Borussia Dortmund-Boavista, 2-1 (crónica)

16 out 2001, 22:53

Não deviam ter descansado! O intervalo parou um Boavista quase perfeito. O pressing da primeira parte tinha sido exemplar e a vantagem dava ainda mais ânimo. Faltava meio esforço.

As primeiras conclusões até deixavam o Boavista numa situação privilegiada e aumentavam as expectativas mais optimistas. O jogo estava com os contornos típicos da filosofia axadrezada e tudo se discutia numa circunferência mínima, onde todos se acotovelavam, empurravam e derrubavavam, sem conseguir vantagem clara, sem tratar a bola com o carinho que merece e, essencialmente, sem espalhar um pouco de perigo nas proximidades das balizas. 

Pacheco esfregava as mãos e aplaudia. Também ele arregaçava as mangas e pulava, esbracejando, reclamando com o árbitro, mostrando a quem duvidasse que o Boavista só cederia com argumentos fortíssimos. Frechaut estava mais pressionante que nunca e fazia as vezes de Petit, num meio-campo onde Bosingwa também era novidade. Paulo Turra e Pedro Emanuel, no músculo, muitas vezes com os dentes cerrados e os pitons das chuteiras às claras, protegiam Ricardo e apertavam o círculo de onde só Rosicky parecia ter arte para sair. 

Estava perfeito. O Dortmund raramente criava perigo, o Boavista mantinha o contra-ataque armado, pronto a disparar com um simples clique que um passe longo de Sanchez se encarregaria de produzir. Só Koller, com má pontaria, e Márcio, quem sabe se ofuscado pelo tom berrante da camisola de Lehman, tinham surgido em posição de remate e não tinham conseguido desfazer o equilíbrio. O braço-de-ferro tremia, balançava, mas não tombava para nenhum dos lados. Era preciso um excesso, uma loucura servida por uma energia até então desconhecida. Alexandre Goulart resolvia queimar as forças de 30 minutos num único instante e rematava com uma pontaria impressionante. Quase do nada fazia-se um grande golo. 

O Westfalen Stadium quis aplaudir, mas ficou-se pelo silêncio. A sua equipa merecia o benefício da dúvida, mesmo que os minutos seguintes à vantagem axadrezada mostrassem um Dortmund acabrunhado, perdido nos próprios medos e indeciso entre a ponderação e o ataque desmedido. O Boavista dominava agora ainda melhor e acreditava que podia regressar ao Porto com a história na bagagem. Todos os indícios apontavam nesse sentido. 

Pressing ficou no balneário 

Mattias Sammer terminava a primeira parte de rascunho na mão, procurando falhas, inventando um novo posicionamento capaz de inverter a tendência. Lembrava-se, a meio do percurso até ao balneário, de mandar Stevic colocar-se uns metros mais à frente, deixando Reuter sozinho na missão de filtrar o jogo do Boavista. Só assim soltaria de vez Rosicky e aumentaria as possibilidades de êxito colectivo. 

A opção estava certa, mas dificilmente teria tido o sucesso necessário sem a colaboração axadrezada. Os portugueses demoraram mais que o aceitável a perceber a manha e deixaram que o novo encaixe das peças abrandasse o pressing que até então tinha sido perfeito. Os alemães já não sentiam os calcanhares perseguidos com sofreguidão e podiam finalmente pensar, por isso bastaram apenas quatro minutos para surgir o empate. Ricken, numa rara aventura pelo centro do terreno, surgia na cara de Ricardo e marcava com facilidade, rindo de Erivan, que, do outro lado, legalizava a sua posição. 

O estádio fez-se sentir pela primeira vez. O ambiente estava finalmente incendiado e suspeitava-se que o Boavista podia ceder, mesmo que Ricardo, com duas defesas fantásticas quase consecutivas, tentasse acordar os colegas de uma estranha apatia. O Dortmund aproximava-se finalmente daquilo que tinha por obrigação e apertava. Rosicky acumulava pequenas maravilhas e deixava Ricken com a missão de confirmar o inevitável, mas Turra, no limite, cancelava a festa por minutos. Seria apenas uma questão de tempo. 

Koller decide e Silva quase empata 

Chegava o fim antecipado. Koller, o gigante com quem os centrais do Boavista tão bem tinham lidado, combinava um esquema imperceptível com o companheiro checo e garantia os três pontos. Pedro Emanuel tinha deixado a sua companhia para ir dobrar Erivan e o gesto estava facilitado. Ricardo ainda voou, mas o golo era inevitável. 

Pacheco, desesperado, incapaz de perceber como estava a perder uma partida que estivera tão bem dominada, apostava em Silva e tentava que a pistola do brasileiro voltasse a fazer das suas. O avançado ainda entrou a tempo de cabecear com muito perigo, num cruzamento largo de Rui Óscar, mas Lehmann, que descansara durante toda a segunda parte, foi capaz de evitar mais um empate. Depois foi só esperar que Stefano Braschi pegasse na bola e apontasse a direcção do túnel. O Boavista perdia pela primeira vez na Liga dos Campeões.

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