"Como em Nagasaki e Hiroshima". Representante republicano sugere uso de bombas atómicas para "acabar depressa" com Gaza

CNN Portugal , JAV
31 mar, 12:26
Tim Walberg membro republicano da Câmara dos Representantes EUA (Joshua A. Bickel/AP)

"Apelar de forma tão casual a algo que resultaria na morte de todos os humanos de Gaza envia uma mensagem arrepiante de que as vidas palestinianas não têm qualquer valor", denuncia o Conselho para as Relações Américo-Islâmicas

O republicano Tim Walberg, membro da Câmara dos Representantes norte-americana, sugeriu que, em vez de fornecer ajuda humanitária aos palestinianos da Faixa de Gaza, os Estados Unidos deveriam usar bombas atómicas contra o enclave palestiniano, como fizeram "em Nagasaki e Hiroshima".

As declarações chocantes foram gravadas num encontro recente do representante com um grupo relativamente pequeno de republicanos do seu círculo eleitoral do Michigan e estão a ser duramente criticadas pela ala política mais progressista dos EUA, bem como por organizações de defesa dos direitos humanos, que se dizem incrédulas com o facto de o ex-pastor cristão defender publicamente o genocídio da população de Gaza.

De acordo com o site Mediaite num artigo publicado no sábado, a gravação do encontro de Walberg com os seus eleitores em Dundee, no Michigan, a 25 de março foi feita por um ativista e partilhada no YouTube e noutros canais na Internet.

Na gravação, o legislador defende que os EUA não devem gastar "nem mais um cêntimo" com ajuda humanitária aos palestinianos de Gaza e que esse dinheiro deveria ser usado para apoiar Israel, que Walberg considera ser "incontestavelmente o maior aliado [dos EUA] em todo o mundo".

"Deveria ser como em Nagasaki e Hiroshima", ouve-se o republicano a dizer, numa alusão às cidades japonesas que os EUA atacaram com bombas atómicas no final da II Guerra Mundial, matando centenas de milhares de pessoas. "Acabava-se com aquilo depressa."

Com a gravação a ganhar tração nos media e nas redes sociais, o Conselho para as Relações Américo-Islâmicas (CRAI), a maior organização de defesa dos direitos da população muçulmana nos Estados Unidos, criticou o representante republicano por fazer um "claro apelo ao genocídio" dos palestinianos.

"Isto deveria ser condenado por todos os americanos que valorizam a vida humana e a lei internacional", disse o diretor-executivo do CRAI, Dawud Walid, em comunicado. "Apelar de forma tão casual a algo que resultaria na morte de todos os humanos de Gaza envia uma mensagem arrepiante de que as vidas palestinianas não têm qualquer valor."

O gabinete de Tim Walberg não respondeu aos pedidos de reação feitos pelo Guardian no sábado.

A enorme ofensiva por ar e terra lançada contra o enclave pelas forças hebraicas há quase seis meses já matou mais de 32.700 palestinianos, na sua maioria mulheres e crianças, segundo o mais recente balanço de vítimas das autoridades de saúde em Gaza. A guerra foi iniciada em resposta aos atentados do Hamas em Israel a 7 de outubro, em que cerca de 1.160 pessoas foram mortas.

Na sexta-feira, as autoridades norte-americanas reconheceram que a guerra de Israel em Gaza "provavelmente" já empurrou a população do enclave para uma grave crise de fome que tem vitimado sobretudo bebés e crianças, face ao bloqueio da entrada de ajuda humanitária por Israel.

No mesmo encontro há uma semana, Walberg também fez referência à situação na Ucrânia, defendendo que é preciso "derrotar rapidamente" o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e pôr fim à guerra que iniciou no país vizinho em fevereiro de 2022, para que os Estados Unidos possam deixar de "financiar a Ucrânia por questões humanitárias".

O legislador foi eleito pela primeira vez para a Câmara dos Representantes pelo estado do Michigan em 2007 e é recandidato a um 9.º mandato na câmara baixa do Congresso nas eleições de novembro.

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