A história do Dragão amordaçado

29 jan 2001, 19:14

F.C. Porto «mudo» desde o Bessa Fernando Santos ainda falou após a derrota com o Boavista, mas não voltou a debitar o que quer que fosse se a isso não fosse obrigado pelos regulamentos da Liga. O F.C. Porto calou-se numa manhã de manchetes que relatavam a contestação ao treinador no regresso ao trabalho. Desde aí, nem sequer informações médicas e convocatórias.

Subitamente, há duas semanas, o F. C. Porto entrou em blackout. Num sentido tão literal que nem sequer houve anúncio. Apenas a constatação, por parte dos jornalistas que diariamente se deslocam às Antas, de que o silêncio era uma realidade.  
 
Tudo terá principiado no Estádio do Bessa. Os dragões perderam por 0-1 e o Boavista roubou-lhes a liderança do campeonato. Três dias depois (terça-feira), um dia depois de alguns adeptos terem contestado Fernando Santos durante o trabalho, os jornalistas foram convidados a deixar a bancada de Imprensa a meio de mais um treino de preparação para o primeiro de três jogos com o Benfica.  
 
Nessa terça-feira era dia de convocatória. E foi mesmo, não havia outro remédio. Contudo, ninguém soube oficialmente quais eram os escolhidos de Fernando Santos para a deslocação ao Estádio da Luz. Nem que atletas estavam lesionados.  
 
Depois de uma manhã e um início da tarde de espera (com treino à porta fechada pelo meio), os jornalistas lembraram-se de chamar o assessor de imprensa que por acaso passava pela zona onde se concentravam. A resposta que obtiveram da parte do funcionário foi a de que naquele dia não haveria quaisquer informações. Meio em «off», souberam também que se não tivesse calhado encontrarem-se ali, os repórteres poderiam ficar o dia todo à espera que alguém lhes dissesse algo. Sentados, como costuma dizer-se.  
 
Exceptuando as declarações a que Fernando Santos está obrigado, pelos regulamentos da Liga, a prestar no final das partidas à estação televisiva que as transmite e a uma conversa de circunstância com Drulovic, na semana passada, essas foram as últimas palavras proferidas por alguém do clube.  
 
As convocatórias, tal como nessa terça-feira, são dadas a conhecer ao público através do método da «contagem de quem entra no autocarro» e de um exercício de exclusão de partes.  
 
Para o encontro seguinte, de novo na Luz, os responsáveis do F. C. Porto lembraram-se de que se enfiassem no autocarro mais de duas dezenas de jogadores ninguém poderia mesmo saber quem eram os 18 escolhidos. E assim fizeram. No Benfica acharam piada e fizeram o mesmo. Foi engraçado, ficou a emoção bem desperta até perto do início do jogo.  
 
De volta ao F. C. Porto, há que acrescentar que o boletim clínico, desde essa segunda-feira, passou a ficar, também ele, guardado no segredo do gabinete médico.  
 
Não se sabe exactamente quem foi o «pai» desta prática, que de quando em vez se vê um pouco por todo o lado. A memória está, infelizmente, diluída num passado já distante. Certo, certo é que nas Antas ela é recorrente.  
 
Desde que iniciou o «blackout» nunca anunciado, o F. C. Porto empatou um jogo na Luz (Taça), perdeu outro no mesmo sítio (campeonato), esmagou o Benfica no terceiro «round», nas Antas, por 4-0 (Taça), e empatou a zero com o Belenenses, perdendo os primeiros pontos da época em casa.

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