Opinião (a favor): Porque é que este antigo republicano vai estar atento à coroação do Rei

CNN , Sunder Katwala
3 mai 2023, 08:00
Rei Carlos III (Associated Press)

"Passadas algumas décadas, serei uma das pessoas a assistir à coroação. Mudei de opinião sobre a monarquia."

Nota do Editor: Sunder Katwala é diretor do grupo de reflexão British Future. É o autor do livro “How to be a Patriot: Why love of country can end our very British culture war” [à letra, “Como Ser um Patriota: Porque é que o amor pelo país pode acabar com a nossa muito britânica guerra cultural”]. As opiniões expressas neste artigo são da sua inteira responsabilidade.

Quando era adolescente, eu era a favor da substituição da monarquia por uma república. A princípio, isso parecia simples senso comum. Porque é que o mais alto cargo do país só deveria estar aberto àqueles que nasceram para ele?

Os meus pais vieram para o Reino Unido da Irlanda e da Índia - ambas se tornaram repúblicas depois de garantirem a sua independência da Grã-Bretanha.

Talvez eu tenha pensado que, se eu não fosse republicano, quem é que iria ser?

Passadas algumas décadas, serei uma das pessoas a assistir à coroação. Mudei de opinião sobre a monarquia.

A coroação do Rei Carlos é um momento importante na história, parte de uma tradição que remonta a quase mil anos - e a primeira vez que a maioria de nós, todas as pessoas com menos de 70 anos, assistirá a uma cerimónia destas.

Então, porque é que mudei de ideias?

Apercebendo-me de que a maioria das pessoas não parecia concordar com o meu “eu” adolescente, tentei refletir sobre a razão disso. Uma “monarquia democrática” pode parecer um paradoxo - mas uma “monarquia constitucional” como a nossa tem de facto legitimidade democrática, desde que mantenha um amplo consentimento público.

Os opositores dizem frequentemente que isto reflete a propaganda pró-realeza e a parcialidade dos meios de comunicação social. Mas não me parece convincente a ideia de que o público é enganado de modo a apoiar a monarquia.

E a defesa pró-república é demasiado um exercício de arrumação racional - remover algo distintivo da Grã-Bretanha para nos tornar um pouco mais parecidos com todos os outros lugares.

Também cheguei a pensar que a nossa monarquia simbólica é em grande parte inofensiva. Não é ela que determina as grandes questões - como o Brexit ou a independência da Escócia.

A intuição de que ela pode legitimar a desigualdade parece mais fraca se nos apercebermos de que algumas das sociedades mais iguais - como a Suécia - têm monarquias, enquanto algumas das mais desiguais - como os EUA - são repúblicas.

Mais recentemente, após uma década de forte polarização política, deveria ser dada menos ênfase ao facto de a instituição ser vista como uma decoração simbólica inofensiva - e mais à forma como pode ser socialmente útil.

O limitado papel constitucional da monarquia está fixado, mas o seu papel cívico pode evoluir.

Numa era individualista e algo fragmentada, não há muitas coisas - além dos grandes eventos desportivos e das grandes ocasiões reais - em que 20 milhões de pessoas prestem atenção à mesma coisa. Não devemos desistir de ânimo leve de uma das poucas coisas que temos em comum.

Os rituais e os momentos que partilhamos são importantes. Na nossa sociedade livre, a forma como as pessoas se envolvem será uma questão de escolha e não de compulsão.

Numa sociedade em rápida mutação, os símbolos da tradição podem ser importantes fontes de tranquilidade, especialmente se houver um esforço proactivo para chegar a toda a sociedade.

A monarquia pode ser particularmente importante numa Grã-Bretanha com uma crescente diversidade étnica e religiosa. Isso reflete-se no desejo do Rei de equilibrar o facto de ser o chefe da igreja estabelecida com a articulação do seu sentimento de um dever adicional de proteger a diversidade deste país.

O Rei poderá ter agora o desafio de chegar a várias gerações. Muitos dos imigrantes da primeira geração da Commonwealth que vieram para a Grã-Bretanha nas décadas que se seguiram a 1948 falaram da sua identificação com a Rainha.

A Rainha era menos um símbolo do império em declínio em que nascera do que dos laços com a Commonwealth que defendia. Esse empenhamento na Commonwealth indicava que ela reconhecia a história que explicava a sua presença aqui. Sabia porque é que as minorias étnicas da Grã-Bretanha eram britânicas.

As gerações mais jovens nascidas na Grã-Bretanha, tanto dos grupos maioritários como dos minoritários, podem revelar-se mais difíceis de alcançar. Mas uma Coroa de transição deve fazer esse esforço.

Uma monarquia constitucional precisa de um amplo consentimento, não de aclamação universal. O quarto do público que se quer ver livre da monarquia deve ter uma quota-parte de voz mais justa do que teve durante o período de luto do Outono passado.

Afinal de contas, discordância democrática não é desordem. Devemos tentar discordar bem da monarquia: o debate sobre as razões pelas quais as pessoas querem mantê-la, reformá-la, talvez gradualmente, ou mesmo substituí-la, ilumina ideias sobre quem somos e quem queremos ser.

Todos devem ser convidados a participar nesta ocasião nacional da forma que lhes parecer mais correta.a

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