Moreirense-Benfica, 1-4 (crónica)

4 out 2003, 23:47

Não há fome que não dê em fartura Primeira vitória encarnada fora de casa e primeiros golos fora de Lisboa. O Benfica acorda.

Não há fome que não dê em fartura. Pode parecer impossível, mas era verdade: o Benfica ainda não tinha vencido fora de casa neste início de campeonato, nem sequer marcado qualquer golo longe do seu habitat natural. Fez um desvio na caminhada pelo deserto e conseguiu pisar os tão desejados terrenos de floresta verde como bem precisa uma equipa que luta pelo título de campeã nacional. É um triunfo inequívoco perante um adversário que apenas foi adversário - em função daquilo que representa a palavra adversário - a espaços e apenas na segunda parte, quando já estava a perder por dois golos.

O triunfo dos encarnados tem um duplo sentido. Para além dos três pontos conquistados, que bem podem tranquilizar uma formação que nem sempre tem sido fria perante determinados opositores, revelou ainda que a alegada Tiagodependência é um tema que não é mais do que uma questão vã. O meio-campo não teve, provavelmente, a mesma capacidade de resposta do ponto de vista ofensivo, mas foi aí onde a equipa de Camacho ditou leis e começou a ganhar o duelo perante uma nova dupla que bem pode ser solução no futuro: Andersson substituiu bem Tiago, foi uma unidade em evidência, se bem que tenha baixado muito de produção no segundo tempo; Petit voltou a ser o pitbull do costume na noite em que o 4x4x2 foi opção do treinador.

Os números do triunfo (4-1) falam por si, mas o Benfica teve do seu lado um ambiente extremamente favorável para conseguir um resultado expressivo e uma vitória saborosa: aos 25 minutos já ganhava, por golo de Simão; aos 40m ficava em vantagem numérica, depois de Vítor Pereira ter recebido ordem de expulsão; aos 45m, pouco tempo antes do intervalo, Feher dilatava a vantagem e cortava as aspirações dos cónegos. Mesmo assim, com tantas benesses e pontos favoráveis, este conjunto voltou a não ter a frieza total para trocar a bola a seu bel-prazer durante o segundo tempo como impõe o bom-senso do futebol: gerir a vantagem e levar o adversário ao desespero. Isto nem sempre foi conseguido e a prova disso é a exibição de Moreira, um guarda-redes sempre com o alerta no vermelho e a travar os melhores ataques contrários.

Expulsão de Vítor Pereira

Esta foi a noite negra do Moreirense. A equipa de Moreira de Cónegos jogou em Braga, em casa emprestada para ter uma receita de bilheteira bem acima do normal, mas a mudança de recinto poderá ter dado azar - esta é a única explicação possível para aquilo que se passou dentro das quatro linhas, poucas semanas depois dos minhotos terem dado um banho de bola ao poderoso Sporting. O esquema de três centrais - Ricardo Fernandes, Sérgio Lomba e Nuno Mendes - não resultou assim como o excessivo povoamento da zona do meio-campo, onde os médios não conseguiam construir jogadas para um ataque composto por três homens.

Perante tantas dificuldades - e até por causa forma equilibrada como o Benfica trocava a bola -, o Moreirense vê-se a perder bem cedo (25m), num golo que tirou a respiração à equipa, destroçou-a, deixando-a sem poder de resposta para chegar, pelo menos, ao empate. Se a turbulência era a palavra de ordem, a desgraça é o vocábulo que melhor encaixa num quadro, já por si, excessivamente negro. A perder, a equipa de Manuel Machado fica reduzida a dez elementos, por expulsão justa de Vítor Pereira, o que funcionou como um forte tónico para os encarnados, que ganharam mais confiança e chegaram ao intervalo a vencer por 2-0. Do outro lado, o adversário gemia como um cachorrinho.

A tremedeira do costume

Se os primeiros minutos da primeira parte revelavam um jogo cinzento, o início do segundo tempo foi bem diferente. O Moreirense esteve mais animado, procurou agitar, mas o Benfica depressa alcançou o terceiro golo na sequência de uma grande penalidade (bem assinalada, aliás) marcada por Simão (55m). A ganhar por três golos, os encarnados não tiveram aquilo que Camacho tanto aprecia: frieza para trocar a bola, disposição para gerir o resultado de forma serena, acutilância defensiva. Houve algumas tremedeiras, ou melhor, verificou-se o velho erro de entregar a iniciativa ao adversário, que só marcou um golo, é certo, mas podia ter marcado mais se Moreira não assinasse uma exibição extremamente segura.

O Moreirense ainda reduziu para 3-1, mas a expulsão de Armando, dez minutos depois de Manoel ter conseguido a proeza de fazer as redes abanar, deitou tudo a perder. Apenas com nove elementos em campo seria impossível conseguir, pelo menos, arreliar a baliza contrária, o que realmente não aconteceu nos últimos minutos do desafio. Na história deste jogo há ainda um grande golo de Roger, já nos descontos, assim como a actuação do árbitro João Ferreira. Por aquilo que se viu - e foi um desafio com casos - esteve em bom plano.

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