90 mulheres, incluindo ginastas olímpicas, processam FBI em mil milhões de euros

8 jun 2022, 23:26
Maggie Nichols, Simone Biles, McKayla Maroney, Aly Raisman e Maggie Nichols chegam ao tribunal (Saul Loeb, AP)

Em causa, alegam, a inação da polícia federal face às denúncias de abuso sexual de Larry Nassar, médico da seleção norte-americana de ginástica e na Universidade Estadual do Michigan, que foram reportadas ao FBI logo em 2015

O FBI está a ser processado em mil milhões de euros por 90 mulheres, entre as quais ginastas olímpicas norte-americanas. Em questão está a inação da polícia federal face às denúncias de abuso sexual de Larry Nassar, médico da seleção norte-americana de ginástica e na Universidade Estadual do Michigan, que foram reportadas ao FBI em 2015.

Entre as queixosas encontram-se nomes como Simone Biles, McKayla Maroney e Aly Raisman, que alegam que, mesmo depois de denunciarem o médico da equipa olímpica de ginástica, Larry Nassar continuou os abusos sexuais.

“O FBI sabia que Larry Nassar era um perigo para as crianças quando o seu abuso contra mim foi relatado pela primeira vez, em setembro de 2015. Durante 421 dias eles trabalharam com a Federação de Ginástica dos Estados Unidos e o Comité Olímpico dos Estados Unidos para esconder essa informação do público e permitiram que Nassar continuasse a abusar sexualmente de mulheres, jovens e meninas. É hora do FBI ser responsabilizado”, disse a ex-ginasta Maggie Nichol, segundo um comunicado divulgado pelos advogados que representam o grupo de mulheres.

Também McKayla Maroney, medalhista olímpica, acusou o FBI de traição. “As minhas companheiras sobreviventes e eu fomos traídas por todas as instituições que nos deveriam proteger – o Comité Olímpico, a Federação, o FBI e, agora, o Departamento de Justiça. Eu tinha esperança de que eles mantivessem a sua palavra e responsabilizassem o FBI depois de termos aberto os nossos corações ao Comité Judiciário do Senado dos EUA e imploramos por justiça. Está claro que o único caminho para a justiça e cura é através do processo legal.”

Os mil milhões de euros pedidos são justificados por uma legislação federal denominada Federal Tort Claims Act, datada de 1946, que defende que os EUA são responsáveis por lesões “causadas por ato ou omissão negligente ou culposa de qualquer funcionário do governo, enquanto estiver a agir no âmbito de seu cargo ou emprego”. 

O “ato negligente” foi confirmado por uma investigação do Departamento de Justiça, que descobriu que a equipa de ginastas entrou em contacto com o escritório de Indianápolis do FBI em julho de 2015, sendo que, por nada ter sido feito, a denúncia foi novamente feita em maio de 2016 num escritório do FBI em Los Angeles. Apesar de na segunda denúncia ter havido mais investigação, nenhuma ação foi tomada contra o médico, que só foi preso mais de um ano depois da primeira denúncia, no outono de 2016.

O mesmo relatório de investigação confirma que entre o momento da primeira denúncia e a detenção do abusador, o médico vitimou 70 mulheres e jovens.

O inspetor-geral Michael Horowitz, citado pelo Washington Post, afirma ter descoberto que “oficiais seniores do escritório do FBI em Indianápolis não responderam às alegações sobre Nassar com a seriedade e urgência que mereciam e exigiam, cometeram vários erros fundamentais na resposta e violaram várias políticas do FBI”.

Em resposta a esta situação, o FBI assumiu que a sua conduta era “indesculpável”, acrescentando que “não deveria ter acontecido”. No entanto, anunciou no final de maio que os agentes que conduziram mal a investigação não seriam responsabilizados.

Para além disso, sabe-se que o FBI demitiu um dos agentes responsáveis pela inação, em setembro, enquanto outro se reformou durante a investigação do Departamento de Justiça. Ambos mentiram aos investigadores federais acerca dos seus papéis no caso.

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