Entrevista a Susana Torres: a ex-bancária por detrás do novo herói nacional

15 jul 2016, 23:50
Susana Torres (foto: Andreia Pinho)

Saiu do anonimato quando Éder mencionou o seu nome depois do jogo com a França. Em conversa com o Maisfutebol, a «mental coach» de Éder fala sobre o trabalho com atletas de alta competição

Foto: Andreia Pinho

«Susana Torres, uma pessoa que vocês deviam conhecer. Susana Torres!»

Éderzito tirou-a dos bastidores na flash interview da RTP, logo após a vitória de Portugal sobre a França, num campeonato da Europa decidido com um golo do avançado do Lille. Ela é a mulher a quem se deve parte do sucesso no novo herói nacional e, permitam-nos a ousadia, aquele remate certeiro ao minuto 109 do prolongamento no Stade de France. Desde segunda-feira que o Maisfutebol estava a tentar conversar com Susana Rodrigues Torres, a 'mental coach' de Éder que, confessa, não tem tido mãos a medir nos últimos dias com tantas solicitações e pedidos para entrevistas. «Até tive de criar uma página no Facebook. Bloqueou tudo no meu perfil e as pessoas já me mandavam mensagens por não conseguir aceitar mais pedidos de amizade. Nem tenho dormido», diz bem-disposta.

Leia também: «Gosto de sentir que tenho uma pequena percentagem do golo do Éder»

Esperava que o telefone tocasse tantas vezes mesmo depois de Éder lhe ter dito que ia marcar o tal golo e que ia dizer o seu nome nas entrevistas depois do jogo?

[Risos] Não, não esperava. O impacto do golo da vitória foi a única coisa que não conseguimos prever. O golo da vitória foi um objetivo que o Éder estabeleceu, mas não pensámos em como seria se isso viesse a acontecer. Jamais pensaria que o me telefone iria tocar desta maneira e que ia receber mais de mil mensagens.

Mil???

Mais de mil, uma coisa extraordinária. Também já recebi pedidos de entrevistas do estrangeiro. Acabei de receber uma chamada de Espanha e já me disseram que em França já perguntaram ao Éder para falarem comigo.

O que fazemos é ajudar a pessoa a ir do ponto em que está até ao ponto em que ela gostaria de estar.»

Trabalhou muitos anos no sector bancário. Como é que alguém sai da banca e chega a este mundo da performance desportiva?

Foram 14 anos no setor bancário. Fui para a banca com 21 anos e a ganhar menos do que ganhava no sítio onde estava. Fui pelo desafio. Ia experimentar e se não gostasse ia embora. E acabei por ficar 14 anos. Gostei muito da atividade bancária. Quando saí era subdiretora de um balcão. Mas sempre fui muito apaixonada pelos comportamentos das pessoas...

É a sua área de formação?

Não. É gestão, mas na altura gostava de ter ido para recursos humanos. Só que eu olhava para os recursos humanos como uma profissão muito burocrática, ligada aos papéis, ao processamento de salários e não àquilo que eu achava que já deviam ser os recursos humanos: a gestão das pessoas, do comportamento, da atitude... Acabei por ir para gestão, que era muito mais abrangente e depois podia fazer outras coisas dentro da área da gestão. Mas comecei logo a tirar certificações na área do coaching, da programação neuro-linguística, a fazer workshops de hipnose... Depois, quando apareceu o Éder, enveredei mesmo especificamente pelo futebol, que é onde estou agora.

É certo os mundos da banca e do futebol são muito diferentes, mas questões de motivação e de auto-confiança tocam-se em áreas distintas?

Hoje em dia, praticamente todos os bancos têm formações nesta área: formações comportamentais, de atitude, de coaching, de liderança. Também faço coaching a empresas. Basicamente, tiramos as lições do futebol para as empresas. Tentamos transformar as empresas em empresas campeãs. Acaba por haver pontos em comum, porque a base do coaching é a mesma para todo o lado.

O que é que faz ao certo um mental coach?

Em geral, o coach ajuda o coachie (a pessoa que está a ser ajudada) a analisar o que está a acontecer na sua vida. Há um olhar para dentro, uma análise da situação atual. Quando analisamos a situação atual, verificamos onde gostaríamos de estar. O que fazemos é ajudar a pessoa a ir do ponto em que está ao ponto onde gostaria de estar: a ir do ponto A ao ponto B. Ajudamos a traçar esses caminhos de forma a que eles sejam feitos de forma mais rápida e eficaz. Quando trabalhamos em alta performance é mais específico. Vamos muito mais longe não só na questão de conquistar um objetivo, mas de sermos excelentes.

Se acharmos que as nossas decisões dependem de alguém e se nos deixarmos ligar àquilo que está fora do nosso controlo, perdemos completamente o controlo da nossa vida.»

O que é que costuma falhar para que as pessoas não consigam mudar ou atingir determinados objetivos que são alcançáveis?

A atenção. As pessoas, por norma, colocam atenção em algo. E, por vezes, colocamos a atenção em algo que não está a potenciar a nossa performance. Aí estamos a deixar que a nossa vida seja controlada por algo que não controlamos. O segredo é colocarmos a nossa atenção em algo que controlamos: os nossos sentimentos, o nosso comportamento. Só assim conseguimos controlar mais ou menos os nossos resultados. Se acharmos que as nossas decisões dependem de alguém e se nos deixarmos ligar àquilo que está fora do nosso controlo, perdemos completamente o controlo da nossa vida. Isso gera ansiedade, frustração e não conseguimos alcançar determinados resultados porque achamos que eles não estão dependentes de nós. O mais importante é focarmo-nos em nós próprios. Quando estamos bem e conseguimos aceder ao recursos que temos dentro de nós, tudo começa a mudar lá fora.

O segredo é não deixarmos que as ações dos outros nos afetem?

Sim. No coaching conseguimos aplicar filtros que permitam que isso não nos afete.

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