Produtos tóxicos ou contrafeitos, clínicas ilegais, botox aplicado em cabeleireiros. Há cada vez mais queixas de intrusismo em Portugal

23 mar, 08:00
Botox (marka/Universal Images Group via Getty Images)

Pressão por um corpo perfeito está a levar muitos a recorrer a soluções mais baratas. Há casos preocupantes a chegar aos gabinetes dos verdadeiros especialistas, como o de uma jovem que ficou sem lábios após uma infeção

As queixas pela realização de procedimentos estéticos por pessoas sem habilitações, bem como pela aplicação de produtos tóxicos ou contrafeitos, está a aumentar em Portugal.

O retrato é confirmado à CNN Portugal por três especialistas em Medicina Estética bem como pela Sociedade Portuguesa de Medicina Estética (SPME), que criou mesmo um departamento para o combate ao intrusismo.

O intrusismo é um delito cometido por alguém que pratica uma atividade profissional sem estar legalmente habilitada a fazê-lo.

"O número de denúncias [de intrusismo] tem vindo a aumentar", confirma a SPME. Entre 2016 (quando foi criado o gabinete dedicado a esta questão) e 2021 tinham sido recebidas cerca de 300 denúncias. Só em 2022 foram analisadas 108, em 2023 outras 177.

"É possível que estes números tendam a estabilizar/baixar, um vez que uma boa parte das denúncias que recebemos agora são de entidades/profissionais que já foram analisados previamente e cujos processos já foram reencaminhados para as entidades competentes", realça a entidade.

Contudo, aos gabinetes dos especialistas em Medicina Estética chegam cada vez mais casos com complicações. Como o mundo dos procedimentos estéticos continua a ser inacessível a muitos, há quem, sedento de um corpo perfeito, se entregue a quem não tem conhecimento técnico ou a quem acabe por lhes aplicar produtos tóxicos, por vezes comprados na Internet. 

As médicas Sofia Carvalho, Andreia Monteiro e Isabel Hermegildo reconhecem que este é um fenómeno que gera cada vez mais preocupação entre os profissionais da área. E avisam que nem sempre é possível reverter os efeitos de tais práticas.

“Recebemos vários casos de tratamentos malsucedidos por profissionais não médicos, sobretudo vítimas de tratamentos com preenchimentos com produtos ilegais, que são produtos definitivos, que não podem ser injetados nem na face nem no corpo”, diz Sofia Carvalho, explicando que “muitas vezes” é dito às pessoas que estes produtos - à venda na Internet, em clínicas ilegais ou em salões de cabeleireiro - são “ácido hialurónico" ou botox.

Esta é uma realidade a que também a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) está atenta: até julho de 2023, o último balanço divulgado, instaurou 90 processos-crime por usurpação de funções de medicina estética.

“Há situações que só podemos melhorar e diminuir o impacto e as consequências”, junta. No dia da entrevista, Sofia Carvalho mostrou-nos o caso de uma jovem que ficou sem lábios após injetar um produto tóxico.

“Nós que somos médicos temos conhecimento do risco, sabemos o que estamos a fazer e onde está o perigo, então temos cautela, sabemos resolver as intercorrências que podem acontecer”, defende Andreia Monteiro.

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