"Pior mês de sempre do SNS" foi melhor "do que se esperava" mas "prova de fogo" vai ser no próximo inverno

29 fev, 10:50
Fernando Araújo na CNN Summit

Fernando Araújo defendeu ainda as parcerias público-privadas, garantindo estar "aberto" a elas. "Uma gestão privada pode com maior facilidade captar e fazer o que não temos conseguido fazer", disse

Fernando Araújo temia “o pior mês de sempre do SNS” em novembro passado, mas o sistema atingiu “melhores resultados do que se esperava”. Já a preparar o próximo inverno, o diretor-executivo do Serviço Nacional de Saúde admite que esse será “o grande exame final” ao plano de reforma em curso.

“O próximo inverno será diferente, é a prova de fogo de que o plano resultou. Estamos a trabalhar para mudar e para ter um inverno melhor”, garantiu esta quinta-feira na CNN Summit dedicada à saúde e ao ambiente, que teve lugar no Centro Cultural de Belém.

Fernando Araújo antecipou que o SNS estará melhor do ponto de vista dos recursos nessa altura e frisou a “expectativa” de que no final deste ano se comece já a notar uma “reversão” dos problemas, que passa por uma redução dos tempos de espera. “No segundo semestre deste ano começaremos a ter resultados palpáveis, ainda que lentos”, assegurou.

Apesar de reconhecer que os utentes podem ainda não sentir na pele as melhorias, o diretor-executivo faz um balanço positivo das medidas adotadas com vista à reestruturação do SNS, como obter uma baixa médica sem se deslocar a uma unidade de saúde.

“Era uma medida reclamada há muitos anos e está a correr de forma tranquila. No ano passado quase três mil consultas foram evitadas para obter apenas um papel do médico de família”, constatou, referindo que se trata de “uma pequena questão que reduz a pressão sobre os profissionais”.

Fernando Araújo mencionou ainda o papel das unidades locais de saúde e do SNS24 no alívio da pressão das urgências. “Não é fechar a porta aos utentes, é direcioná-los para o local mais adequado”, sublinhou. Para o diretor-executivo do SNS, a medida tem sido acolhida pelos portugueses.

“As pessoas vão onde a porta está aberta. Mas em vez de se deslocarem, agora ligam e são aconselhadas a ficar em casa com autocuidados e com telefonemas de reavaliação. Os casos mais graves continuam a ser encaminhados para as urgências, mas as pessoas têm respeitado isso e as ULS facilitam esse processo”, admitiu.

Fernando Araújo reconheceu, contudo, que este modelo não vai resolver todos os problemas: “Chama-se milagreira. Os problemas não se vão resolver todos. É um meio de alterar a forma de prestar cuidados.”

Os acordos com os privados também estiveram em cima da mesa e foram defendidos pelo diretor-executivo do SNS, mas sempre de “forma transparente”. “Não tenho nada contra, pelo contrário, temos feito pontos de contacto para continuar a trabalhar de forma complementar”, disse. Os partos são uma componente em que o trabalho conjunto parece dar mais frutos.

“A alternativa mais simples para os blocos de partos de Lisboa era levar os utentes para locais mais longe e continuar no SNS, mas fizemos um acordo com os privados”, recorda. O diretor-executivo do SNS afirmou, não obstante, que o número de partos no setor público está “a crescer e sempre com qualidade”, sendo que, como explicou, apenas os partos “simples” são encaminhados para os privados.

“Quando os partos são mais complexos ou para a mulher ou para a criança são feitos no SNS”, garantiu.

Fernando Araújo mostrou-se ainda “aberto” a experiências de parcerias público-privadas. “Traz novos caminhos e todos podemos aprender, pode servir de comparação. Uma gestão privada pode com maior facilidade captar e fazer o que não temos conseguido fazer, desde que haja transparência nos processos”, admitiu, demarcando-a da gestão pública, que é “mais completa e com exigências muito mais elevadas”.