ManUtd-Porto: «Mybiglilly» ou «a verdadeira religião»

9 mar 2004, 15:55

A paixão pelo United contada na primeira pessoa

Os tempos são de mudança no Manchester United, mas apesar das luzes da ribalta, das digressões aos Estados Unidos e Ásia, dos adeptos hollywoodescos, não deixam de subsistir os adeptos reais, que percorrem quilómetros e quilómetros para assistirem a um jogo do clube, seja em Old Trafford ou no Japão.

Devido a razões de segurança o «Teatro dos Sonhos», como apelidou Bobby Charlton, continua a revestir-se de um ambiente muito especial. Vão surgindo panos mais sofisticados, com mensagens estudadas e já não as bandeiras irlandesas com a cara de Roy Keane no fundo branco da listra do meio. A bancada Streford End, continua a ter uma mística especial, porque ali residem os verdadeiros adeptos, aqueles que resistiram às provações dos maus anos e da falta de títulos para os comemorarem ainda com mais fervor.

Ninguém tem dúvidas que o palco do jogo desta terça-feira à noite terá um ambiente electrizante, talvez aterrador para o adversário. Esse é um grande trunfo sempre utilizado pelos diabos vermelhos em alturas de decisão de grandes competições, ainda que nem sempre o factor casa abone em seu favor.

Entre os muitos adeptos do United espalhados pelo mundo, o Maisfutebol conversou com um em especial. Keith Norris é responsável por um momento chamado «My Big Lilly», que nasceu na Irlanda do Norte e tem crescendo à medida que a sua gigantesca bandeira vai aumentando de proporções. O simpático católico assegura que a sua «única religião é o Manchester United», pelo que não consegue entender muito bem o fanatismo vivido noutras regiões, como em Glasgow, onde católicos (Celtic) e protestantes (Rangers) alimentam um ambiente de guerra.

Infelizmente, Keith não vai marcar presença no Old Trafford, pois a sua mulher Yukari Fukushima (japonesa que conheceu quando o Manchester United jogou a Intercontinental em Tóquio) está a poucos dias de ter o seu segundo filho. Mesmo de longe, desde Whitehead, o adepto pensa positivo e, «sem entrar em fanatismos, porque o futebol tem de servir para unir as pessoas», lança o repto: «Acho que vamos vencer por 2-0, com golos de Nistelrooy e Scholes. Estou confiante, apesar de o Porto ser uma muito boa equipa».

Entre as exigências do seu primogénito Alex (em homenagem a Ferguson) e as atenções que tem de despender com os dois cães de raça Samoyedo (Keano e Treble) e o gato (Andy Cole), também já pensa no novo rebento que está para vir e irá chamar-se Ryan («por causa de Giggs»). É já com ele que espera visitar o seu amigo Raul Gonzalez em Maio, quando for a Madrid: «Ele é uma pessoa impecável e um bom amigo. É assim que o futebol deve ser visto, com pessoas unidas e não com conflitos. Quando estive em Espanha fui a casa dele e ofereceu-me camisolas para o meu filho Alex. Também recebi uma do Figo, que admiro muito».

Por causa da «My Big Lilly» Keith já se viu privado de entrar em alguns campos por esse mundo fora e até pagar multas, que podem ir até aos 1500 euros. Mas, a paixão lá continua e o movimento cresce. Mesmo que o disponível e muito afável irlandês não esteja presente, a sua alma está lá.

Das tantas memórias guardadas por Keith, e que já foram publicadas em livro, subsiste o jogo de 77, em que o Porto perdeu por 5-2, e nova derrota em 97, que considera ter sido «um dos melhores jogos realizados pelo Giggs com a camisola do Manchester. Como provocação recorda-se de ter utilizado «uma bandeira do Boavista, o que provocou alguma revolta nos adeptos do Porto». «Ainda a tenha comigo», graceja. Dele nos despedimos também com um sorriso e desejo de poucas alegrias¿

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