As três agentes da polícia, que acusaram o médico separadamente, contam histórias muito semelhantes
"Ele disse-me 'tira a roupa, fica de cuecas'." O médico anunciou-lhe naquele momento que ia fazer um exame ginecológico. “Eu respondi-lhe que fazia os exames ginecológicos todos os anos e que estava tudo bem. Até hoje não sei porque cedi." A partir daquele momento sentiu-se "bloqueada" e não se lembra sequer de como se vestiu.
Este testemunho, contado ao canal espanhol TV3, é de uma das três agentes da polícia que acusaram judicialmente, por abuso sexual grave, Jorge P - um médico que trabalhava desde 2017 no serviço de vigilância sanitária do Departamento do Interior da Generalitat da Catalunha, em Espanha.
Jorge P. foi detido sexta-feira. A polícia não exclui a possibilidade de existirem mais vítimas.
As três agentes da polícia, que acusaram o médico separadamente, contam histórias muito semelhantes: Jorge P. tocou-lhes quando realizou exames que em nada estavam relacionados com as patologias de que se queixavam.
Uma segunda vítima conta que consultou o médico para pedir um comprovativo de como a sua doença, fibromialgia, não a permitia realizar a sua profissão: “O exame foi muito exaustivo. Tocou-me em todos os pontos da fibromialgia e em pontos da região íntima não relacionados com a doença”, contou a mulher num programa do canal espanhol TV3.
Seguiu-se a sensação de bloqueio contada no primeiro testemunho. O médico pediu-lhe para se deitar na maca: “Foi aí que tudo aconteceu. Foi uma situação de bloqueio total, não sabia como reagir. Fiquei a olhar para o tecto à espera de que ele acabasse e fosse embora”.
Os crimes terão ocorrido em 2019 e as punições surgiram aos poucos. Primeiro, em fevereiro de 2020, o Ministério do Interior espanhol exigiu a presença de uma enfermeira nas consultas, de forma a que as mulheres não ficassem sozinhas com o médico.
Em julho de 2021, o Ministério ofereceu defesa legal à primeira testemunha, pedindo dois anos e meio de prisão para o médico. Em novembro do mesmo ano foi proibido de realizar consultas a mulheres.
Em fevereiro deste ano surgiu a segunda denúncia e consequente segunda acusação judicial ao médico - que culminou na suspensão do seu emprego e salário em maio de 2022.
Na sexta-feira, depois da terceira acusação, foi preso por dois dias. O processo está a ser investigado.
O Departamento do Interior da Generalitat da Catalunha criou um endereço anónimo para que mais possíveis vítimas “possam denunciar com segurança e calma.”