Ferro Rodrigues acha que Costa foi precipitado ao demitir-se (e Marcelo ao aceitar) após a "ofensiva policial e do Ministério Público"

22 nov 2023, 14:11
Ferro Rodrigues, António Costa e Augusto Santos Silva (Lusa/ António Pedro Santos)

"Acho que foi tudo excessivamente rápido. Excessivamente rápido"

Eduardo Ferro Rodrigues diz que compreende o que Costa fez mas considera que houve "precipitação" do primeiro-ministro e de Marcelo no caso da demissão. Em entrevista ao Observador, o ex-presidente da Assembleia da República diz que, apesar de entender as razões que levaram António Costa a demitir-se - "porque não é propriamente todos os dias que acontece uma ofensiva do Ministério Público e policial sobre a residência oficial do próprio primeiro-ministro" -, “também houve alguma precipitação do Presidente da República ao ter aceitado à primeira essa decisão”.

“Compreendi mas não me parece que tenha sido uma atitude refletida. Acho que em todo este processo houve muita precipitação. (...) Do meu ponto de vista, também houve alguma precipitação por parte do Presidente da República ao aceitar à primeira essa demissão. Nós todos nos interrogamos se a informação que depois tivemos com o despacho do juiz, da instrução do juiz, que neste caso foi um juiz das liberdades e que considerou que não devia haver prisões preventivas, se as decisões teriam sido as mesmas ou não."

O ex-presidente da Assembleia da República diz ainda que Marcelo Rebelo de Sousa "podia ter aguardado por mais esclarecimentos da procuradora-geral da República e do presidente do Supremo Tribunal de Justiça", apesar de "calcular" que "a posição do primeiro-ministro também fosse irredutível".

"Mas podia ter tentado mantê-lo durante mais uns dias até que houvesse uma clarificação por parte dessas instâncias. Não o fez. Eu não conheço as circunstâncias diretas da conversa entre os dois e, portanto, não quero desenvolver muito esse tema. Acho que foi tudo excessivamente rápido. Excessivamente rápido. Compreendo quando se está debaixo de pressão, como estava o primeiro-ministro com as tais buscas ao seu gabinete e com as fugas de informação que houve sobre a questão da amizade, sobre essas buscas, que tivesse ficado com muita vontade também de rapidamente deixar à justiça o que é da justiça, mas ter-se-ia ganho em ter havido um pouco mais de revelação."

Ferro Rodrigues diz ainda que vê com "otimismo" o futuro político de António Costa porque acredita que "questão vai ser esclarecida com toda a rapidez", até porque "isto não é propriamente uma investigação qualquer". 

"Isto é uma investigação que levou à demissão de um primeiro-ministro e a uma dissolução de uma Assembleia com maioria absoluta e, portanto, aqueles que têm a responsabilidade direta por esta investigação têm a obrigação de dizer ao Presidente da República e o Presidente da República ao país o que é que se vai passar e quais são as circunstâncias além das aparências e além das fugas de informação", considera, lembrando que "acabar rapidamente com a maioria absoluta só se podia fazer com a dissolução da Assembleia da República". "E, portanto, a pressão sobre o Presidente da República foi muito grande".

Questionado se tinha tomado uma posição dentro do partido sobre as eleições internas, Ferro Rodrigues garante que a posição que tomou "foi exatamente a posição de não tomar posição" por considerar que "é muito importante para os socialistas escolherem o seu secretário-geral". "Não me quero envolver nessa luta interna. Aconteceu o mesmo em duas outras eleições internas, a eleição de José Sócrates contra Manuel Alegre e a eleição de António José Seguro contra Francisco Assis."

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