A indigitação de Luís Montenegro como primeiro-ministro foi alvo de análise por representantes de todos os partidos com grupo parlamentar
A uma semana de Luís Montenegro apresentar o seu Governo, a Iniciativa Liberal hasteia a bandeira da “responsabilidade” e reiterou que “não deixará de aprovar medidas” com as quais concorda caso não faça parte do Executivo. Mas há conversações a decorrer, garante Carlos Guimarães Pinto. De fora, para já, fica o Chega - e Rita Matias diz que chegou a hora de os partidos deixarem cair “o cordão sanitário ao Chega”.
Num debate que juntou todos os partidos com grupo parlamentar no Prime Time da CNN Portugal, Carlos Guimarães Pinto, da Iniciativa Liberal, vinca que o partido sempre se mostrou disponível para “ser parte da solução” do novo Executivo. “Estamos disponíveis para integrar um Governo do Partido Social Democrata se assim o desejarem”, mas garante que, “como partido responsável”, a Iniciativa Liberal “não deixará de aprovar” medidas com as quais concorda se não fizerem parte do Executivo.
Sobre eventuais coligações e pastas que poderão ser entregues aos liberais, Carlos Guimarães Pinto não se adiantou com pormenores. “Só sei das conversas informais, os líderes estão a falar a discutir”. Também Carlos Abreu Amorim, do PSD, diz que “os partidos estarão a fazer negociações e conversas formais e informais” e que a IL tem “vários pontos de convergência” com a Aliança Democrática.
Chega quer fim do "cordão sanitário"
Rita Matias, do Chega, critica a eventual união entre a AD e a IL para a formação de um governo ou acordo de convergência. “O Chega lamenta que o Partido Social Democrata prefira não adotar uma postura responsável”, atira, dizendo que “a responsabilidade era garantir uma maioria estável à direita”, na qual o partido liderado por André Ventura deveria estar.
Para a deputada, “a boa vontade da Iniciativa Liberal é elogiada”, o que, diz, não acontece com “a boa vontade do Chega, que já vem sendo expressa desde 2021”. Rita Matias diz ainda que ao excluir o Chega da mesa de negociações o governo fica refém da negociação “medida à medida” e de uma “esquerda que, na primeira oportunidade, corre com a direita do poder”.
Sobre o facto da eventual tentativa de Marcelo Rebelo de Sousa de afastar o Chega como principal líder de oposição do novo governo, Vitalino Canas, do PS, considera que “é inútil”. “O Chega não poderá ser líder de oposição contra um governo da AD, não conseguirá ser mais oposição do que o PS”, atira, embora admita que o rápido reconhecimento de derrota não caiu bem a todos os socialistas, pois “alguns entendem como prematuro”. Rita Matias discorda da incapacidade do Chega ser oposição e diz que chegou o momento de os partidos deixarem cair “o cordão sanitário ao Chega” e permitir que as “ideias do Chega sejam apresentadas”.
Vitalino Canas criticou ainda a “balbúrdia que já está a instalar-se na direita a propósito do que vai ser o governo e as propostas do governo, acho que vai ser algo muito cansativo para a política”.
Esquerda com (meio) pé no acelerador da oposição
Os partidos mais à esquerda continuam a acreditar que serão a grande oposição do governo da Aliança Democrática, mas, ainda assim, há abertura para que nem todos os nãos até agora ditos sejam um não.
António Filipe, do PCP, diz que o “orçamento ainda vem longe” e que “antes disso ainda vem o debate do programa do governo e é importante que as coisas fiquem muito claras”, daí o PCP ter já anunciado uma moção de rejeição. “Não podemos dar ao Chega o privilégio de ser oposição”, até porque diz que “a direita toda com o Chega vai unir-se no essencial”.
Já Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda, diz que “seria estranhíssimo que o Bloco de Esquerda encontrasse no orçamento da Aliança Democrática motivos de aprovação”. “Em coerência, o governo da direita, o orçamento da direita, merecerão um chumbo do Bloco de Esquerda e a oposição do Bloco de Esquerda”, continua a deputada, questionando como vai a AD aprovar medidas com o Chega contra. Joana Mortágua admite, porém, que o “BE estará disponível para avançar com propostas que podem ser coincidentes com vários partidos, como a recuperação da carreira dos professores”.
Com uma posição diferente, Isabel Mendes Lopes, do Livre, não descarta que haja diálogo com “direita democrática ou tradicional” em alguns temas, “como a criação de um círculo de compensação”. “Teremos sempre de avaliar”, afirma, explicando que temas que coloquem em causa direitos fundamentais terão um travão.