F.C. Porto-Celtic Glasgow, 3-0 (crónica)

17 out 2001, 22:29

A virtude esteve nos extremos Os extremos fizeram a diferença. Não só Capucho e Clayton em destaque, mas também o início e o final da primeira parte, cruciais para a vitória azul e branca. Na segunda parte, foi só gerir...

As lógicas, verdadeiros clichés puros, estão em vias de extinção. O exemplo foi dado pelo F.C. Porto, quebrando a velha máxima de que a virtude está no meio. Para o dragão, o bem é algo existente nos extremos. Não só nos próprios jogadores, nos futebolistas escolhidos para preencher aquele lugar específico, mas também no tempo real dos próprios desafios, ou seja, no princípio e no fim do combate. 

Começando pela questão temporal ¿ preponderante nesta análise ¿ a vitória dos azuis e brancos tem um sólido pilar no primeiro minuto do encontro e outro nos derradeiros segundos da primeira parte. Começa aqui a história dos extremos, com um golo de Clayton, no embrião do jogo e outro de Mário Silva, na sequência de um remate fortíssimo, envolvendo a bola em chama autêntica. A chama do triunfo. 

Quer se queira quer não, o desafio morreu naquele instante. Se até ali, o Celtic Glasgow reagia a espaços, em pequenos lances esporádicos de futebol pouco rigoroso, acabou por perder o ímpeto na segunda parte. Os escoceses entraram na etapa final como pisaram o relvado das Antas nos momentos iniciais. Com pouco atrevimento, apenas preocupados em adormecer o adversário no meio-campo. Mas a virtude não estava mesmo no meio e a ideia acabou por ficar sublinhada a vermelho com o magnífico golo de Clayton na segunda parte. 

Quanto à questão humana dos extremos, em que os grandes alvos da crítica são os jogadores, resume-se em considerações breves. A importante vitória do F.C. Porto ¿ crucial para as aspirações dos azuis e brancos na Liga dos Campeões ¿ nasceu, em parte, da acção determinante de quem fez das linhas laterais uma passadeira vermelha para a baliza. A vitória construiu-se nas bordas do terreno, obrigando os três centrais escoceses a flectirem perante tamanha fluidez de lances. Logo, a defesa ficou esburacada e os golos apareceram com naturalidade. Palmas para Capucho, Clayton e também para Ibarra. Todos magníficos. 

Dragão continua a falhar golos 

Este não era um jogo de risco, mas o conjunto das Antas era praticamente obrigado a vencer. Neste caso, a balança da pressão teve efeitos positivos no subconsciente dos jogadores, ávidos por inverter os papéis, desejosos por marcarem os golos que nunca aconteceram diante a Juventus. Agora, a história foi completamente distinta para gáudio dos adeptos e também de Octávio Machado, para quem os desperdícios ofensivos têm sido como nódoas negras na carreira da equipa. 

O treinador gosta de falar em «dinâmicas fortes», de exultar os valores tradicionais, sublinha mesmo a importância de um «F.C. Porto antigo». Frente ao Celtic Glasgow, o dragão foi tudo isto, sendo claramente superior ao adversário, muitas vezes atónito e atado para travar a inspiração divina, pintada em tom celeste. Não há palavras para descrever a discrepância de valores das duas equipas, tudo porque a formação da casa entrou a matar, sequiosa e esfomeada para resolver o jogo nos primeiros instantes. Assim aconteceu. 

A prova do fosso qualitativo entre os dois emblemas é fornecida pela própria estatística. Logo aos 20 minutos, os azuis e brancos podiam estar a vencer por três golos. Mas só tinham abanado a rede por uma ocasião. Num mar de rosas há sempre pequenas vagas, ondas visíveis e perceptíveis para quem está na bancada. A pecha em termos ofensivos continua a ser uma espécie de calcanhar de Aquiles, porque em alta competição não se pode falhar tantas oportunidades. O técnico tem falado de azar, mas a constante falta de pontaria de Pena ¿ ou quem sabe um momento mais ténue de forma física ¿ estão a ser factores determinantes e prejudicam a estratégia. 

Asfixiar ainda mais os escoceses 

Se o F.C. Porto entrou de rompante e dobrou o adversário também teve algumas quebras, aliás perfeitamente semelhantes em comparação aos últimos tempos. À passagem da meia hora, houve uma nítida diminuição de rendimento, mas nesse período o Celtic Glasgow ainda parecia preso ao seu esquema obsoleto de três centrais, um meio-campo povoado e um ataque pouco dinâmico. O esquema táctico não resultava, logo a brecha portista não se traduzia numa mais-valia para o opositor, porque a bola teimava em não passar a linha média e Ovchinnikov continuava a fazer da baliza o local mais calmo do planeta. 

Depois do golo de Mário Silva, no último minuto da primeira parte, assistiu-se à derrocada britânica. Na segunda parte, os jogadores foram como sombras errantes, sem um sentido bem definido. Depois, Clayton, aos 60 minutos, marcou o terceiro tento e os escoceses desmaiaram, asfixiados pelos... extremos dos colarinhos. Até ao final, foi uma questão de gerir o resultado e os próprios ritmos do jogo. Estava tudo resolvido a favor do dragão, que continua a ter hipóteses de chegar à fase seguinte da Liga dos Campeões. 

Sobre o árbitro há a dizer uma pequena coisa: esteve mal no capítulo disciplinar, nem sempre deu a lei da vantagem e fez vista grossa em algumas entradas feias. E vamos ficar por aqui, porque não adianta falar em muitas coisas más num jogo tão interessante.

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