O Maisfutebol encontrou o antigo médio zairense em Birmingham. Uma conversa em bom português. «Apanhei um taxista doido e acabei na Luz»
DESTINO: 80's é uma nova rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 80's.TUEBA: Benfica, 1986 a 1988; V. Setúbal, 1988/89; Tirsense, 1989 a 1991; Sp. Farense, 1991/92; Gil Vicente, 1992/93; Leixões, 1993/94; Amora, 1995/96; Ourique, 1997/98.
Acabou. A Costa do Marfim é a nova campeã africana. Parabéns. E agora? Agora ficam as saudades das bizarrias, das confusões, das excentricidades, dos nomes quase impronunciáveis, das reações à Gervinho
O Maisfutebol
Gery Tueba Menayeame. Tueba, só Tueba, deixemo-nos de esquisitices. Por onde anda agora este zairense, campeão nacional pelo Benfica em 1987 (ano em que também venceu a Taça de Portugal) e vice-campeão da Europa em 1988?
«Alô, de Portugal? É o meu segundo país. Vivo em Inglaterra, na cidade de Birmingham, há dez anos, mas eu gosto é disso»
Surpresa das surpresas, Tueba continua a falar português. E bem. «Claro amigo, vivi aí quase 20 anos. E o meu Benfica? Sou sócio e tenho as quotas em dia. Visitei a Luz em novembro e tirei fotos ao lado da estátua do Eusébio. Conheci-o bem, que grande homem!»
TUEBA: «O Benfica quis baixar-me o salário, tive de fugir para o Norte»
Tueba e Álvaro Magalhães num estágio do Benfica
. 1986/87 (Benfica): 18 jogos oficiais/2 golos
. 1987/88 (Benfica): 24 jogos/1 golo
. 1988/89 (V. Setúbal): 29 jogos/1 golo
. 1989/90 (Tirsense): 27 jogos/2 golos
. 1990/91 (Tirsense): 32 jogos/1 golo
. 1991/92 (Sp. Farense): 28 jogos/2 golos
. 1992/93 (Gil Vicente): 26 jogos/sem golos
. 1993/94 (Leixões): 26 jogos/1 golo
. 1995/96 (Amora): 26 jogos/1 golo
. 1996/97 (Dragões Sandinenses)
. 1997/98 (Ourique)
. 1998/99 (U. Santiago)
Uma tentativa, duas tentativas, três tentativas. Perguntamos a Tueba o que faz atualmente, em Inglaterra, sem qualquer sucesso. Percebemos apenas que não está ligado ao futebol, a não ser como adepto.
Coragem, caro Tueba. Conte-nos mais coisas da sua vida.
Silêncio. Mais silêncio. E lá vai mais uma questão: senhor Tueba, algum deles é jogador de futebol, como o pai?
Há coisas piores, mas enfim. Percebemos a dor de Tueba.
Basta de falar do presente. Tueba, antigo internacional zairense, agora com 51 anos, chega a Portugal em 1986. É mais um dos zairenses importados por Portugal nesse período, como
Curiosamente, Tueba viaja para Portugal a pensar que vai jogar no Sporting. Acaba no hotel de Fernando Martins, então presidente do Benfica, e nos treinos da equipa de John Mortimore.
Nessa temporada, atenção, o plantel do Benfica está repleto de craques. Mortimore,
Tueba numa visita à Luz em novembro de 2013
Até que, a 14 de dezembro de 1986, surge a hecatombe. O Benfica é goleado por 7-1 em Alvalade e Mortimore decide fazer mudanças no onze inicial. Tueba é um dos contemplados.
«O Toni veio falar comigo. Era um gajo porreiro, simpático: ‘Tueba, agora é contigo. Queremos-te no lado direito do meio-campo, a ir à linha e cruzar. Não penses em mais nada’» .
Assim é. Na estreia (à 15ª jornada) faz 75 minutos contra o Sp. Braga e no segundo jogo é titular frente ao FC Porto. Mais 71 minutos e um «vai à linha e cruza» para o golo de Rui Águas, logo a abrir. 3-1 para o Benfica na Luz.
«Eu tinha tudo: força, técnica e um bom remate. Apanhei o defesa [Quim] distraído, arranquei e passei para o golo do Rui. Grande ponta-de-lança, dei o nome dele ao meu filho, já lhe tinha dito?»
Tueba a cruzar para Rui Águas marcar ao FC Porto (40s):
Nessa época, o Benfica ganha o campeonato e a taça. Vinga-se, portanto, dos 7-1 de Alvalade com alguma classe. Tueba joga os últimos minutos na tarde de consagração no Jamor. O artista da tarde é, no entanto, outro.
«O Diamantino, pá. Partiu tudo. Ganhámos 2-1 e ele marcou dois golos. Um de livre e outro numa grande jogada. Fintou dois ou três e rematou. Eu entrei perto do fim [84 minutos] para o lugar do Nunes, mas fui dos que mais festejei no fim. O Diamantino mereceu o champanhe todo que bebeu» .
De repente, lembramo-nos de perguntar o nome do segundo filho de Tueba… a medo, claro.
Tueba, não nos diga que o miúdo se chama Diamantino!? «Eh, eh, eh, grande Diamantino, pá» .