Visionware tem uma equipa dedicada a monitorizar o “submundo da Internet”. E foi lá que identificaram o grupo pró-Rússia que tem andado a atacar as páginas oficiais de diferentes entidades espanholas
A empresa portuguesa Visionware detetou uma série de ataques informáticos, ao longo dos últimos dois dias, em Espanha. Entre os alvos estão os sites da família real, do governo e de bancos espanhóis. Os piratas informáticos são um grupo pró-Kremlin.
A empresa especializada em cibersegurança tem uma equipa dedicada à monitorização da dark web e deep web, “o submundo da internet”, explica à CNN Portugal o presidente-executivo da Visionware, Bruno Castro.
Este trabalho é feito para despistar grupos “que possam ser ameaça aos clientes”. Contudo, tem permitido fazer a identificação de outros riscos, como estes episódios agora em Espanha.
Segundo a Visionware, foram atacados esta quarta-feira os sites da família real espanhola, do conselho de ministros, de uma empresa espanhola detida pelo ministério da Defesa (a Isdefe), do ministério da Justiça e do Tribunal Constitucional. Já nesta quinta-feira, os alvos foram dois bancos: Abanca e Bankinter.
A CNN Portugal contactou a assessoria de imprensa do Governo espanhol e os dois bancos visados. Não foram obtidas respostas até à publicação deste artigo. Uma consulta ao início da tarde mostrava que os sites estavam a funcionar com normalidade. O site do Tribunal Constitucional indicava que estava prevista uma “intervenção técnica” que poderia “afetar pontualmente o funcionamento” de alguns serviços do portal.
Estes ataques surgem numa altura em que Espanha reforçou o seu apoio à Ucrânia, com um pacote de 55 milhões de euros, e em véspera de eleições legislativas no país – num sufrágio onde o desfecho é imprevisível e que se espera muito disputado.
“Não é um ataque disruptivo, que interrompe o fornecimento de serviços fundamentais. É antes para pôr em causa a estabilidade e imagem política nacional. Para já, foi um ataque institucional. É um pré-aviso”, descreve Bruno Castro. E é por isso, diz, que a reposição da normalidade também foi rápida.
O grupo de piratas informáticos envolvido é o NoName057(16). “Este grupo, em concreto, é um grupo pró-Kremlin, cibercriminoso, com ações a favor da Rússia”, descreve o especialista.
E há riscos para Portugal? Sim, confirma, até porque o país também integra a NATO. Prova disso foram os ataques registados a serviços estatais portugueses nos últimos meses. “Já passámos por isso. É um tabuleiro muito geopolítico, para criar instabilidade social, para mostrar que não estamos tão seguros quanto isso, e que podem fazer pior”, resume Bruno Castro.