O objetivo é ganhar o país, mas é preciso lutar distrito a distrito. Como têm variado os votos nas últimas eleições legislativas

6 mar, 18:00
Urna de voto (Foto: LUSA)

Está tudo em aberto na corrida eleitoral. Por isso, fomos percorrer as últimas quatro eleições legislativas para encontrar os distritos que não costumam seguir tendências do total nacional: quando um partido ganha no país, outro ganha no distrito - ou há empate - no que respeita à distribuição de deputados. São a prova de que tudo pode mudar. E de que as contas a 10 de março podem sair ainda mais difíceis do que o esperado para PS e PSD. No Parlamento, um lugar que seja faz a diferença

Beja, Évora e Portalegre. O Alentejo, de forma geral, não é um território fácil para o PSD. Nas eleições de 2011 e 2015, quando os sociais-democratas venceram as legislativas, Beja, Évora e Portalegre resistiram a pender para esse lado: deram o mesmo número de deputados ao PSD e ao PS. Nas duas últimas legislativas, ganhas pelo PS, o PSD perdeu mesmo representação em Beja e Portalegre.

Braga. É um distrito onde os partidos apostam muitas fichas, até porque Braga garante um grande número de lugares no Parlamento. Em 2024 serão 19. Voltando a 2019, quando o PS se tornou o partido mais votado, Braga não foi tão rápida na mudança de cor política. Notou-se a divisão: nesse ano, PSD e PS elegeram oito deputados cada neste círculo. Em resumo: Braga é um distrito onde as dúvidas se mantêm até ao fim.

Bragança. Este distrito pende para o PSD. Basta ver que em 2019, mesmo quando o PS se tornou o partido mais votado, Bragança deu um deputado aos socialistas e dois aos sociais-democratas. Em 2022, com a maioria absoluta de António Costa, o cenário inverteu-se.

Castelo Branco. Nas eleições em análise neste artigo, quando o PSD foi o partido mais votado, Castelo Branco não alinhou pela tendência geral. Em 2011 e 2015 deu o mesmo número de lugares ao PSD e ao PS. Desde 2019, os socialistas têm três deputados e os sociais-democratas um. 

Leiria. Este distrito é outro dos casos que só mudou de cor com a maioria absoluta do PS. Até então, o PSD estava à frente. Mesmo em 2019, quando os socialistas foram os mais votados no país, foram os sociais-democratas a destacar-se no número de deputados por Leiria. 

Lisboa. O maior círculo eleitoral do país normalmente alinha com o vencedor geral das eleições. Mas é preciso recuar até 2015 para perceber porque entra Lisboa nesta lista. Nesse ano, deu 18 deputados ao PS e 18 deputados ao PSD. Algo que dificultou as contas para a maioria absoluta desejada pelo PSD. António Costa alinhou-se então com os partidos à esquerda, criou a geringonça e formou governo apesar de liderar o segundo partido mais votado.

Setúbal. Este distrito tem uma tradição bem marcada à esquerda. Por isso, mesmo quando o PSD ganhou no país, Setúbal não lhe deu esse gosto nas eleições em análise. Basta ver que em 2011, após a chamada da troika e a queda do governo socialista de José Sócrates, deu ao PS e ao PSD o mesmo número de deputados. Em 2015, com Passos Coelho à frente no país, Setúbal dificultou as contas: deu mais dois deputados ao PS do que ao PSD. Desde então, os socialistas têm o triplo dos deputados dos rivais neste círculo.

Viana do Castelo. Este é um dos territórios onde os socialistas têm alguma dificuldade de afirmação. Basta ver que quando o PS ganhou as eleições em 2019 e 2022, este distrito nunca deu primazia ao PS no número de representantes no Parlamento. PS e PSD ficaram empatados no número de deputados. Antes disso, era claro como o PSD ficava à frente.

Vila Real. Só com a maioria absoluta de António Costa em 2022 é que Vila Real inverteu a sua tendência de apoio mais evidente ao PSD. Os sociais-democratas, que vinham sempre elegendo três lugares neste distrito, passaram a ter só dois. O PS ganhou-o. Mas a prova de que este é um distrito desalinhado está em 2019: mesmo tendo o PS ganhado as eleições, Vila Real dava mais representantes ao PSD.

Viseu. No “Cavaquistão”, o eleitorado virar-se para o PS não é uma tarefa fácil. Quando o PSD ganhou as eleições em análise, era clara a preferência de Viseu no número de deputados. Contudo, quando o país mudou de cor política, Viseu não foi tão assertivo: em 2019 e 2022 mandou exatamente o mesmo número de deputados pelo PS e pelo PSD para o Parlamento. 

Madeira. Este território é outra prova da tradição social-democrata. Se nas eleições ganhas pelo PSD era clara a preferência, quando o PS tomou a dianteira, a Madeira equilibrou a distribuição de lugares: três para cada lado. Com esta tendência de empate, e dada a crise política criada com o caso da alegada corrupção no arquipélago, é um dos círculos onde o resultado pode mudar.

Açores. Ao contrário da Madeira, foi a tradição socialista que durante longos anos se afirmou nos Açores. E prova disso encontra-se em 2015 quando, contrariando a tendência geral, os Açores deram mais um lugar ao PS do que ao PSD. Contudo, os resultados das últimas eleições regionais voltaram a colocar o PSD à frente. Se houver um reflexo desse contexto regional nas legislativas, o cenário de primazia do PS nos deputados açorianos poderá inverter-se.

Europa e Fora da Europa. A tradição dita que a distribuição nos círculos da emigração seja a meias: um deputado para PS e outro para o PSD na Europa e Fora da Europa. Só que há exceções à regra. Na Europa, em 2022, só o PS conseguiu ter representantes. Fora da Europa, em 2011 e 2015, tinha sido ao contrário: zero para o PS, dois para o PSD. Por isso, numas eleições em que qualquer lugar fará a diferença para a maioria parlamentar, também os representantes da emigração serão determinantes.

Dados relativos ao PS integram coligações, quando existentes (Fonte: Ministério da Administração Interna)

Em resumo:

2011. Neste ano, o PSD foi o partido mais votado. Beja, Castelo Branco, Évora, Portalegre, Setúbal e Europa atribuíram o mesmo número de lugares no Parlamento ao PSD e ao PS.

2015. Neste ano, embora o PS tenha acabado a formar governo, foi o PSD o partido mais votado. O PS conseguiu eleger mais deputados do que o PSD em Faro, Setúbal e Açores. Em Beja, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Guarda, Lisboa, Portalegre e Europa a divisão foi notória: PS e PSD tiveram o mesmo número de deputados.

2019. O PS tornou-se o partido mais votado. Mas há exceções: Bragança, Leiria e Vila Real optaram por dar mais representação no Parlamento ao PSD. Já em Braga, Viana do Castelo, Viseu, Madeira, Europa e Fora de Europa, o resultado foi o mesmo no número de cadeiras.

2022. Em ano de maioria absoluta do PS, o partido então liderado por António Costa não conseguiu afirmar-se em Viana do Castelo, Viseu, Madeira e Fora de Europa: nestes círculos, PS e PSD tiveram o mesmo número de deputados.

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