O porta-voz da organização explicou que as carências dos palestinianos na Faixa de Gaza se relacionam com bens essenciais, como o acesso à saúde, mas, sobretudo, com a falta de comida
Passam quase seis meses desde o início das operações militares do exército de Israel em Gaza, que organizações internacionais como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch descrevem como "ataques indiscriminados" no território palestiniano.
Entre as organizações que defendem a urgência de um cessar-fogo por razões humanitárias está a UNICEF. O Fundo para a Infância da Organização das Nações Unidas fala numa situação catastrófica, particularmente difícil no caso das crianças, num território em que grande parte da população é jovem ou muito jovem.
A CNN Portugal entrevistou, por videoconferência, o porta-voz global da UNICEF, James Elder, durante uma visita de uma delegação ao território. O objetivo da deslocação dos membros da UNICEF a Gaza foi avaliar a situação de milhares de crianças.
"Um cessar-fogo é imperativo para a ajuda chegar"
James Elder começou por insistir na importância de um cessar-fogo por razões humanitárias.
"Sem um cessar-fogo, vamos assistir a horríveis mortes de mais crianças. Um cessar-fogo tem de acontecer e precisamos de mais acessos (pontos de passagem) para conseguir cada vez mais ajuda," disse Elder.
O porta-voz da UNICEF explicou que as carências dos palestinianos na Faixa de Gaza se relacionam com bens essenciais, como o acesso à saúde, mas, sobretudo, com a falta de comida.
"Estamos no limite de uma situação de fome, é uma situação totalmente evitável e é uma situação totalmente causada por atividades humanas," diz James Elder à CNN Portugal. "Precisamos de mais ajuda e de mais locais para fazer com que essa ajuda chegue. Há fome no terreno e bombas a cair no céu."
"Um desespero sem precedentes"
"Fui a norte hoje (entrevista realizada a 21 de março) e vi o desespero sem precedentes," contou Elder.
O porta-voz global da UNICEF diz que é preocupante o nível de destruição de infraestruturas básicas e que viu como cidades palestinianas inteiras tinham sido arrasadas.
"Falamos de sistemas de água, de comida, de eletricidade, abrigos," continuou.
UNICEF preocupada com o trauma geracional causado por mais uma guerra
James Elder diz que estamos em território desconhecido no que diz respeito aos danos que estão a ser cometidos numa população dominada por crianças.
"É uma população elevada, quando temos em conta o total da população da Faixa de Gaza. E isso importa."
A UNICEF diz que neste momento não deverá existir uma criança em Gaza que não precise de assistência a nível psicológico, o que não está a acontecer, até porque não existem as condições mínimas para este tipo de assistência.
"Gaza não é um lugar para crianças neste momento," diz Elder à CNN Portugal.