Ministro britânico decide extraditar hacker português para os EUA contra deliberação do juiz

22 mar, 08:00

Portugal e Estados Unidos disputam extradição do jovem pirata informático português. Defesa de Diogo tem três meses para recorrer

O ministro de Estado da Segurança do Reino Unido, Tom Tugendhat, não quis ouvir os argumentos apresentados pela defesa do pirata informático português Diogo Santos Coelho para ser extraditado para Portugal, dando preferência ao pedido de extradição dos Estados Unidos da América, onde o jovem arrisca enfrentar uma pena de 57 anos. 

Segundo apurou a CNN Portugal, a defesa do hacker, de 24 anos, tem agora três meses para recorrer da decisão para o tribunal superior britânico, o High Court of Justice. Caso seja apresentado um recurso dentro desse prazo, a decisão do ministro fica suspensa.

No início de fevereiro, Portugal apresentou às autoridades britânicas o pedido de extradição de Diogo Santos Coelho, jovem que está em prisão domiciliária no Reino Unido, à espera de uma decisão da justiça.

A CNN Portugal sabe que o juiz britânico que inicialmente avaliou o pedido português chegou mesmo a decretar a extradição de Diogo Santos Coelho para Portugal, que deveria acontecer no prazo máximo de dez dias. No entanto, o Ministério Público britânico suscitou a existência de dois pedidos de extradição concorrentes, o que fez com que o caso fosse enviado para o ministro, que, segundo a legislação do Reino Unido, tem autoridade para tomar decisões finais sobre extradição, com base nas recomendações de tribunais e autoridades competentes. 

Uma vez com o processo em mãos, Tom Tugendhat rejeitou ouvir os argumentos apresentados pela defesa do pirata informático português, dando prioridade ao pedido de extradição americano, no qual o jovem é acusado dos crimes de conspiração, fraude no acesso a dispositivos e roubo de identidade agravado. Diogo Santos Coelho é o principal suspeito de criar e administrar o RaidForums, uma plataforma onde foram vendidos milhões de euros de dados roubados de empresas americanas. 

No verão de 2023, a justiça britânica já tinha aceitado o pedido de extradição para os EUA, mas a defesa do hacker recorreu, alegando que o jovem foi diagnosticado com autismo e que corre o risco de pôr termo à própria vida caso seja enviado para cumprir sentença numa prisão americana, longe da família.

Numa entrevista exclusiva à CNN Portugal, no final de janeiro, o advogado britânico do jovem disse estar confiante de que, em caso de escolha entre o pedido de extradição americano e o português, a Justiça do Reino Unido optaria por enviar Diogo Santos Coelho para Portugal. "Entre enviá-lo para os Estados Unidos ou para Portugal, seria uma decisão óbvia enviá-lo de volta para a sua terra natal, para a sua família", afirmou Ben Cooper.

Montou um império no submundo da net numa casa nos arredores de Viseu

Corria o dia 31 de janeiro de 2022, quando foi detido no aeroporto de Gatwick, Reino Unido. Estava a tentar entrar no país para visitar a mãe, que sofre da doença de Huntington, que causa a morte das células do cérebro. É acusado pelos Estados Unidos dos crimes de conspiração, fraude no acesso a dispositivos e roubo de identidade agravado, por ser o principal suspeito de criar e administrar o RaidForums. Prestes a fazer 24 anos, arrisca ficar atrás das grades até aos 76 anos.

Nos documentos da investigação norte-americana, a que a CNN Portugal teve acesso, são relatadas algumas histórias das vítimas do hacker. Um dos casos é o alegado golpe ao gigante de telecomunicações T-Mobile, que sofreu um roubo de dados de 50 milhões de utilizadores que depois foram divulgados no fórum. A empresa terá aceitado pagar 252 mil euros em Bitcoin para reaver a informação.

As autoridades acreditam que Diogo Santos Coelho fez muito dinheiro com este sistema que ajudou a criar. Apesar de não ser acusado de estar envolvido em alguns dos maiores roubos de dados que foram colocados à venda na plataforma, os EUA acusam o jovem de criar um sistema de filiação, que obrigava os membros do fórum a comprar créditos no site, que eram utilizados para fazer as compras. Ao todo, as autoridades acreditam que os piratas fizeram mais de 400 milhões de euros com a venda de dados roubados no RaidForums.

Os investigadores americanos acreditam que Diogo obteve muito dinheiro com o serviço de mediação da venda de dados roubados com criptomoedas. O jovem hacker português oferecia-se para verificar a veracidade do conteúdo dos ficheiros roubados antes de o comprador enviar o dinheiro para os comprar. Assim que as duas partes estivessem satisfeitas, a transação era completa e Diogo recebia uma comissão pré-determinada. 

Diogo Santos Coelho terá recebido comissões de muitas destas vendas. Usava nomes como “Omnipotent”, “Downloading”, “Shiza” ou “Kevin Maradona” e liderava o site pelo menos desde 2015.

A operação que levou à sua detenção, a "Operação Tourniquet", teve a colaboração da Polícia Judiciária portuguesa e das autoridades de EUA, Reino Unido, Suécia e Roménia. Além de Diogo Santos Coelho, foram presos dois dos seus alegados cúmplices. São todos suspeitos de terem traficado ou mediado vendas e resgates de dados de importantes empresas norte-americanas.

Muitos destes alegados crimes, garante a investigação, foram “praticados com recurso a um servidor informático alojado em Portugal”. Perante a dimensão e complexidade do caso, o FBI chegou mesmo a pedir a intervenção dos serviços secretos dos EUA que se infiltraram na operação e nos negócios do fórum de Diogo Santos Coelho.

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