Está feito o negócio: o Twitter é de Elon Musk. Está desfeita a gestão executiva da empresa: há despedimentos.
Afirmando que “o pássaro está livre”, numa alusão ao logótipo do Twitter, o dono da Tesla dispensou de forma imediata os três executivos que geriam a empresa. O diretor-executivo, Parag Agrawal, bem como os responsáveis pelas áreas financeira e de segurança, Ned Segal e Vijava Gadde, devem receber cerca de 100 milhões de dólares de indemnização.
Como outros altos funcionários, Ned Segal assinalou a saída, falando na conclusão de um período de cinco anos mas deixando uma mensagem de "esperança" para o futuro.
Thursday concluded 5 years @twitter. I’m grateful for the opportunity to have worked with such an incredible group of people building the world’s town square for all of our stakeholders. The work isn’t complete, but we made meaningful progress.
— Ned Segal (@nedsegal) October 28, 2022
Uma saída que não passou despercebida a Biz Stone, um dos cofundadores da rede social, que destacou o "enorme talento" dos três executivos agora dispensados.
Thank you to @paraga, @vijaya, and @nedsegal for the collective contribution to Twitter. Massive talents, all, and beautiful humans each!
— Biz Stone (@biz) October 28, 2022
Para o cargo de Parag Agrawal já um nome apontado: o próprio Elon Musk. Segundo a Bloomberg, o empresário quer assumir o cargo de diretor-executivo, o que acumularia com as lideranças da Tesla e da SpaceX. Para já vai assumir a posição de forma interina, mas o plano será ficar em definitivo.
Isto enquanto os colaboradores do Twitter ainda não sabem o seu futuro. Elon Musk deve falar para a empresa ainda esta sexta-feira, mas terá como fantasma uma afirmação em que admitiu dispensar 75% dos 7.500 trabalhadores, que, numa carta aberta à direção e ao empresário, pediram "uma comunicação transparente, pronta e cuidadosa".
Em reação automática à confirmação do negócio, os mercados financeiros abriram em forte desvalorização. Uma das causas foi o anúncio, quase imediato e que já tinha sido referido por Elon Musk, agora autoproclamado "Chief Twit", de que o Twitter vai ser retirado da bolsa de Nova Iorque, tornando a empresa totalmente privada.
E isso pode ser só o início de um pesadelo, nomeadamente para os bancos, que podem enfrentar graves perdas. Um grupo liderado pela Morgan Stanley, e que também inclui o Bank of America ou o Barclays, comprometeu-se com 13 mil milhões de dólares para o financiamento do negócio em abril, quando os juros das dívidas ainda se encontravam estáveis.
Agora, e perante a incerteza nos mercados, esse mesmo grupo vai encontrar dificuldades para conseguir esse financiamento ao mesmo tempo que mantém as contas equilibradas.
No entanto, e até à formalização da retirada dos mercados, a situação pode sofrer um revés. Em 2018 Elon Musk também anunciou que iria tornar a Tesla privada, para depois voltar atrás e agradecer a todos os investidores que apoiaram a continuação da organização na bolsa.
Mais forte foi a reação da União Europeia. O comissário para o Mercado Interno da União Europeia decidiu responder a uma publicação de Elon Musk, dizendo que "na Europa o pássaro vai voar pelas nossas regras", numa publicação em que deixou a sigla DSA, que remete para o Ato dos Serviços Digitais, que regula as redes sociais nos 27 países.
Thierry Breton deixou ainda outra nota, numa publicação em que aparece a conversar com o próprio Elon Musk e na qual diz que foi o novo dono do Twitter que garantiu que as regras seriam cumpridas.
That’s what he said👇#ICYMIhttps://t.co/V2kdvJLTBy
— Thierry Breton (@ThierryBreton) October 28, 2022
Também o antigo primeiro-ministro da Bélgica Guy Verhofstadt, que atualmente exerce funções como deputado no Parlamento Europeu, chamou a atenção para a necessidade de "regular e responsabilizar" a rede social.
O regresso dos expulsos?
Quem ficou contente com a chegada de Elon Musk ao Twitter foi Donald Trump. O ex-presidente dos Estados Unidos, que foi expulso daquela rede social depois da derrota nas presidenciais e da invasão ao Capitólio, em 2020, afirmou estar feliz pela notícia, dizendo ainda que o Twitter estava de novo em “mãos sãs”.
À imagem de Donald Trump, figuras como o conspiracionista Alex Jones, o antigo estratega da Casa Branca Steve Bannon ou Kanye West também devem ver a mudança com agrado. Todos foram suspensos ou expulsos daquela rede social, a maioria por comentários e publicações sucessivamente nocivas, como recentemente aconteceu ao rapper norte-americano.
Desde o início de todo o processo que Elon Musk diz querer um Twitter verdadeiramente livre, pelo que a sua chegada em definitivo abre a porta a um regresso destas figuras polémicas.
"Não penso que tenha sido correto banir Donald Trump, penso que foi um erro", afirmou Elon Musk em maio, garantindo que iria "reverter" a situação.