Ministro das Infraestruturas diz ainda que há uma hipótese pior e uma melhor no âmbito desta fábrica
Mais de duas décadas depois, Portugal vai voltar a ter uma fábrica de comboios. A garantia foi dada pelo ministro das Infraestruturas, João Galamba, na sequência do concurso de compra de 117 automotoras para os serviços suburbanos e regionais prestados pela CP. Em audição parlamentar, o governante adiantou ainda que está a ser finalizada uma nova estratégia para os portos.
“A CP vai reforçar a oferta com 117 novos comboios, garantindo, simultaneamente, uma nova fábrica em Portugal. Podemos dizer, com toda a confiança, que na pior das hipóteses teremos uma fábrica em Portugal“, adiantou João Galamba aos deputados da Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas. A fábrica poderá permitir a criação de até 1.000 postos de trabalho.
“Na melhor das hipóteses, teremos uma fábrica melhor”, acrescentou o ministro em resposta ao deputado do PS Hugo Costa.
O processo de compra destes comboios está na fase final. Restam na competição o consórcio franco-português Alstom/DST, os suíços da Stadler e os espanhóis da CAF. O concurso está avaliado em 819 milhões de euros.
Além do fornecimento dos comboios, o concurso público dá mais pontos a quem incluir maior incorporação nacional e ainda construir uma unidade de produção junto à oficina de manutenção de material circulante de Guifões. Para já, a Alstom é a única empresa que já se comprometeu em construir uma fábrica de comboios em Portugal, contando para isso com a DST.
No concurso dos 117 comboios, 62 automotoras elétricas serão utilizadas nos serviços suburbanos da CP; as restantes 55 servirão para o serviço regional, substituindo as automotoras UTE 2240, também conhecidas como “Lili Caneças”, por terem sido modernizadas na parte exterior entre 2003 e 2005 mas por manterem a carroçaria original, das décadas de 1970 e 1980.
No serviço suburbano, a Linha de Cascais será contemplada com 34 unidades, substituindo as composições das séries 3150 e 3250, modernizadas no final da década de 1990 mas com carroçaria originária dos anos 1950. Outras 16 automotoras vão reforçar a operação nas linhas de Sintra, Azambuja e Sado; haverá ainda 12 automotoras para reforçar os serviços urbanos do Porto. Haverá ainda a opção para encomendar, até 2028, mais 24 composições para a Grande Lisboa e outras 12 para o Grande Porto.
O vencedor do concurso deverá ser anunciado até ao final do primeiro semestre, praticamente dois anos depois da aprovação em Conselho de Ministros. As primeiras unidades serão entregues em 2026.
Antes disso, a partir de outubro de 2025, vão começar a chegar os 22 novos comboios para o serviço regional. Fabricadas pelos suíços da Stadler, 12 das automotoras serão bimodo (também podem circular em linhas não eletrificadas) e dez são elétricas.
Concurso para bares válido até final do ano
O ministro foi questionado pelos deputados do PCP e do Bloco de Esquerda sobre a situação dos bares dos comboios, na sequência da rescisão do contrato com a ainda concessionária, a empresa Apeadeiro 2020.
João Galamba adiantou que o concurso público internacional de urgência “será válido até ao final deste ano” e que uma das cláusulas do acordo “é o pagamento dos salários de fevereiro e de março”, que ainda não foi recebido pelos 130 trabalhadores. “Tentaremos depois recuperar o dinheiro através de mecanismos legais” junto da empresa Apeadeiro 2020.
Até ao final deste ano, a CP terá de estudar e apresentar contas se gasta mais em contratar uma empresa para prestar este serviço ou internalizar os funcionários. “Não excluímos não recorrer ao outsourcing e defender a integração plena dos trabalhadores”, referiu João Galamba em resposta ao deputado do PCP Bruno Dias.
Nova estratégia para os portos
Ainda na intervenção inicial, o ministro das Infraestruturas adiantou que está a ser finalizada uma nova estratégia para os portos nacionais. Para João Galamba, “os portos devem caminhar para hubs energéticos” e obter emissões zero até 2035.
O pacote de medidas deverá passar pela simplificação administrativa, alteração do limite do prazo das concessões, especialização dos portos, incentivos à captação de investimento e fomento da especialização dos trabalhadores.