V. Setúbal-Naval, 2-1 (crónica)

27 mai 2001, 22:25

Subida à I Liga alcançada nos descontos

Falta um minuto para terminar o período de descontos concedido pelo árbitro quando a festa toma forma. O extremo Marco Ferreira, um dos mais inconformados durante toda a partida, é solicitado na direita, dribla em corrida um adversário e serve Meyong na pequena área. O camaronês não falha e faz transbordar de emoção o Estádio do Bonfim, repleto de adeptos do Vitória de Setúbal. 

É impossível conter tamanha euforia nas bancadas. Após o golo, os adeptos saltam as vedações do Estádio do Bonfim e invadem o campo. Mas ainda falta um minuto para terminar a partida. Com o auxílio de jogadores, técnicos e dirigentes, a polícia consegue controlar a situação, mantendo os adeptos fora das quatro linhas. 

Este minuto de euforia é vivido com milhares de associados e adeptos na pista de atletismo que circunda o terreno de jogo. Ao apito final, entram todos no relvado e começa um autêntico assalto aos atletas. A maioria dos futebolistas sadinos sai em cuecas do rectângulo da glória. 

Optimismo moderado antes do encontro 

Duas horas antes do grande momento, o optimismo era moderado. Os adeptos do Vitória responderam à chamada e vestiram o Estádio do Bonfim de verde e branco. Depois de todas as bancadas estarem completamente repletas e de o jogo ter começado, houve necessidade de abrir os portões da bancada do peão, tal era a quantidade de pessoas que ainda estava à porta para assistir à partida. 

É importante salientar o papel da «speaker» antes do início do jogo e no intervalo. A senhora esteve verdadeiramente imparável na função de incentivar e animar os cerca de 30 mil adeptos presentes. No momento da invasão, a instalação sonora teve um papel preponderante no controlo dos adeptos. 

Quanto ao jogo dentro das quatro linhas, importa referir a influência dos associados junto da equipa. Os pupilos de Jorge Jesus - à imagem de um técnico irrequieto e que não escondia a ansiedade - entraram com os nervos à flor da pele. Esse condicionalismo provocou uma primeira parte incaracterística, com muitos passes longos e sem nexo e um natural 0-0 ao intervalo. 

O segundo tempo mostrou um V. Setúbal mais pressionante, mais balanceado para o ataque. Quando passavam cinco minutos do reinício da partida, surgiu o primeiro momento empolgante. José Dinis colocou em campo Oliveira. Este, na primeira vez em que tocou na bola, serviu o brasileiro Wender. O avançado causou um autêntico momento de desmoralização no estádio ao inaugurar o marcador. 

O início da glória 

A esperança renasceu um minuto depois. Marco Ferreira entrou pela direita, fintou um adversário e já dentro da área foi derrubado por Sérgio Lavos. O árbitro António Costa assinalou grande penalidade. Fernando Mendes converteu e fez renascer o orgulho vitoriano. 

Daí até final da partida o jogo só teve um destino: a baliza de Yannick. O Vitória pressionava, pressionava, mas não alcançava o tento da tranquilidade.  

A dez minutos do final, o coração do setubalenses quase parou. Sandro recuperou a bola no círculo central, partiu para a área, driblou um adversário e serviu «de bandeja» Maki, que se encontrava sozinho na zona da grande penalidade. O atacante nigeriano, perante tamanha oferta, rematou metade na bola metade na relva. Saiu ao lado. Em cima dos 90 minutos, nova iminência de «ataque cardíaco»: uma jogada de entendimento entre Artur Jorge Vicente e Fernando Mendes culminou com um remate à barra do avançado cabo-verdiano. 

Finalmente - quantos ainda acreditariam? - o Bonfim soltou a tensão acumulada numa semana de sonhos. O silêncio, potenciado pelo golo que dava a vitória ao Maia em Espinho, já «pesava» nas bancadas quando Marco Ferreira teve aquela arrancada e serviu Meyong. 

Seguiu-se a festa, que continuou na cidade setubalense, com os jogadores a serem homenageados com uma volta pelo município num autocarro descapotável. O clube sadino alugou ainda um segundo autocarro para o Oitavo Exército, claque vitoriana. Atrás destes dois veículos seguiram muitos mais, que festejaram pela cidade a subida ao escalão máximo do futebol português.

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