Cadeia de restaurantes de Hong Kong paga viagens a 250 funcionários para verem as famílias

CNN , Chris Dwyer
15 dez 2021, 09:24
Black Sheep Restaurants

A única condição é que a equipa tem de completar um ano de serviço, quando regressar

Para Sandeep Arora, lar é a antiga cidade de Jalandhar, na região indiana de Punjab. É lá que moram a esposa, o filho e os pais, mas ele não os vê desde março de 2020. 

Amy Stott não vê os pais nem come no seu ponto habitual de fish and chips, em Manchester, Inglaterra, desde junho de 2019.

Por sua vez, Sabi Gurung anseia pelas maravilhosas montanhas do Nepal, onde a mãe, o pai e o adorado cão aguardam a primeira visita dela em quase dois anos.

Graças a uma nova iniciativa da cadeia Black Sheep Restaurantst, de Hong Kong, em breve estarão todos a caminho de casa com as despesas mais ou menos pagas.

Além do dinheiro para os voos e para a bateria de testes covid necessários, também receberão semanas extras de licença sem vencimento para poderem fazer a famosa quarentena em hotéis de Hong Kong, que a empresa também pagará. De acordo com as famosas restrições de entrada na cidade, qualquer residente que regresse tem de passar duas ou três semanas de quarentena em hotéis designados, pagando do seu bolso.

E, enquanto eles lá estiverem, a Black Sheep até lhes vai entregar refeições, todas as noites, de um dos seus 32 restaurantes.

A única condição? A equipa tem de completar um ano de serviço, quando regressar.

“Pareceu a coisa certa a fazer”

Arora, Stott e Gurung estão entre os mais de 250 funcionários que beneficiarão desta medida que permitirá que funcionários de todos os níveis possam ir a casa, a países tão distantes como a Argentina, Nigéria, França, África do Sul e Austrália.  

O programa foi idealizado pelos cofundadores da Black Sheep Restaurants, Syed Asim Hussain e Christopher Mark. Hussain é o primeiro a admitir que esta medida, que vai custar pelo menos 650 mil dólares, é um pouco louca.

"Foi uma ideia pateta que tivemos depois de algumas garrafas de vinho", disse ele à CNN. "No dia seguinte, falámos com os nossos gestores que foram completamente contra. Eles estão aqui para nos ajudar a não tomar decisões estúpidas."

Apesar dos conselhos, Hussain e Mark avançaram com o programa.

“Os nossos gestores são incríveis e ajudam-nos a entender as obrigações e os riscos, mas isso atrapalha o processo de fazer a coisa certa”, diz Hussain. "Este é um negócio em que as margens são sempre mínimas, mas especialmente agora. Entendo que seja um passo ousado, mas parecia a coisa certa a fazer."

Obviamente, a equipa que vai beneficiar deste programa, e que viajará para casa a partir de janeiro, não poderia estar mais de acordo.

Amy Stott, segunda a partir da esquerda, está ansiosa por ir casa ver a família, na foto.
Cortesia Amt Stott / Restaurantes Black Sheep

Entre essas pessoas está Stott, que passou os últimos 27 meses em Hong Kong.

“Tem sido difícil estar longe da minha família, especialmente quando perdemos entes queridos”, diz ela.

"O simples facto de não poder abraçar fisicamente a minha mãe e de estar presente quando eles precisam de apoio, tem sido um desafio mental. Desde a covid, tive de me tornar mais poupada, porque não sabemos o que está para vir. O custo da quarentena mais os voos é dinheiro que simplesmente não posso gastar. "

Ela irá a Itália, no próximo verão, para o casamento de um amigo, antes de voar para Manchester, no noroeste de Inglaterra, para ver a família e o cão, além de comer um verdadeiro fish and chips.

"Temos uma pequena schnauzer preta chamada Pippin e ela adora fazer longas caminhadas nos campos perto da casa dos meus pais", diz Stott. "São quilómetros de colinas verdes. Nunca pensei que pudesse ter saudades daquele vento frio que nos arrefece as orelhas. E o fish and chips! É uma tradição ser a minha primeira refeição, sempre que vou a casa. Fish and chips e puré de ervilhas."

A reação da família dela foi compreensivelmente emotiva.

“A minha família ficou encantada. O meu pai disse que já sabia que eu trabalhava com pessoas incríveis, mas que este era, de longe, o gesto mais generoso de que ele já tinha ouvido falar. A minha mãe só chorou,” disse ela.

Sandeep Arora não vê a esposa e o filho desde antes da pandemia.
Cortesia Sandeep Arora / Restaurantes Black Sheep

Arora é gerente e sommelier de dois restaurantes Black Sheep situados um à frente do outro. O New Punjab Club, o único restaurante panjábi do mundo a ser premiado com uma estrela Michelin, e o Carbone, um restaurante irmão do Carbone de Nova Iorque.   

“Não vou a casa desde o início da pandemia, o que tem sido muito difícil para mim e para a minha família”, diz ele. "O meu filho tem apenas oito anos, e está numa idade em que parecem crescer muito, mesmo num só mês. Regressar a Hong Kong vindo da Índia implica 21 dias num hotel. Antes da pandemia, eu ia a casa a cada seis meses."

Enquanto veterano da indústria da restauração, aquilo pelo que ele mais anseia é a comida caseira.

“Mal posso esperar para comer a comida da minha mãe, especialmente o Baingan bharta com roti que ela faz. É um prato panjábi simples, feito com beringela, mas tenho muitas saudades de comê-lo”, diz ele. "É a primeira coisa que ela me faz, sempre que vou a casa."

Para muitos, é também o simples ato de viajar para algum lugar, qualquer lugar, para fora de Hong Kong, pela primeira vez em dois anos.

“A oportunidade de ir a casa é muito importante”, diz Arora. "Além de estar com a minha família, estou muito feliz por viajar novamente. Quero visitar todos os cantos de Punjab, especialmente as montanhas. Faremos caminhadas ao longo dos rios, ficaremos em resorts nas montanhas e aproveitaremos a natureza."

Há também elementos do trabalho em hospitalidade que tornam ainda mais difícil o afastamento da família, diz ele.

"Com a chegada da época festiva, haverá muitas famílias a festejar nos restaurantes. Isso pode ser difícil, quando estamos longe dos nossos entes queridos, mas é sempre assim quando se trabalha neste ramo, mesmo antes de pandemia. Nestas épocas, os clientes são as nossas famílias.”

Sabi Gurung diz que mal pode esperar para voltar a casa, no Nepal, e ver a família, e desfrutar de alguns momos enquanto ela lá estiver.
Cortesia Sabi Gurung / Restaurantes Black Sheep

Gurung, funcionária há oito anos da Black Sheep Restaurants, gere as operações da steakhouse de estilo parisiense do grupo, La Vache, e diz que ficar longe da família durante uma epidemia gerou preocupações reais.

“Sou de Pokhara, no Nepal, que fica a 20 minutos de avião de Katmandu, e é uma bela região do mundo”, diz ela. "Lá moram a minha mãe, o meu pai e meu cão.”

"Obviamente, quando temos familiares com alguma idade, mais vulneráveis ​​a este vírus, preocupamo-nos com eles. É algo que nunca nos sai da ideia. Desde as vacinas, a situação na minha cidade natal está muito melhor, mas esteve má durante uns tempos, não foi como aqui em Hong Kong. Esta oportunidade de ir a casa significa muito para os meus pais e para mim. Deixou-me muito orgulhosa."

A comida local e vistas de fazer o coração disparar também estão na agenda dela.

“Tenho ansiado por momos (dumplings nepaleses) e pelas chamuças que comíamos quando eu e meus amigos estávamos na faculdade. Tenho saudades desses dias! Depois, quero fazer um café, sentar-me no meu telhado e olhar para os Himalaias."

Claramente, sendo um grupo de sucesso com mais de 30 restaurantes em seu nome, bem como planos ambiciosos de expansão futura em Londres, Paris e possivelmente noutros lugares, a Black Sheep Restaurants tem dimensão e recursos suficientes para oferecer aos funcionários este benefício muito especial.

Gurung gere operações no restaurante La Vache de Hong Kong.
Cortesia: Noah Fecks / Black Sheep Restaurants

Uma vez que as cadeias de restaurantes costumam ser vistas como as más da fita, Hussain espera que este programa seja visto com uma combinação saudável de otimismo e ceticismo.

“As cadeias de restaurantes são conhecidas por não darem valor aos funcionários, aos clientes e aos fornecedores”, afirma. "Portanto, é muito importante para nós continuarmos a ser o tipo de grupo que dá valor ou que deixa algo na mesa para os outros."

Quanto aos funcionários que se possam tentar aproveitar do programa?

"As minhas instruções à equipa de liderança são para não vigiarem isto estritamente. Vamos levar as pessoas a casa. Seria horrível se envolvesse a verificação de documentos. Não queremos ser draconianos quanto à implementação, porque então perde peso e valor. Se alguém quiser ir à praia é porque deve estar a precisar!"

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