41 acusados: rede ganha 7,7 milhões a escravizar 457 trabalhadores

24 nov 2023, 20:07
“Este negócio é tão grande que não vai parar”. Migrantes já representam 40% da população em Odemira, mas porquê?

Algumas vítimas chegavam a receber apenas 50 euros por mês. Tomavam banho ao ar livre, sem água quente e sem casa de banho, com acesso apenas a latrinas.

A Unidade Especial de Combate ao Crime Violento do DIAP de Lisboa acusou esta sexta-feira 41 pessoas e dez empresas de associação criminosa, tráfico de seres humanos e branqueamento de capitais, na sequência da megaoperação da Polícia Judiciária de há precisamente um ano na zona de Beja, num despacho a que a CNN Portugal teve acesso. 

A acusação da procuradora Felismina Carvalho Franco, que dirigiu a investigação em articulação com a Unidade de Contraterrorismo da PJ, e que mantém 26 dos acusados presos, ocorre três dias depois de a PJ ter avançado com a operação Espelho, que fez agora mais 28 detidos na mesma zona - 13 dos quais já em prisão preventiva.

Na acusação, a magistrada regista o facto de terem sido resgatados 457 trabalhadores que viviam em condições de miséria e de escravatura. As vítimas respondiam a um anúncio no Facebook, para virem trabalhar em explorações agrícolas em Portugal, e eram aliciadas na Roménia, Moldávia, Ucrânia, Índia, Senegal, Timor Leste e Paquistão.

Acabavam "vítimas, como se de escravos se tratassem, de uma organização de indivíduos que não olha a meios para atingir os fins", pode ler-se. Trabalhavam sete dias por semana, com uma pausa de 15 minutos para almoçar.

Dos 700 euros prometidos por mês, chegavam a receber 50. Tomavam banho ao ar livre, sem água quente e sem casa de banho, com acesso apenas a latrinas.

Escreve a procuradora que "não havia camas, só colchões estragados, sujos, com pulgas e baratas - e em cada colchão dormiam duas ou três pessoas. A casa não tinha cozinha, faziam fogueiras para cozinhar".

O grupo atuava desde 2020 e constituiu empresas que facturaram mais de sete milhões e meio de euros com o esquema. A PJ apreendeu nas buscas telemóveis, dinheiro, armas e 38 viaturas, algumas de luxo como um Porsche Panamera.

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