Porque é que os coreanos não vão à bola com os States?

21 jun 2002, 09:03

Norte-americanos sempre com público desfavorável Os coreanos têm sido de uma simpatia sem limites para todas as selecções deste Mundial. Bem, todas, todas, não...

Se o público coreano, apesar de ardentemente nacionalista, tem sido de uma generosidade notável no contacto com os contingentes de adeptos de outros países, e no entusiasmo com que apoia e admira genuinamente outras selecções, nem por isso passa despercebido o desconforto gerado pelo sucesso da equipa americana neste Mundial.

Em todos os jogos, sem excepção, os yankees têm tido o público a torcer pelo adversário - nunca a selecção portuguesa foi tão apoiada no estrangeiro como no jogo de estreia, em Suwon; e, na terceira jornada, cada golo polaco motivou uma enorme explosão de alegria no estádio de Incheon, enquanto portugueses e coreanos discutiam a supremacia no grupo D. Seria ingénuo associar este estado de coisas unicamente ao futebol primário e pouco atraente dos homens de Bruce Arena.

O sentimento anti-americano é, para o observador desatento, uma componente paradoxal da sociedade coreana. As marcas made in Usa (bonés da NBA, cadeias de fast-food, basebol com desporto número 1) são patentes, em especial na juventude, mas são acompanhadas por uma quase universal relutância em falar inglês. Por outro lado, os efeitos da presença permanente do contingente militar norte-americano - herança do paralelo 38 - provocam um indisfarçável mal-estar, quase sempre acompanhado pelas lendas urbanas de comportamentos desordeiros de G.I. em licença nas ruas mal-afamadas de Itaewon.

Para um povo que se preza de ter resistido a 800 invasões ao longo da sua História - e que por via disso mantém uma desconfiança permanente em relação aos japoneses - o poder americano e o aprofundamento das ligações económicas e políticas com a Coreia é visto com um misto de desconfiança e fascínio, que muitas vezes leva a confundir o importante e o acessório. Embora os cuidados de segurança tenham evitado que as receadas manifestações anti-USA aparecessem em força por ocasião do Coreia-Estados Unidos, é cada vez mais evidente que os coreanos olham para a carreira da equipa americana com um misto de surpresa e desagrado.

Também por isso, esta sexta-feira, em Ulsan, os alemães vão ter mais apoio do que em qualquer outro jogo neste Mundial. Uma voluntária da organização, que passeava nas ruas de Ulsan uma camisola alemã revivalista dos anos 70, confidenciava a Maisfutebol: «Tive muita pena que a Coreia tivesse ganho o jogo a Portugal. O empate chegava aos dois e os Estados Unidos ficavam de fora. E se Portugal estivesse apurado vinha jogar aqui com a Alemanha. Assim, quando é que eu vou ver o Pigo de perto?». Convém esclarecer, para quem ainda não sabe, que para além de não gostarem dos Estados Unidos, os coreanos também não conseguem dizer os épes. Os éfes, melhor dizendo.

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