Na segunda noite, os protestos espalharam-se por várias cidades, com os jovens que criticam a violência policial a incendiar carros e bloquear estradas. Dois mil polícias de choque foram mobilizados na região de Paris. O presidente francês considerou a morte do jovem de 17 anos "inexplicável e imperdoável"
O presidente francês, Emmanuel Macron, convocou uma unidade de crise interministerial, após mais uma noite e madrugada marcadas pela violência, em resposta à morte de um adolescente pela polícia. Referindo-se aos distúrbios, Macron, considerou "injustificáveis" as "cenas de violência" contra as "instituições da República" e desejou que "as próximas horas" fossem de "meditação e respeito".
Já tinha havido confrontos na noite anterior e, embora a noite de quarta-feira tenha começado calmamente, a agitação eclodiu em várias cidades francesas, incluindo Toulouse, Dijon e Lyon, e depois também na região de Paris, onde cerca de dois mil polícias de choque foram mobilizados.
"Uma noite de violência intolerável contra os símbolos da República: câmaras municipais, escolas e esquadras de polícia incendiadas ou atacadas", escreveu esta manhã o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, na sua conta na rede social Twitter. Darmain expressou apoio à polícia, mas acrescentou, numa crítica à extrema-esquerda: "Que vergonha para aqueles que não pediram calma."
Une nuit de violences insupportables contre des symboles de la République : mairies, écoles et commissariats incendiés ou attaqués. 150 interpellations. Soutien aux policiers, gendarmes et sapeurs-pompiers qui font face avec courage. Honte à ceux qui n’ont pas appelé au calme.
— Gérald DARMANIN (@GDarmanin) June 29, 2023
Ao final da noite, tinham sido detidas 180 pessoas e tinham ficados feridos 170 polícias e militares.
Na região de Nanterre, manifestantes mascarados e vestidos de preto lançaram material pirotécnico contra as forças de segurança, relata a AFP. Mais de uma dúzia de carros e caixotes do lixo foram incendiados e barreiras bloquearam as estradas. Nas paredes, foram escritas acusações: "Justiça para Nahel" e "Polícias matam". Quando a polícia disparou balas de borracha para tentar dispersar, os manifestantes responderam atirando garrafas.
"Estamos cansados de ser tratados assim. Fazemos isto por Nahel, nós somos Nahel", disseram dois jovens que se autodenominam "Vingadores".
Na região de Essonne, a sul da capital, um grupo incendiou um autocarro depois de forçar todos os passageiros a sair, disse a polícia, enquanto em Clamart um elétrico foi incendiado. Na cidade de Toulouse, no sul do país, vários carros foram incendiados e polícias e bombeiros foram alvejados com projéteis, disse uma fonte policial. As autoridades relataram cenas semelhantes em Dijon e Lyon. No segundo maior complexo prisional da França, Fresnes, os manifestantes atacaram a segurança na entrada.
Nahel M., 17 anos, foi baleado no peito à queima-roupa na manhã de terça-feira num incidente que reacendeu o debate em França sobre táticas policiais há muito criticadas por grupos de direitos humanos sobre o tratamento de pessoas nos bairros sociais, particularmente aqueles onde residem minorias étnicas.
Na quarta-feira, após a primeira noite de incidentes violentos, concentrados principalmente em Nanterre e noutras zonas suburbanas de Paris, o presidente francês, Emmanuel Macron, e vários membros do seu gabinete apelaram à calma e expressaram solidariedade para com a família de Nael. "Um adolescente foi morto. Isso é inexplicável e imperdoável", disse o presidente Macron, em visita a Marselha.
Nous partageons l'émotion et la peine de la famille et des proches du jeune Naël. Je veux leur dire notre solidarité et l'affection de la Nation.
La Justice a été immédiatement saisie.…
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) June 28, 2023
A Câmara de Nanterre pediu o fim da "espiral destrutiva". Mas a líder de extrema-direita, Marine Le Pen, disse que o agente tinha direito à "presunção de inocência".
A mãe do adolescente convocou uma marcha para a tarde desta quinta-feira no subúrbio parisiense de Nanterre, onde ele foi morto, em homenagem ao seu único filho.