A diferença de desempenho dos preços da gasolina e do gasóleo deve-se ao fim da 'driving season' e ao funcionamento deficitário do aparelho europeu de refinação de gasóleo que vinha sobretudo da Rússia
O gasóleo subiu seis cêntimos por litro esta semana, mas a gasolina apenas meio cêntimo. O que explica a diferença? O fim da driving season nos Estados Unidos, explicou ao ECO fonte do setor. Além disso, o aparelho europeu de refinação de gasóleo é deficitário e isso aumenta a pressão sobre os preços.
O fim do período de férias nos Estados Unidos, das viagens de carro e o regresso ao trabalho retira a pressão do preço da gasolina. “A gasolina sobe sempre mais do que o gasóleo no final da primavera e depois alivia por volta do Labor Day, que nos Estados Unidos marca o regresso ao trabalho e é a seguir ao primeiro fim de semana de setembro“, explica ao ECO fonte do setor.
Mas se o “consumo da gasolina tem uma certa sazonalidade, com maior consumo no verão, com o turismo e as viagens, o que não acontece com o gasóleo”, corrobora António Comprido. O secretário-geral da Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (Apetro) acrescenta ainda que a pesar sobre os preços do gasóleo, e que justificam a diferença de desempenho entre os dois combustíveis, está o “funcionamento deficitário do aparelho europeu de refinação de gasóleo que vinha sobretudo da Rússia” e que, com as sanções impostas na sequência da guerra na Ucrânia, aumentou o problema e forçou os países europeus a importarem de outras paragens.
“Enquanto o aparelho europeu de refinação de gasóleo é deficitário o de gasolina é excedentário”, precisa António Comprido. Situação diferente da registada em Portugal, que depois do último upgrade, passou a ser autossuficiente em termos de refinação de gasóleo, assim como da gasolina”, sublinha secretário-geral da Apetro. Claro que o encerramento da refinaria de Matosinhos criou algumas dificuldades, porque deixaram de ser produzidos alguns produtos intermédios como o VGO. O vácuo é uma das componentes utilizadas no fabrico de gasóleo, para o tornar mais leve já que este hidrocarboneto tem mais hidrogénio e menos carbono. Ora, a Rússia é responsável por metade da produção mundial deste produto e, perante a suspensão dos fornecimentos russos, houve uma escassez no mercado e foi necessário encontrar alternativas. “Estes produtos nunca faltam, é sempre uma questão de preço”, explicou fonte do mercado. Um preço que depois é repercutido no consumidor final.
Apesar de Portugal ser autossuficiente em termos de refinação, como os preços são definidos internacionalmente, os consumidores nacionais acabam por não beneficiar desse facto, explicou António Comprido.
E a componente internacional é altamente penalizadora dos preços. O Brent, que serve de benchmark para os mercados europeus, esta segunda-feira vai a caminho dos 95 dólares, a subir 0,42%, devido à escassez da oferta, depois da decisão da OPEP + em cortar a produção, mas também ao efeito cambial porque o euro tem vindo a perder terreno face ao dólar e como o petróleo é transacionado em dólares isso penaliza o mercado europeu. “Tal como sublinha o último relatório da Agência Internacional de Energia, estamos perante um corte de produção e um aumento do consumo, sendo que se espera que que o consumo mundial de petróleo bata, este ano, o recorde de sempre”, recorda António Comprido, justificando assim que o barril de crude esteja a transacionar nos 94 dólares.
Comparativamente, a progressão do preço o do gasóleo é mais elevada do que a do próprio crude porque a nível mundial as refinarias estão a ser pressionadas a produzir outros produtos como jet fuel e durante o verão muitas tiveram de abrandar a produção devido ao calor abrasador que se fez sentir no hemisfério norte. Além disso, muitas das refinarias menos eficientes acabaram por encerrar durante a pandemia e agora que a procura está a recuperar não existe capacidade instalada para a satisfazer.
“A gasolina e o gasóleo são produtos independentes com uma lei da oferta e procura diferente. Agora o desequilíbrio é maior no gasóleo”, conclui António Comprido, acrescentando que “os produtos refinados mais caros fazem com que a matéria final seja também mais caro, em particular no jet fuel, usado na aviação, e no gasóleo”. Além disso, com o aproximar do inverno também aumenta a pressão sobre o preço do gasóleo, muito usado nos países europeus para aquecimento.