Lesados do BES aproveitam campanha de Ventura para protestar

24 jan 2022, 23:15

Em Guimarães, à espera do líder do Chega, que ali foi a uma arruada estavam lesados do BES e também do BANIF. "O casos não podem ser esquecidos", diziam. Ventura, por seu lado, aproveitou para garantir que os "responsáveis não se vão ficar a rir"

No passeio de uma rua estreita do centro histórico de Guimarães, Jorge Novo, de 65 anos, observava os 30 elementos da comitiva de André Ventura, que animados pelos bombos, distribuíam brindes do partido pelos populares que ali encontravam. O líder ainda não tinha chegado, mas Jorge Novo estava decidido a esperar o que fosse preciso para lhe falar do problema dos lesados do BES.

"Era cliente do BES e depositei lá o dinheiro de uma vida", explica à CNN Portugal, acrescentando que oito anos depois não tem um tostão. Por isso, anda a tentar encontrar os líderes de todos os partidos que estão em campanha eleitoral para os lembrar do caso e impedir que a "situação dos lesados fique esquecida", 

Jorge veio de Santa Maria da Feira para falar com André Ventura. "Roubaram-nos!", continua, sublinhando que por "o combate à corrupção fazer parte das bandeiras do Chega", este é momento ideal para por na ordem do dia um " problema que não ficou resolvido na banca". 

 "Está na hora de alguém fazer tremer o sistema", diz, enquanto os minutos passam sem que o líder do Chega apareça.  Mas a seu ver, André Ventura "poderá dar a volta" ao problema. Enquanto isso  passaram, entretanto, 45 minutos da hora marcada para o início da arruada, e o líder continuava sem aparecer. 

Jorge Novo é comerciante de produtos para padarias e pastelarias, negócio esse que o ajudou a sobreviver depois de perder mais de 100 mil euros. Casado e com um filho já de 38 anos, lamenta que podia ter investido no futuro da família mas "a conta ficou completamente bloqueada". Recordando todo o processo de acordos com o lesados em 2016,  o comerciante continua a mostrar sua indignação: "Onde é que está a responsabilidade desses senhores?" questiona, indignado. "Somos chutados e ficamos sem nada?". 

Ao longe, já perto das 17 horas, começa-se a ver uma viatura e o frenesim revela que se trata do veículo onde vem André Ventura.  Este sai do carro  rodeado de seguranças, junta-se aos apoiantes e inicia a ação de campanha. Nesse momento, Jorge Novo não perde tempo: pede autorização aos seguranças, e pouco depois está no meio da multidão a falar com o líder partidário. 

"Vou fazer tudo o que puder para garantir que situações dessas não se repitam e para que sejam compensados devidamente",disse, por seu lado, o candidato a Jorge, deixando uma promessa: "Pode contar connosco e acredite que os responsáveis não se vão ficar a rir".

Jorge Novo e Fernando Santos, ambos lesados do BES

 

Enquanto isso, surge um homem com uma carta na mão que quer entregar ao líder do Chega. Domingos Freitas está nervoso e na missiva que ali foi levar apelo ao candidato em nome de todos os clientes do BANIF que viram o seu dinheiro desaparecer. "Trabalhei 53 anos como carpinteiro, fiz umas poupanças para o fim da vida e roubaram-me à volta de 15 mil euros", desabafa, acusando o Estado, "o maior acionista do banco", de o ter roubado. Hoje vive sozinho em Guimarães, com 78 anos e uma reforma de 430 euros. "Estou desgraçado", lamenta. Sente frio durante o inverno e não pode ligar o aquecimento.

Domingos Freitas

 

Ventura fala de Rendeiro, Salgado e Sócrates

Aproveitando os desabafos de Jorge  Novo e Domingos Freitas, e perante as perguntas dos jornalistas André Ventura lembra que tem duas propostas neste âmbito, uma das quais "já foi apresentada no Parlamento" e a outra que o vai ser na próxima Legislatura. "A primeira, passa pelo confisco de bens em casos de crime económico", recorda, sublinhando: "Há pouquíssimos meios na Polícia Judiciária que se dedicam à recuperação de ativos".

A segunda, diz, tem a ver com os recursos. "É evidente que muitos dos recursos que estes indivíduos como Ricardo Salgado, João Rendeiro e José Sócrates, e outros, interpõem suspendem as decisões da justiça e isto significa que eles, fruto da presunção da inocência, continuam a estar na mesma posição durante vários anos”.

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