Ferreira e o segundo golo do Varzim: «Já vi coisas piores»

19 nov 2001, 19:31

Guarda-redes do Leixões em entrevista ao Maisfutebol Defendia tudo, mas, num instante de infelicidade, comprometeu a vitória do Leixões. Ferreira conta tudo ao Maisfutebol.

Ferreira nunca sentira nada assim. Ria quando devia chorar e aceitava permanecer no centro das atenções numa altura em que queria correr para o balneário à procura de um canto para se esconder. O Leixões acabara de ficar a milímetros da surpresa e o guarda-redes sentia-se desiludido consigo, com um simples gesto que comprometera uma tarde fantástica e lhe limpara da memória tudo o que tinha produzido. 

«Tive uma manifestação de carinho como nunca tive», conta, cerca de 24 horas volvidas. O contacto do Maisfutebol reavivara os cumprimentos e a solidariedade que recebera depois de duas horas estranhas. «Foi incrível», recorda, com a voz subitamente arrastada. «Errei, mas toda a gente do Leixões ficou a gritar o meu nome. Nunca tinha sentido nada assim». Do segundo golo do Varzim, o do desespero, o que o deixou a socar a relva em sinal de frustração, quer recordar unicamente o instante em que decidiu por encaixar a bola quando algo dentro de si o aconselhava a desviar a trajectória do couro. «Naquele remate tinha de agarrar a bola, mas ela sofreu um pequeno desvio ao chegar perto de mim. Não consegui encaixá-la, bateu-me no braço e acabou por entrar». Não voltaria a falar do assunto. 

Do jogo da Póvoa de Varzim, se excluir esse momento, guardará recordações saborosas. «Foi excelente! As duas equipas respeitaram-se e houve oportunidades para ambos os lados. Se houvesse um vencedor, seria justo». O Leixões, que falhou uma grande penalidade e pertence a um escalão inferior, terá conseguido um resultado que não agrada a cem por cento. «Fiquei ligado ao que se passou com aquele lance infeliz. Podíamos ter resolvido a eliminatória, uma vez que jogámos muito bem», refere Ferreira, garantindo que a equipa matosinhense pode confiar num triunfo no jogo de desempate. «Temos jogadores experientes e alguns jovens com valor. Queremos subir à II Liga e jogámos sempre para vencer, por isso não temos nada a perder». 

A conversa estava prestes a terminar no mesmo ponto onde principiara. Ferreira recuperava o segundo em que desejou desaparecer e buscava absolvição. «Já vi coisas piores», arriscava. «Não se pode considerar um frango. É mais um lance infeliz que outra coisa qualquer». Os rótulos, de resto, podem ser injustos e têm tendência para variar consoante a avaliação de cada um. «Já me aconteceu, num jogo do Leiria em Setúbal, sofrer um golo do Rui Esteves que os jornalistas disseram que foi frango. Curiosamente, esse golo acabou por ser o melhor dessa época». A crítica tem destas coisas. 
 

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