Sporting-Farense, 1-0 (crónica)

17 fev 2002, 20:31

Serviço mínimo, liderança recuperada Os leões voltam sem brilho à liderança. Sem Jardel e Pedro Barbosa, abdicaram da magia e optaram por um pragmatismo «à Boavista». Resultou.

E pronto. O Sporting venceu o Farense por 1-0, este domingo, em Alvalade, e volta ao comando do campeonato da I Liga. É apenas isso, contudo, que os leões levam de bom desta tarde/noite que começou amena e terminou fria, em todos os sentidos. A justiça dos três pontos é inquestionável, mas a magia ficou fora de jogo - talvez nos bolsos de Jardel e Pedro Barbosa - e veio à tona um «novo» Sporting, espécie de adaptação contra-natura da garra e do pragmatismo do... Boavista, precisamente a equipa que por agora luta ombro a ombro com os leões pelo primeiro lugar.

Deu certo? Sim, os números não mentem. Deixem-nos, todavia, entrar pelo caminho da suposição para dizer que dificilmente teria resultado com um adversário um pouco mais atrevido e consistente, como alguns que já visitaram Alvalade este ano. Mesmo assim, mesmo com um Farense apático e demasiado preocupado consigo próprio para se poder dar ao jogo de corpo inteiro e sem complexos, podia ter acontecido uma desgraça aos leões.

Até ao apito final de Lucílio Baptista, perante o estoicismo dos sportinguistas a defender o resultado e a sua confrangedora falta de capacidade ofensiva, pairou aquele fantasma do «contra-ataque-que-de-repente-vindo-não-se-sabe-de-onde-vira-tudo-ao-contrário». Os algarvios não tiveram o golpe de asa que lhes permitisse consegui-lo (valha a verdade que tirando da equipa o melhor elemento, Everson, Jorge Castelo não ajudou) e o Sporting garantiu os pontos.

Nalitzis desencontrado

Laszlo Bölöni, é certo, tinha limitações de monta para esta partida. O super-goleador Mário Jardel estava lesionado (por que se sentou no banco, em vez de um avançado da equipa B apto a jogar?) e Pedro Barbosa e Paulo Bento castigados. Por aqui, pelo lado de Paulo, tudo ficou equilibrado com a boa exibição do homónimo Rui. No que toca a Barbosa a coisa é um pouco diferente. Rodrigo Tello foi investido do habitual papel do capitão, esforçou-se muito, acaba por não sair de campo com razões para estar triste consigo próprio, mas de facto não é Pedro Barbosa. João Pinto, remador solitário perante o desacerto - ainda por cima! - de Hugo Viana e Quaresma, foi o primeiro a sentir isso mesmo.

Depois... há todos os quilómetros que separam Nalitzis de Jardel. Além do «pormenor» dos golos - não vamos discutir isso agora, pois não? -, há algo mais que os diferencia. O brasileiro irrita muita gente que garante que ele não corre, mas sabe dominar a bola, segurá-la, dar continuidade a um ataque ou um contra-ataque. Nalitzis, pelo menos hoje, mostrou que não é capaz. Corre também ele devagar e atrapalha-se demasiado com a bola, sobretudo se ela vier de mais de uma dezena de metros e sem ser rente ao relvado. Quando partiu para o 1x1 foi presa fácil. Parecido com Niculae, como disseram que seria, só mesmo naquele golo frente ao Marítimo. Até ver ficamos assim, embora saibamos que muitas vezes as avaliações precipitadas têm de ser engolidas mais tarde. O Sporting agradecia...

Sabem por que não ficam eles em casa?

Depois de o Farense ter assustado ligeiramente na primeira parte e de João Pinto ter falhado um golo incrível, o Sporting acelerou e chegou ao intervalo com uma justa vantagem, conseguida precisamente numa «redenção» do número 25, uma vez mais o melhor elemento dos leões. Aqui - mérito a quem o tem - após precioso desvio da cabeça de Nalitzis.

A segunda parte trouxe um Sporting mais contido e os algarvios pareciam dispostos a fazer viver o jogo quando Jorge Castelo colocou em campo Komol, um avançado possante. Foi sol de pouca dura, até porque pouco depois Bölöni tirou Quaresma para mandar o regressado Hugo correr atrás dele e Castelo tirou aquele que era o mais perigoso jogador do Farense, Everson.

O público desconfiou logo da entrada de Hugo. Quaresma, mesmo a jogar mal, pode sempre arrancar um passe de mágica. E será isso, pelo menos tanto como as vitórias, que as pessoas procuram quando pagam um bilhete de futebol. Tinham razão as bancadas de Alvalade. O Sporting agarrou-se ao 1-0 com unhas e dentes, percebeu que o Farense só por milagre faria mossa e entregou-se a um jogo pastoso e feio. A saída de João Pinto foi a prova-provada desta ideia e nos minutos finais ficou ainda mais à vista o desacerto ofensivo do novo líder do campeonato.

Se calhar todo o campeão ou candidato a campeão tem um ou outro jogo destes numa época. Talvez. A bem do espectáculo e do lema «Só eu sei por que não fico em casa», que os adeptos do Sporting celebrizaram este ano e a SAD aproveitou como chamariz, convém que seja mesmo um ou outro. Se possível este, pronto, não se fala mais nisso

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