Bragança-F.C. Porto, 1-2 (crónica)

11 fev 2001, 21:55

Um sofá que já não convence ninguém A crise psicológica continua, apesar da vitória, e começa a ser quase impossível de explicar porque é que estes jogadores não conseguem fazer melhor. Apesar da festa transmontana, os portistas não conseguiram libertar-se das angústias e continuaram a falhar. Mesmo assim, 43 dias depois o F.C. Porto regressa aos triunfos.

O sofá começa a ser exíguo para a crise psicológica dos portistas. Já não basta uma ida ao psicólogo para encontrar soluções para a crise, agora parece cada vez mais necessário ir ao índice da lista telefónica e falar com todos os especialistas, porque torna-se quase impossível convencer estes jogadores, habituados a habilidades de elite, a jogarem efectivamente bem. 

Pouco mais se poderia esperar de um grupo de pessoas que vivem tempos recheados de dúvidas, inquéritos disciplinares e até a dispensa de um colega. Fechados a sete chaves na intimidade do balneário, deixa de se saber o que se passa naquelas cabeças. Em dia de festa no nordeste transmontano é incrível como não esqueceram as dores internas para conseguirem produzir algo que orgulhasse quem os estava a ver. 

Fernando Santos já tinha deixado nove titulares em casa, entre lesionados (Capucho) e castigados (Pena e Esquerdinha), e apostou num «onze» muito parecido com aquele que fez boa figura na Luz, também para a Taça. Só com Paulinho como solução mais ou menos lógica para o lado esquerdo da defesa, as dúvidas começaram a pairar sobre as cabeças de todos e nomeadamente dos brigantinos, que assobiaram o jogo todo sempre que o intrépido portista tocava na bola. O Bragança soube explorar essa fraqueza e foi por aí que chegaram ao empate da esperança. 

Festa, pura e dura 

É tudo especial num genuíno jogo da Taça de Portugal. Bancadas repletas de gente esfuziante e saltitante, jogadores com motivações raramente alcançáveis e poucas condições para jogar e ver futebol. O Estádio, mesmo assim, conseguiu suportar mais de dez mil pessoas, com iluminação improvisada e muito entusiasmo. 

Pairava um secreto desejo de empate entre os locais, que nunca deixaram de correr atrás da bola, sempre tentando jogar na antecipação. A certa altura, enquanto tiveram pernas para andar, chegaram a tomar o domínio do meio-campo, com Vicente e Bragança a segurarem as tímidas incursões de Chainho e Peixe. Deram o primeiro e fatal sinal de fraqueza quando, num canto, deixaram Chainho totalmente isolado para fazer o primeiro golo. 

A má sorte do Bragança é que os lances de bola parada dos portistas eram marcados por Pavlin e não por Deco. Necessariamente mais bem colocados e perigosos, os lances de bola parada ganharam uma consistência inexistente quando são apontados pelo brasileiro. Aliás, o esloveno serviu-se desse trunfo e alcançou facilmente o estatuto de melhor em campo, num aviso claro ao treinador, que raramente o convoca. 

Quando o F.C. Porto chegou à vantagem todos terão pensado que estava tudo resolvido e que dificilmente alguém os deteria numa possível goleada para alimentar o ego. Mas, como pouca coisa saía bem a Pavlin e Cia., as lágrimas de tristeza voltaram às pálidas feições azuis e brancas. O sofrimento ainda não tinha acabado e só perto do final chegou o alívio retemperador, que permite viajar para as Antas com uma vitória escassa na bagagem 

Empate e calafrios 

Só com a mera hipótese de poder assustar um grande, o Bragança trabalhou muito e tem mérito por isso. Jogou bem em alguns momentos, nomeadamente através dos extremos Carlitos e Cláudio Serra. Para que a Taça tivesse realmente algum sabor ainda chegaram ao empate, em mais um lance de total desinspiração portista. Depois de Paulinho perder a bola, Pedro Espinha foi infeliz ao não conseguir defender um remate frouxo e rasteiro do «capitão» Bragança. 

A alegria explodiu nas bancadas, fez brotar rios de lágrimas entre os brigantinos, que não cessavam de pular, calcando o cimento e a terra de um Estádio em polvorosa. Fazia-se a história que permitirá a qualquer um dos presentes contar aos netos quando o clube transmontano voltar a alcançar os quartos-de-final da prova, se isso alguma vez acontecer 

Com a festa montada, era altura de descer à realidade e perder as ilusões com a natural superioridade física do adversário, que lá conseguiu engendrar uma jogada de prazer pelo nem sempre mágico Deco, oferecendo o golo da vitória a Clayton. Este último fez pouquíssimo, perdeu muitas bolas, mas não falhou quando só tinha o guarda-redes pela frente. 43 dias depois do último triunfo, também para a Taça ante o Felgueiras, os portistas voltam a alcançar o real motivo pelo qual trabalham todos os dias. Mesmo que sofrido e contra uma equipa que está em penúltimo lugar da II Divisão B...

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