Marítimo-Boavista, 1-1 (crónica)

31 mar 2001, 20:33

Um líder sem carisma de campeão Ainda não foi desta que o Boavista quebrou o enguiço, prolongando para 13 os anos que não ganha na Madeira. E também pouco fez para ganhar: fez um jogo sem chama e sem qualquer capacidade de estímulo. O Marítimo, alheado dos excessos dos seus adeptos, foi acreditando que era possível evitar a derrota e merece elogios pelo último quarto de hora que fez

Emoção sim, qualidade não. O Marítimo-Boavista despertou grandes expectativas, prometia aquecer depois da polémica que se instalou no rescaldo do encontro de há dez dias para a Taça, mas a verdade é que o único lado que se confirmou foi mesmo esse: o da polémica. De espectáculo, quase nada. O jogo foi confuso, grande parte do encontro foi desinteressante, e só mesmo os últimos 15 minutos merecem elogios, pela forma como o Marítimo soube repor um resultado que, sentia-se, estava a ser tremendamente injusto.

Vamos lá ver: se acharmos que «interesse» significa nervos, ânimos exaltados, excessos de parte a parte, então sim o jogo pode acolher o rótulo. Mas, lamento dizer, aquilo que de principal se tira é uma enorme sensação de frustração. A principal delas tem a ver com o facto de o Boavista, como equipa que lidera isolada a I Liga, ter feito um jogo todo ele desgarrado, sem chama, sobretudo sem qualquer capacidade de estímulo. Mal vai o campeonato português quando a formação que vai à frente, e com sérias hipóteses de vir a conseguir o feito inédito de ser campeã, joga de uma forma tão mediana.  

Mas não é só o Boavista que merece ser criticado. Os adeptos do Marítimo também. Já se previa que algo de parecido poderia acontecer, a animosidade gerada pelas declarações de Jaime Pacheco após o jogo da Taça fez supor uma retaliação madeirense, mas por muita razão que pudessem ter os simpatizantes do Marítimo, ela perdeu-se por completo com o comportamento que mostraram esta tarde. Vaias monumentais aos jogadores do Boavista e, em especial, ao treinador e ao presidente, e atitudes altamente reprováveis, como atirar para o banco do Boavista garrafas de água, pacotes de bolachas e copos de coca-cola, que só não feriram alguém por mera sorte e casualidade. 

E foi sob estes dois aspectos fortemente negativos que incidiu o encontro desta tarde. Pacheco foi audaz, ao lançar algumas surpresas no onze. Quevedo voltou à titularidade, em sacrifício de Erivan, mas esteve muito longe da máquina que costuma ser; Jorge Couto reapareceu no onze e deu mais frutos que a aposta no francês, porque foi decisivo no golo marcado pelo Boavista. 

Nelo Vingada conservou o seu esquema habitual (4x1x3x2), mas modificou por completo a composição dessa esquema. No Bessa, optou por dois criativos soltos (Porfírio e Bakero), na Madeira fez jogar dois pontas-de-lança (Sumudica e Ronaldo), recuando Bakero para o meio-campo. Teoricamente, esta estrutura daria uma maior profundidade ao ataque do Marítimo, mas rapidamente se percebeu que os madeirenses tinham no sector ofensivo a sua grande pecha. A equipa trocava bem a bola, a defesa não sofria grandes ameaças, mas a ineficácia dos dois avançados era de preocupar. 

Dois momentos cruciais 

O jogo conta-se em poucas frases. A primeira parte, então, merece apenas um adjectivo: dispensável. Futebol confuso, ninguém se destacava, o cariz do encontro não dava para ficar definido. O empate era, por defeito (e que defeito...), a súmula correcta dessa realidade, até que um lance aparentemente acessório ganhou contornos decisivos para este encontro. Albertino parecia ter a bola controlada, podia ter lateralizado, mas decidiu atrasar. O cálculo saiu falhado e Jorge Couto, veloz e oportuno, serviu Sanchez com eficácia. O Boavista pôs-se em vantagem a segundos do final da primeira parte, sem ter feito quase nada por isso. 

Se até então o jogo boavisteiro era pobre e calculista, previa-se que na segunda parte Pacheco ordenasse ainda mais contenção aos seus pupilos. A vantagem era reduzida, mas preciosa. É que se o Boavista vencesse na Madeira, além de quebrar um enguiço (que perdura) de 13 anos, ficaria, aí sim, muitíssimo bem lançado na luta pelo título.  

Mas a verdade é que o Boavista pouco fez por merecer tamanho brinde. Tentou aguentar essa vantagem na segunda parte, mas não soube como. E a partir de meados da metade complementar, o Marítimo acreditou, cada vez mais, que seria capaz de evitar a derrota. Para que tal viesse a concretizar-se, ocorreu, então, o segundo momento crucial do jogo. Nelo Vingada decide mudar tudo no ataque, tirando Ronaldo e Sumudica, em favor de Musa Shannon e Quim. O Marítimo ganhou agressividade e dinamismo, chegando ao empate com naturalidade. 

Só aí, o Boavista reagiu. Sanchez mandou um tiro à barra. Um aviso que surgiu tarde de mais. Nem no ano em que pode muito bem vir a entrar para a história, o Boavista venceu na Madeira. O enguiço vem de 1987/88. Passo atrás na luta pelo título? A questão não está neste resultado. O que não bate muito certo é que uma equipa que joga como o Boavista jogou esta tarde possa chegar ao final em primeiro lugar. A continuar assim, talvez não chegue lá...

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