Salgueiros-Sp. Braga, 1-0 (crónica)

16 set 2001, 23:38

O golo que o jogo não mereceu O jogo foi demasiado pobre para merecer um golo que fosse. Num ataque súbito de pragmatismo, João Pedro serviu-o na cabeça de Basílio.

A triste história recente do Salgueiros, que não fizera outra coisa se não perder, não inspirava nada de bom. Adivinhava, quando muito, um projecto de boas intenções, que se distinguia antes mesmo de o árbitro autorizar o primeiro pontapé, no esforço renovado de Vítor Manuel para reformular a equipa e atribuir algum sentido ao termo. 

A revisão e substituição de peças produziram efeitos imediatos, mas pouco profundos, insuficientes para contrariar a evidência de uma equipa que desespera pela falta de talento e excessivamente dependente dos humores de João Pedro. Mais grave ainda, voltava a faltar-lhe, mesmo depois dos retoques, capacidade criadora, porque Masi, revelador de uma inconveniente atração pela linha lateral, renunciava à organização. 

Ataque instintivo 

Com Zé Roberto atado na marcação de Rui Ferreira, o ataque acéfalo do Salgueiros movia-se na restrita obediência aos gestos mais básicos, a um instinto que impunha o avanço e o risco. Ao primeiro toque, quase sempre, mas no método mais previsível e de simples anulação: o aéreo, que, mais do que facilitar a adivinhação do adversário, tornava o jogo repelente, assustadoramente feio e propenso à falta. 

Desinteressante, horrendo, o jogo conquistava entusiasmo súbito num ressalto inesperado, num desequilíbrio impensado ou num lapso absurdo, mesmo porque qualquer ensaio de criação parecia condenado ao fracasso pelos pés do próprio criador. Sobravam, pois, as laterais, espécies atapetadas de pistas de cem metros, onde defesas e extremos eram convidados a acelerar irreflectidamente. No meio, onde não havia virtude, disputava-se, sem arte, a posse de um pequeno pedaço cilíndrico de couro, várias vezes vítima de maus tratos. 

Braga e Salgueiros equiparavam-se na mediocridade, reservando a exclusividade do brilho para os dois guarda-redes, os melhores em campo e os menos (ou nada) responsáveis pela pobreza do triste espectáculo. Entre os restantes intérpretes, as razões do desempenho deveriam ser maioritariamente apuradas na facção de Braga, por mais dotada e artística. Ao Salgueiros e, por tabela, a Vítor Manuel não se pode exigir muito mais. 

Dupla desvantagem 

Só na expulsão de Odaír, Cajuda e o Braga se aperceberam do castigo por terem ousado tão pouco enquanto puderam e deviam. Depois, pareceu demasiado tarde e nenhuma rectificação estratégica disfarçaria a inibição de jogar em desvantagem numérica a segunda parte inteira e, nos últimos instantes, com a agravante de correr atrás de uma desvantagem no marcador. Perfeitamente evitável, admitirá Cajuda. 

O golo, que o jogo não mereceu, nasceu no fim ou a dois minutos dele. Obra repentina de João Pedro, que o serviu na cabeça de Basílio, talvez no único cruzamento perfeito de uma hora e meia de ensaios. Quim, que, como Rui Correia, defendera tudo até então, não pôde fazer mais do que confirmar a trajectória da bola e lamentar, naquela breve fracção de segundo em que o olhar se revelou impotente para desviar a bola, o posicionamento da sua defesa. Ou, sabe-se lá, a expulsão de Odaír... 

António Costa esteve bem, sem erros de monta, criterioso na aplicação da disciplina e rigoroso seguidor dos livros, quando, justificadamente, exibiu o cartão vermelho a Odaír, depois de o brasileiro ter agarrado João Pedro pelo ombro direito, desarmando-o depois e impedindo-o antes de resolver o lance em privado, com Quim.

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