Marchesín: um 'arquero' com luvas de ginecologista (perfil)

6 ago 2019, 13:30
Marchesín doutor

Filho e neto de médicos, o guarda-redes do FC Porto tinha tudo definido para seguir Medicina. O sucesso no futebol não o deixou agarrar a herança familiar.

No Hospital Municipal Eva Perón de Benito Juárez há quem fale em milagre. Brenda Albezerrin, a mãe do pequeno Ciro, não o larga por um segundo. Não admira. O seu bebé foi dado como morto, durante 45 intermináveis minutos. E ali está, a respirar e cheio de saúde. 

Esse milagre tem mão de um santo de bata branca. Chama-se Pablo Marchesín, é médico obstetra/ginecologista e pai de Agustín, o novo guarda-redes do FC Porto. 

«Eu vi o bebé morto, desisti dele. E agora aqui está. O doutor fez um milagre e por isso o meu filho vai ter o seu nome. Vai chamar-se Ciro Pablo.»

Nesse dia 27 de junho de 2016, o pai de Agustín rouba-lhe o lugar nas manchetes dos jornais argentinos. Com desconforto. O doutor Pablo Marchesín detesta o epíteto de herói e fala apenas num «caso de raro sucesso». Honra à ciência, respeito pela fé. 

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É nesta atmosfera de estudo e investigação que Agustín Marchesín cresce. Apaixonado pelo futebol, sempre, mas destinado aos livros e à Medicina. Quis o destino, ou o talento, que o desporto o desviasse dos hospitais e consultórios. 

«O meu pai dizia-me que era médico de grávidas. É lindo aquilo que faz. Trazer um bebé ao mundo... não há igual. Por isso também eu sonhava ser médico», confessou Agustín, ao Olé, já em 2013.  

«O meu pai é um exemplo. Não só pelo que faz, mas pelo compromisso que mantém com a profissão. Há casos de sofrimento atroz e vi-o chegar a casa muitas vezes a sofrer também. Agora que penso, talvez a Medicina não fosse mesmo para mim.»

E não foi. Perdeu-se mais um doutor Marchesín, ganhou-se um guarda-redes. Mas mesmo esse parto, perdoem-nos o jogo de palavras, não foi fácil. 

«Aos 13 anos comecei a jogar futebol no Sportivo de San Cayetano. Era avançado. Vivia a 500 quilómetros de Buenos Aires e os maiores estádios pareciam-me apenas um sonho. Adorava o Batistuta e o meu único interesse era imitá-lo, fazer golos», contou o agora guarda-redes do FC Porto. 

E como é que se passa de avançado a guarda-redes? Bem, da mesma forma de sempre. «Um dia não havia ninguém para ir à baliza e lá fui eu. Tinha 14 anos e já estava no Huracán de Tres Arroyos.»

Agustín fez três anos à baliza, mas estava na hora de pousar as luvas e seguir para a universidade. «Tinha 17 anos, ia deixar o futebol para me dedicar à Medicina, mas recebi a convocatória para a seleção de Sub17, do senhor Ubaldo Fillol, e tudo mudou. A minha vida mudou.»

Mudou mesmo. O convite do Lanús apareceu pouco depois e os livros nunca mais saíram do armário. O resto da história é conhecida. Agustín fez sete anos no Lanús, aceitou a mudança para o Santos Laguna mexicano em 2014 e em 2016 foi contratado pelo enorme Club América.

E o que pensa o doutor Pablo Marchesín, médico e milagreiro, de tudo isto? O telefone do consultório toca, toca, toca, mas ninguém atende. Se estiver a salvar mais uma vida, ninguém pode levar a mal. 
 
FOTO DE CAPA: jornal Olé (créditos)

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