Lacerda Machado suspeito de "aproveitar a amizade com António Costa" para pressionar membros do Governo - o que dizem os autos das operações de busca

Agência Lusa , AM
8 nov 2023, 08:51
O ex-administrador não-executivo da TAP, Diogo Lacerda Machado, durante a sua audição na Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela Política da Gestão da TAP na Assembleia da República (Lusa/ José Sena Goulão)

Autos indicam a existência de reuniões suspeitas entre o advogado Lacerda Machado (na foto) e o chefe de gabinete do primeiro-ministro - incluindo num gabinete na sede do PS. Ambos foram detidos no âmbito da operação que levou à demissão de António Costa

O advogado Diogo Lacerda Machado, detido no âmbito da investigação que levou à demissão de António Costa, foi contratado pela Start Campus para “aproveitar a sua relação de amizade com o primeiro-ministro” e a “proximidade” com Vítor Escária. A informação consta dos autos de buscas da operação citados pelo Expresso.

Os autos indicam a existência de reuniões suspeitas entre o advogado Lacerda Machado e o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária. De acordo com documentos a que o jornal Expresso teve acesso, essas reuniões aconteciam na residência oficial do primeiro-ministro, em São Bento, e também num gabinete usado por Vítor Escária na sede do Partido Socialista (PS), em Lisboa.

Os encontros podiam ser marcados no escritório da Start Campus, empresa investigada neste caso de negócios de hidrogénio verde e lítio, e ocorrer em “almoços e jantares privados” em que em algumas ocasiões as refeições atingiam um “valor não despiciendo”.

Os procuradores, citados no Expresso, indicam que o advogado Diogo Lacerda Machado foi contratado pelos investidores da Start Campus e depois diretamente por esta empresa, através de Afonso Salema, um dos administradores.

De acordo com os procuradores, o objetivo era “aproveitar a sua relação de amizade próxima com o primeiro-ministro”, bem como da relação de “proximidade” com Vítor Escária.

O advogado usaria igualmente essa proximidade para pressionar outros membros do Governo, através de Escária, bem como entidades como Instituto da Conservação e da Natureza e das Florestas (ICNF) ou o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, para “conferir andamento mais célere e favorável” a assuntos de interesse da Start Campus.

O primeiro-ministro, António Costa, pediu na terça-feira a sua demissão ao Presidente da República, que a aceitou, após o Ministério Público revelar que é alvo de investigação autónoma do Supremo Tribunal de Justiça sobre projetos de lítio e hidrogénio.

Esta decisão surge na sequência de uma operação sobre negócios do lítio e do hidrogénio verde, coordenada pelo DCIAP e que contou o apoio da Polícia de Segurança Pública (PSP) e Autoridade Tributária (AT).

No âmbito desta operação foram detidos o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, o advogado Lacerda Machado, o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas e os dois administradores da sociedade Start Campus, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves.

O MP constituiu ainda como arguidos o ministro João Galamba e o presidente do Conselho Diretivo da APA, Nuno Lacasta.

Em causa, segundo a Procuradoria-Geral da Republica (PGR) estão crimes de prevaricação, de corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e de tráfico de influência.

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