Tinha 75.800€ em dinheiro vivo na residência oficial do primeiro-ministro, o advogado diz que isso é "um facto metido a martelo" pelo Ministério Público: quem é Vítor Escária

9 nov 2023, 11:11
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Foi assessor económico de José Sócrates. Anos mais tarde tornou-se chefe de gabinete de António Costa. Foi detido no caso que levou à demissão do primeiro-ministro. Esta não é a primeira vez que o seu nome está sob suspeita. Outro dado: esta quinta-feira, António Costa exonerou Vítor Escária

Vítor Escária é um dos cinco arguidos detidos no âmbito do processo do lítio e hidrogénio verde. Era atualmente chefe de gabinete de António Costa, o primeiro-ministro demissionário, mas já tinha trabalhado com ele antes. Economista de formação, com pouco mais de 50 anos, não é a primeira vez que Vitor Escária vê o seu nome sob suspeita.

Quem primeiro o chama para trabalhar num Governo é José Sócrates, de quem foi assessor económico entre 2005 e 2011. Chegou a ser alvo de escutas e buscas devido à Operação Marquês, por ter estado envolvido num dos negócios investigados - o contrato de várias habitações conseguido pelo Grupo Lena na Venezuela. No entanto, não foi constituído arguido no processo.

Mas antes de regressar ao Governo, dessa vez pela mão de António Costa, fez parte de um grupo de trabalho coordenado por Mário Centeno, em 2015, que elaborou o cenário macroeconómico que serviu de base ao programa eleitoral do PS. Os socialistas não venceram as eleições mas acabaram por formar Governo pelo facto de o Parlamento ter ficado com uma maioria de esquerda.

Quando chega ao poder, em 2015, António Costa chama Vítor Escária para assessor económico, tal como tinha feito José Sócrates. Mas o escândalo das viagens pagas pela Galp para o campeonato europeu de 2016 leva ao seu afastamento da cena política em 2017.

E, neste caso, Vítor Escária foi mesmo constituído arguido por recebimento indevido de vantagem. O processo foi arquivado em 2020, segundo avançou o Observador na altura, com os arguidos a pagarem uma multa. A mesma notícia dizia que Vítor Escária pagou 1200 euros. Com o caso arquivado em julho, no mês seguinte António Costa decide que Vítor Escária seria seu chefe de gabinete.

Vítor Escária licenciou-se em Economia em 1994 no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), onde também assumiu o lugar de professor auxiliar. Fez o mestrado na mesma instituição e em 2004 doutorou-se pelo Department of Economics and Related Studies, University of York, do Reino Unido. É considerado um especialista em fundos europeus. Apesar de não estar diretamente ligado ao Partido Socialista, foram vários os anos que esteve ligado o mundo da política pela mão dos líderes socialistas.

"Um facto metido a martelo"

Vìtor Escária foi agora constituído arguido (e detido) num caso em que há suspeitas de corrupção e que envolve a extração de lítio em Montalegre e a central de hidrogénio verde em Sines. Nas buscas realizadas esta terça-feira, as autoridades encontraram 75.800 euros em dinheiro vivo no escritório de Vítor Escária em São Bento, residência oficial do primeiro-ministro.

Tiago Rodrigues Bastos, advogado de Vítor Escária, disse aos jornalistas que a quantia "não tem rigorosamente nada que ver com o objeto dos autos", estando relacionada com a atividade profissional de Escária "anterior às funções que exerceu".

"Essas explicações serão dadas ao tribunal", garantiu o advogado, acrescentando que a tese do Ministério Público não está relacionada com a apreensão da avultada soma de dinheiro e que a informação consta dos autos para "causar discussão na praça pública", dizendo mesmo que foi "um facto metido a martelo". 

A CNN Portugal sabe que Vítor Escária justificou os 75.800 euros com prestações de serviços em Angola que foram pagos em dinheiro. A justificação, porém, levanta um outro problema.

A propósito de problemas, António Costa resolveu assim parte dos seus: exonerou Vítor Escária este quinta-feira.

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