Não há cão nem gato que não cace votos no Alentejo, mas só um dos partidos tem esta Luz

24 jan 2022, 23:24

Rui Rio ambiciona voltar a eleger um deputado por Portalegre e outro por Évora. Um dos cabeças de lista tem apenas 19 anos, mas desde os seis que já se notava essa vocação. No meio do Alentejo profundo, a freguesia Luz é PSD desde 1974

O Alentejo é maioritariamente de esquerda, mas lá existe uma freguesia conhecida como a “Madeira do Alentejo” - por ser laranja. Muito laranja. Com cerca de 320 habitantes, Luz, no distrito de Évora, é a "aldeia mártir" onde se vota PSD desde 1974.

A convicção laranja vem desde o pós-25 de abril, depois do impacto causado pelas ocupações comunistas, explica a presidente da Junta. Sara Vidigal Correia, 37 anos, acredita que os princípios sociais-democratas estão “enraizados” e são “convictamente defendidos”.

“A freguesia da Luz foi e é sempre não só a resistência laranja, como a bandeira laranja. Eu costumava dizer que era a 'Madeira do Alentejo'. Em 2013, eu representava o único executivo PSD no distrito de Évora e, orgulhosamente, o resultado na Luz, sejam quais forem as eleições, é a vitória do PSD”. Em 2019, nas últimas legislativas, o PSD conquistou 51,5% dos votos, o PS 26,95%.

É uma social-democracia com sotaque alentejano profundo. Advogada de profissão, Sara confessa que por vezes, no final dos atos eleitorais, recebe chamadas de habitantes da aldeia orgulhosos: “Ao menos nós mantemo-nos!”, dizem-lhe.

Sara Vidigal Correia, presidente da Junta da Luz

A antiga Luz continua a ser “a aldeia preferida”

Nascida e criada na Luz até aos 18 anos, foi depois para Coimbra estudar. Sara confia que as gerações mais antigas têm conseguido transmitir aos mais novos os valores e as convicções do PSD. António Serrano, 70 anos, vota sempre no Partido Social-Democrata, como já toda a sua família o fazia. Uma herança familiar.

“Eu voto sempre PSD. Já os meus familiares eram todos PSD, eu continuo”, diz.

Enquanto cortava os galhos secos das oliveiras, recordava a casa onde nasceu e que o Alqueva escondeu. Conta que tem saudades da antiga aldeia, porque a nova “não me diz nada”, desabafa. Em novembro, faz 20 anos que Durão Barroso, na altura primeiro-ministro, inaugurou a nova aldeia da Luz.

“Esta é boa na mesma, mas como aquela onde fomos nascidos e criados… foi sempre a minha aldeia preferida”. Com a voz trémula, diz que, quando o nível da água está mais baixo, vai lá “dar uma voltinha, para ver mais ou menos onde estão as casas. Vou lá recordar os velhos tempos que lá passei”.

António Serrano

João Pedro Luís, o cabeça de lista mais novo de Rio

Rio também quer voltar ao passado e eleger um deputado por Portalegre, o círculo eleitoral mais pequeno do país, e outro por Évora. João Pedro Luís, 19 anos, é mesmo o cabeça de lista mais novo do partido. Tem nas mãos a oportunidade de ser eleito pelo distrito “mais esquecido e abandonado do poder central”.

É preciso um “Portugal por inteiro”, defende, e Rui Rio “é esse homem”, o que assim pode fazer. Olha para a sua candidatura como uma forma de “renovar a classe política” e mostrar que também existem oportunidades para os mais novos.

“Aquilo que eu pretendo levar para a Assembleia da República é uma nova forma de fazer política”. Um mundo que já o maravilhava aos seis anos, quando apontava num caderno a constituição dos governos, acompanhada de fotografias. Uma "caderneta de cromos" invulgar. 

“Sempre gostei muito de política, sempre senti a vocação de tentar contribuir para o bem comum”. No final do dia, diz, a política “é tentar melhorar a vida dos que nos rodeiam”. E se for um lugar em São Bento? “O futuro logo se vê”.

Rui Rio e João Pedro Luís (PSD)

"O Dr. António Costa esquece-se que o Zé Albino pode ir para Lisboa”

No fungagá da bicharada em que se tornou esta campanha, Costa e Rio têm discutido gado, cães, gatos, hoje houve até um ovo e uma galinha metafórica. No domingo, o primeiro-ministro disse que nos maus momentos também era preciso “tratar bem o gado, alimentar o gado, e acarinhar o gado, para que o gado engorde”. Rio não quis resistir e, numa arruada em Évora, o presidente do PSD diria que "não foram declarações muito elegantes”.

Depois de Rio ter comparado o seu gato Zé Albino ao líder do PS, este desejou que o animal possa ter mais a companhia do dono depois do dia 30: “É indiscutivelmente um gato bastante simpático, embora Rui Rio o tenha deprimido. Mas desejo as melhoras do Zé Albino, que ele rapidamente se reanime. Com a vitória do PS o Zé Albino vai sentir-se menos só e Rui Rio vai ter mais tempo para ficar em casa”.

Na resposta à provocação, o presidente do PSD disse: “o Dr. António Costa esquece-se é que o Zé Albino pode ir para Lisboa”. Costa retorquiu, lembrou que tem um cão e uma cadela, “a Naná e o Doca”, que “já estão habituados às [suas] ausências e não se deprimem”. De zoologia, foi isto.

Na arruada de Évora, Rio contou com a presença de Ana Rita Cavaco, bastonária da Ordem dos Enfermeiros, que veio de propósito de Lisboa, Joaquim Miranda Sarmento, apontado como o futuro Mário Centeno de Rio, e ainda Tiago Moreira de Sá, candidato por Lisboa em lugar elegível.

Ana Rita Cavaco com Rui Rio numa arruada em Évora (PSD)

 

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