno". Resta agora saber se dia 31 de maio marcará o fim das ações de protesto e manifestações em Portugal

Na carta enviada a Luís Montenegro, Pedro Nuno Santos disponibilizou-se para negociar um acordo que resolva a situação de vários "grupos profissionais da administração pública até ao início do verão". O secretário-geral do PS estima que, em apenas 60 dias, será possível amenizar os protestos e queixas dos médicos, enfermeiros, professores, polícias e oficiais de Justiça. Em resposta, Luís Montenegro elogiou a responsabilidade e compromisso do PS e promete reunião "quando for oportuno" com Pedro Nuno.

Ambos concordaram que um acordo entre Governo e PS só poderá acontecer depois de o Governo negociar com os sindicatos. A CNN Portugal adiantou-se e entrou em contacto com a Federação Nacional dos Médicos (FNAM), o Sindicato Independente de Todos os Enfermeiros Unidos (SITEU), Federação Nacional dos Professores (FENPROF), Sindicato Nacional da Polícia (SINAPOL) e com o Sindicato dos Profissionais de Polícia (SPP/PSP). Estas são as reivindicações e as linhas vermelhas de todos estes setores.

Manifestação de polícias, janeiro de 2024 (Estela Silva/Lusa)

Polícias

Reivindicações:

  • Suplemento de missão equiparado ao da PJ
  • Atualização dos suplementos pagos aos polícias
  • Atualização das tabelas remuneratórias do salário base dos polícias
  • Fim da impunidade de agressões a polícias
  • Cumprimento da idade de aposentação aos 55 anos com 36 anos de serviço
  • Cumprimento da utilização das horas extraordinárias
  • Novos acordos no sistema de apoio na doença
  • Renovação das instalações e equipamentos degradados

O presidente do Sindicato dos Profissionais de Polícia (SPP-PSP), Paulo Macedo, garante que a principal reivindicação dos polícias se mantém a mesma: receber um suplemento equiparado ao suplemento de missão pago à PJ. "Todos os polícias correm este mesmo risco", garante o líder sindical, assegurando ainda que "aquilo que havia para negociar já foi negociado com a PJ".

"Não vamos negociar. Só queremos perceber se nos vão dar aquilo que é justo", garante Paulo Macedo.

Linhas vermelhas:

  • Caso o Governo não ceda no pagamento do suplemento no mesmo valor da PJ
  • Se a implementação do suplemento não for de uma forma célere

Armando Ferreira, Presidente do Sindicato Nacional da Polícia (SINAPOL), concorda: "Entendemos que não há o que negociar com o Governo, o que os polícias e os sindicatos reivindicam é o suplemento que foi dado à PJ". O líder sindical, tal como Paulo Macedo, assegura que "não há muito a negociar e agora está nas mãos do Governo". 

"As linhas vermelhas ficam nas mãos do Governo. A vida de um PSP não vale menos do que a vida de um PJ", diz o presidente do SINAPOL, deixando o aviso: "Os polícias voltarão às ruas, voltarão ao protesto, isto é algo que poderá acontecer".

O presidente do SPP-PSP anuncia ainda mais uma situação a que os polícias estão a assistir que os está a fazer sentir discriminados e que prometem que fará parte da agenda de discussão nas próximas negociações com o Governo: a reposição do tempo de serviço dos professores.

"Temos visto que o atual Governo anunciar a reposição do tempo de serviço dos professores. Os polícias também tiveram o tempo de serviço congelado e não vão ser discriminados mais uma vez. Somo todos função pública, se há recuperação para uns, deve haver recuperações para todos", apontou Paulo Macedo.

Manifestação nacional de professores e educadores, fevereiro de 2023 (António Pedro Santos/ Lusa)

Professores

Depois de oito anos de governos socialistas é com alguma perplexidade que o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira, olha para a carta de Pedro Nuno Santos. Ainda assim, o líder sindical lembra que a liderança do PS mudou e que "Pedro Nuno Santos sempre demonstrou algum desacordou com as medidas dos Governo que visavam a Educação".

Quanto à reposição do tempo de serviço, Mário Nogueira entende que “não foi promessa, foi um compromisso, inclusivamente referido no discurso de tomada de posse de Montenegro e também o Presidente da República já referiu que é necessário”. 

Reivindicações: 

  • Reposição do tempo de serviço
  • Eliminar a precariedade do setor
  • Valorizar os salários e as carreiras
  • Aumento do financiamento das escolas

Linhas Vermelhas: 

  • Se houver uma desvalorização das carreiras
  • Se perante a falta de professores, se entende que qualquer pessoa pode dar aulas
  • Contrariando a Constituição da República, que se aponte para a colocação do setor privado em pé de igualdade com a escola pública (cheque educação)

A Fenprof refere ainda que "Governo e o primeiro-ministro já tornaram público que queriam resolver a reposição em 60 dias" e que embora o ministro da Educação também já tenha falado da reposição do tempo de serviço, até ao momento ainda não chegou qualquer convocatória à Federação dos Professores.

Médicos de família em protesto: “Esta situação é totalmente inaceitável”, julho de 2022 (Fonte: Lusa/JOSE SENA GOULÃO)

Médicos

A presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), Joana Bordalo e Sá, garante que todas as reivindicações dos médicos têm um propósito comum: "Fundamental será ter mais médicos no SNS". A líder sindical entende que a perda de regalias, um legado ainda do período da Troika, tem sido o calcanhar de Aquiles do Serviço Nacional de Saúde.

Reivindicações:

  • Salários mais justos e que permitam repor o poder de compra que perdemos na última década
  • Reposição das 35 horas semanais, como acontece no resto da Administração Pública
  • Reintegração dos médicos internos
  • Reposição das 12 horas de urgência e não as 18 horas atuais 
  • Médicos de família devem ter uma lista máxima de 1.500 utentes (para transformar a especialidade mais apelativa)
  • Reposição dos 25 dias de férias, que, desde a Troika, passou para 22 dias
  • Reposição da opção de 5 dias de férias extraordinários para os médicos que tirem férias em época baixa
  • Melhoria das condições de parentalidade
  • Assegurar uma formação contínua
  • Subsídio de disponibilidade permanente
  • Progressão na carreira – rever o sistema de avaliação

Linhas Vermelhas:

Joana Bordalo e Sá acredita que não há linhas vermelhas para os médicos, na verdadeira ascensão da palavra, mas ainda assim garante que não aceitarão " acordos em que haja perda de direitos".

A líder sindical lembra que "a FNAM vai para as mesas de negociação de boa-fé e sempre com propostas" e, por fim, deixa apenas um alerta aos legisladores: "A FNAM não aceita perda de direitos, não faz e pede que não sejam feitos jogos de bastidores".

Protesto de enfermeiros, novembro de 2023 (LUSA/Miguel A. Lopes)

Enfermeiros

A presidente do Sindicato Independente de Todos os Enfermeiros Unidos (SITEU), Gorete Pimentel, mostra-se confiante que as reivindicações da classe serão ouvidas pelo Governo de Luís Montenegro: "2024 tem de ser o ano dos enfermeiros".

Quanto à carta de Pedro Nuno Santos e ao objetivo a ser cumprindo em 60 dias, Gorete Pimentel diz que "estranha" e lembra que, no que diz respeito aos enfermeiros, muito "já estava alinhavado com o anterior Governo" e acredita que mostram que o novo secretário-geral do PS "está preocupado com este escalar de posições extremistas e conservadoras".

Reivindicações:

  • Alteração da tabela salarial que não é alterada há mais de 20 anos
  • Acordo coletivo de trabalho para os enfermeiros na Administração Pública
  • Resolução dos problemas inerentes às alterações dos níveis de carreiras
  • Revisão do estatuto de enfermeiro especialista

Linhas Vermelhas: 

  • Discursos extremistas e anti-sindicatos
  • Propostas para a ilegalização do aborto - "Enquanto profissionais de saúde nós não podemos aceitar", diz o SITEU

Gorete escusa-se a apresentar linhas vermelhas. A única exceção que seria inaceitável para o SITEU seria o surgimento do "discurso extremista e anti-sindicatos". "Sou mulher, enfermeira e estou verdadeiramente preocupada com o posicionamento inclinado para a extrema-direita do espetro político", explica Gorete Pimentel, expondo um exemplo: "Propostas contra a legalização do aborto, enquanto profissionais de saúde nós não podemos aceitar".

"Há um medo da privatização da Saúde, mas a Saúde já está privatizada, quem vai sofrer são os idosos e quem tem doenças mais graves por causa das seguradoras", lembra a presidente do SITEU: "A Saúde é um maior negócio do planeta. É super apetecível para empresas com capitais e as farmacêuticas são reflexo disso mesmo".

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