Da "Barbie" ao "Mistério do Colar de São Cajó": estes foram os filmes mais vistos em 2023

30 dez 2023, 15:00
Margot Robbie no filme "Barbie" (DR)

O fenómeno "Barbenheimer" levou mais gente aos cinemas este ano, mas mesmo assim ainda longe dos números pré-pandemia. Filmes de animação e super-heróis dominam o box-office internacional, enquanto em Portugal são as comédias que têm mais espectadores

Quando era pequena, Greta Gerwig queria muito ter uma Barbie, mas a sua mãe temia que a boneca reforçasse os estereótipos femininos. “A minha mãe não gostava muito da Barbie”, contou Gerwig numa entrevista à BBC Radio 4. “Certas mães diziam: ‘Não sei se isso é um bom exemplo de feminilidade’, o tipo de corpo e tudo mais. Mas eu recebia roupas e brinquedos em segunda mão de raparigas da vizinhança e, por isso, acabei por ter muitas bonecas pré-amadas. Até que uma vez, no Natal, a minha mãe deu-me uma boneca, uma boneca de verdade, numa caixa. Ela cedeu e eu... destruí-a [a Barbie]", contou a atriz e realizadora. Terá começado aqui a sua relação de amor-ódio com a figura da Barbie. 

Greta Gerwig realizou e coescreveu com seu parceiro, Noah Baumbach, o filme que foi o maior êxito de bilheteiras do ano 2023. E que - o que nem sempre acontece - é também um dos grandes candidatos aos prémios do ano no cinema. Embora ainda não sejam conhecidas as nomeações para os Óscares, já sabemos que "Barbie" é o filme mais nomeado (nove indicações) para os Globos de Ouro, que serão entregues a 7 de janeiro. Além disso, Greta Gerwig será a presidente do júri do 77º Festival de Cinema de Cannes no próximo ano.

De acordo com os dados de box-office da Mojo, o filme protagonizado por Margot Robbie e Ryan Gosling conseguiu mais de 1.400 milhões de dólares de receitas de bilheteira em todo o mundo - o que o torna, também, o filme realizado ou corealizado por uma mulher mais bem posicionado de sempre no box-office. "Barbie" conseguiu destronar os filmes de animação e de super-heróis, que são habitualmente os campeões de bilheteira. Em Portugal, também houve salas cheias de espectadores vestidos de cor-de-rosa para ver a crise existencial da boneca mais famosa do mundo: "Barbie" foi visto por mais de 893 mil pessoas, segundo os dados do ICA até 27 de dezembro.

O filme foi lançado em julho, no mesmo dia que "Oppenheimer", de Christopher Nolan, produzindo o fenómeno improvável de haver algumas pessoas que assistiram aos dois filmes no mesmo dia: o verdadeiro "Barbenheimer". Há muito tempo que não se viam tantas filas nas salas de cinema. De acordo com as estatísticas do ICA - Instituto do Cinema e Audiovisual, os cinemas portugueses tiveram, até novembro deste ano, um aumento de 34,4% de audiência em relação ao mesmo período de 2022, para um total de 11,2 milhões de espectadores.

Box-Office Internacional:

1. Barbie 1,44 mil milhões de dólares
2. Super Mario Bros. O Filme 1,36 mil milhões de dólares
3. Oppenheimer 952 milhões de dólares
4. Guardiões da Galáxia Volume 3   846 milhões de dólares
5. Velocidade Furiosa X 705 milhões de dólares
6. Homem-Aranha: Através do Aranhaverso      691 milhões de dólares
7. A Pequena Sereia 580 milhões de dólares
8. Missão: Impossível - Ajuste de Contas - Parte Um 568 milhões de dólares
9. Elemental  496 milhões de dólares
10. Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania 476 milhões de dólares

No entanto, a nível mundial, filmes como "Missão: Impossível - Ajuste de Contas - Parte Um", com Tom Cruise, e "Indiana Jones e o Marcador do Destino", com Harrison Ford, ficaram muito aquém das expectativas dos estúdios.

Nos EUA, as receitas de bilheteira atingiram os 8,58 mil milhões de dólares em 2023. É o ano de maior bilheteira desde que a pandemia covid-19 abalou a indústria do cinema – muito acima de 2022 (7,46 mil milhões) e 2021 (4,56 mil milhões). Mas não recuperou para os níveis anteriores à pandemia, uma altura em que as bilheteiras nos Estados Unidos atingiam entre 10 e 11 mil milhões de dólares anualmente. Parte do problema é que os estúdios de Hollywood têm lançado cada vez menos filmes para as salas, entre outros motivos devido aos atrasos relacionados com greves, mas também devido a uma transferência do investimento para as plataformas de streaming. Apenas 88 filmes estrearam nos cinemas americanos em 2023, em comparação com 108 em 2019.

Filmes mais vistos em Portugal:

1. Barbie 893.324 espectadores
2. Velocidade Furiosa X 691.439 espectadores     
3. Oppenheimer  552.232 espectadores
4. Avatar: O Caminho da Água  466.999 espectadores
5. Super Mario Bros. O Filme 461.009 espectadores
6. Elemental  385.233 espectadores
7. A Pequena Sereia 368.070 espectadores
8. Missão: Impossível - Ajuste de Contas - Parte Um 356.214 espectadores
9. Indiana Jones e o Marcador do Destino  295.156 espectadores
10. Guardiões da Galáxia Volume 3 234.069 espectadores

Comédias são os filmes portugueses vais vistos

Claro que entre os filmes mais vistos do ano não há títulos portugueses: o filme nacional mais visto foi "Pôr do Sol: O Mistério do Colar de São Cajó" que conseguiu levar ao cinema mais de 188 mil pessoas, o que o coloca no 27º lugar da lista de filmes mais vistos em Portugal este ano. Ainda assim, este filme pode ser considerado um sucesso estrondoso se tivermos em conta que o segundo filme português neste ranking - "Um Filme do Caraças", de Hugo Diogo - não chegou sequer aos 25 mil espectadores.

"O Mistério do Colar de São Cajó" é um spin-off da série de comédia da RTP, "Pôr do Sol". "Nós fomos e continuamos a ser altamente pressionados para fazer a terceira temporada de 'Pôr de Sol", diz à CNN Portugal o realizador Manuel Pureza, garantindo, no entanto, que é altamente improvável que isso aconteça. "Já sabemos como funciona, podemos continuar com a fórmula. Mas as coisas boas também têm de ter um fim. A pior coisa que pode acontecer a um objeto de humor é deixar de ter piada, temos de saber parar antes que isso aconteça", diz.

Por isso, depois de duas temporadas de sucesso, em vez de avançar para uma terceira temporada, os criadores de "Pôr do Sol" decidiram "mudar de janela" e fazer um filme: "Pensámos que poderia ser um desafio interessante. A primeira temporada era uma decalcomania da linguagem da televisão, a segunda temporada já era uma série armada ao pingarelho. E o filme, não deixando de ser uma comédia ligeira, é uma proposta claramente diferente, um produto mais delicado. Quisemos acima de tudo que o filme não fosse um episódio especial para o cinema. Em termos de narrativa, movimentos de câmara, interpretação dos atores, tudo ali é cinema", explica Manuel Pureza. 

A verdade é que o filme repetiu nas salas de cinema o sucesso que "Pôr do Sol" já tinha alcançado na televisão. "Nós apercebemo-nos do impacto que isto tinha quando começámos a ser parados na rua com as pessoas a dizerem-nos as piadas da série", conta o realizador. "Houve expressões que passaram para o domínio público, miúdos que usam os Bourbon de Linhaça como exemplo de graça e que vestem t-shirts dos Jesus Quisto [a banda que nasceu na ficção, mas passou a fazer concertos muitos reais e esgotados]." A série foi até citada pela deputada Catarina Martins na Assembleia da República. "E outra coisa importante é que se tornou um programa agregador de pais e filhos, pôs a família reunida a ver televisão, a falar o mesmo código", diz Manuel Pureza.

Ranking de filmes portugueses:

1. Pôr do Sol: O Mistério do Colar de São Cajó    118.620  espectadores    
2. Um Filme do Caraças    24.554 espectadores
3. Mal Viver    17.448 espectadores
4. Ice Merchants         13.944 espectadores
5. Amadeo     13.491 espectadores

Quem também tem motivos para estar contente neste final de ano é João Gonzalez, o realizador da curta "Ice Merchants", que conseguiu a proeza de estar nomeada para o Óscar de Melhor Curta-Metragem de Animação. O filme de 14 minutos esteve em exibição em salas de cinema de todo o país e foi visto por quase 14 mil pessoas, sendo o quarto filme português mais visto do ano. "É uma surpresa muito grande, geralmente as curtas-metragens não têm esta visibilidade", admite o realizador à CNN Portugal. Este foi, portanto, um ano cheio de surpresas: "São coisas que ainda são difíceis de digerir", diz, "o ano começou com as nomeações os Óscares e termina com o filme a chegar à HBO, onde continua a ser visto. Além disso, ainda está a fazer o circuito dos festivais, em março será apresentado no Japão", revela. 

João Gonzalez admite que a nomeação para os Óscares teve um grande impacto na sua vida: "Sinto que se calhar vai ser mais fácil arranjar financiamento para projetos futuros. Temos mais conhecimento do mercado e penso que isso nos vai ajudar a arranjar parcerias". O realizador está já a pensar num novo filme, para o qual vai fazer uma residência artística em França.

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