Coautor de homicídio em Cantanhede admite agressões a namorada após sair da prisão

Agência Lusa , DF
7 mar 2023, 15:07
Detido

O homem de 35 anos está a ser julgado por violência doméstica e maus tratos a animal doméstico, crimes que terão ocorrido logo após sair da prisão, no início de 2022, com liberdade condicional

Um dos autores do homicídio de um sucateiro na Tocha, em Cantanhede, em 2012, admitiu esta terça-feira, no Tribunal de Coimbra, ter agredido a namorada quando saiu da prisão, em 2022, mas rejeitou parte dos factos da acusação.

O homem de 35 anos está a ser julgado por violência doméstica e maus tratos a animal doméstico, crimes que terão ocorrido logo após sair da prisão, no início de 2022, com liberdade condicional, depois de ter cumprido dez anos de cadeia como um dos autores do roubo, sequestro e homicídio de um sucateiro de 90 anos, na Tocha, em Cantanhede.

No início do julgamento, o arguido admitiu ter agredido a sua namorada, mas rejeitou a tese apresentada na acusação do Ministério Público (MP), que falava de um homem “controlador, ciumento e possessivo”, entre março e agosto de 2022, período em que viveram na mesma casa.

No documento a que a agência Lusa teve acesso, o MP diz que o homem não permitia que a ofendida saísse de casa sozinha, que suspeitava de qualquer interação que esta tivesse com alguma figura masculina, inclusive o seu padrasto e um vizinho, que rasgava roupas que considerava impróprias e que teria matado um gato à sua frente, dizendo que lhe poderia fazer o mesmo.

Todos esses factos constantes da acusação foram rejeitados pelo arguido, salientando que apenas em algumas ocasiões terá partido para a violência, numa atitude que classificou de “desespero”.

O homem tinha saído há pouco tempo da prisão quando conheceu a jovem de 25 anos, que lhe pediu para morarem juntos logo no arranque na relação, disse.

“Eu não queria, porque estava a tentar reconstruir a minha vida. Eu não tinha trabalho, ela também não, e a casa onde estávamos não tinha condições”, contou, referindo que as coisas pioraram assim que passaram a sentir maiores dificuldades financeiras e a mulher engravidou.

Homem admite ter pedido a companheira para "ir embora" de casa, sendo recusado pela mesma

Sublinhando que havia até falta de comida, pediu à namorada para “ir embora” daquela casa, para tentarem estabilizar as vidas, mas a companheira recusou, tendo dito que não podia voltar para a sua família (a mãe da vítima contou que a filha fugiu de casa aos 18 anos e só regressou após ter alegadamente sofrido violência doméstica neste relacionamento).

“Foi um ato de desespero para me tentar afastar dela. Não queria nem o mal dela nem o meu. Eu mandava-a embora e ela não ia. Só peço que me deem uma oportunidade dentro dos possíveis, para eu poder reconstruir a minha vida lá fora. Foram muitos anos presos, muita coisa tinha mudado e eu estou sem nada. Preciso de reconstruir a minha vida, enquanto sou novo. Se agora estava difícil arranjar trabalho, daqui a uns anos ainda será mais. Sei que errei, mas foi um ato de desespero”, vincou.

Admitiu que, por vezes, tinha ciúmes, mas que a situação era recíproca.

“Eu tinha a minha desconfiança dela e ela de mim, mas ela estava livre de ir embora”, salientou, admitindo que, no dia em que a jovem fugiu de casa e em que é chamada a GNR, bateu na namorada.

“Sei que lhe bati, mas depois apaguei”, referiu, rejeitando que tivesse alguma catana consigo.

A mãe da vítima, presente nesta primeira sessão, referiu que, depois de aos 18 anos a filha sair de casa sem dizer nada, só voltou a falar com ela quando esta apareceu em casa, depois de fugir do namorado, em 2022.

Dias mais tarde, já regressada à casa onde vivia com o arguido, ligou-lhe a dizer que o namorado a queria matar, contou a mãe, referindo que decidiu ligar à GNR, que foi ao local.

A testemunha confirmou que a filha tinha algumas “negras” no corpo e “um corte no braço”, mas que parecia antigo.

A mãe mostrou-se ainda “muito magoada” com a filha, que, depois daquele episódio, voltou a desaparecer sem dizer “uma palavra”.

“Telefonou-me a GNR duas vezes à procura dela e eu não sabia de nada”, afirmou.

O julgamento continua no dia 14, onde se irá tentar ouvir o padrasto e mãe do arguido.

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