Acordo "histórico" da COP28 faz apelo sem precedentes ao fim dos combustíveis fósseis - mas não dissipa dúvidas

CNN , Angela Dewan, Laura Paddison, Angela Fritz, Ella Nilsen e Rachel Ramirez
13 dez 2023, 09:51
Presidente da COP, Sultan Ahmed Al Jaber (Getty Images)

Alguns países e especialistas em clima afirmam que o acordo da COP28 assinala o fim da era dos combustíveis fósseis, mas não chega a apelar ao mundo para "eliminar gradualmente" o petróleo, o carvão e o gás - a linguagem ambiciosa que mais de 100 países e muitos grupos climáticos têm vindo a exigir

O mundo chegou a acordo sobre um novo acordo climático no Dubai, esta quarta-feira, durante a cimeira COP28, após duas semanas de discussões, fazendo um apelo sem precedentes à transição para o abandono dos combustíveis fósseis, mas utilizando uma linguagem vaga que poderá permitir que alguns países tomem medidas mínimas.

O acordo, conhecido como "Global Stocktake", foi aprovado esta manhã, depois das negociações terem sido prolongadas durante uma maratona de conversações entre países amargamente divididos quanto ao futuro papel do petróleo, do gás e do carvão.

Alguns países e especialistas em clima afirmam que o acordo da COP28 assinala o fim da era dos combustíveis fósseis, mas não chega a apelar ao mundo para "eliminar gradualmente" o petróleo, o carvão e o gás - a linguagem ambiciosa que mais de 100 países e muitos grupos climáticos têm vindo a exigir.

Em vez disso, o acordo "apela" aos países para que "contribuam" para os esforços globais de redução da poluição por carbono da forma que considerarem mais adequada, oferecendo várias opções, uma das quais é "abandonar os combustíveis fósseis nos sistemas energéticos (...) acelerando a ação nesta década crítica, de modo a atingir a net zero [neutralidade carbónica] até 2050".

O presidente da COP28, Sultan al-Jaber, classificou o acordo como "histórico" no seu discurso perante os delegados nacionais na sessão final de aprovação do acordo.

"Pela primeira vez, temos uma linguagem sobre combustíveis fósseis no nosso acordo final", afirmou. "Conseguimos uma mudança de paradigma que tem o potencial de redefinir as nossas economias", acrescentou.

Muitos dos delegados dos países celebraram o acordo como um importante passo em frente.

"Todos nós conseguimos encontrar um parágrafo ou frases, ou secções, em que teríamos dito as coisas de forma diferente", reconheceu o enviado dos EUA para o clima, John Kerry, após o acordo ter sido aprovado. Mas, sublinhou, "ter um documento tão forte como o que foi elaborado é motivo de otimismo, de gratidão e de felicitações significativas para todos os presentes."

E acrescentou que o acordo é "muito mais forte e claro do que alguma vez ouvimos", referindo-se à ambição acordada internamente de limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, um limiar para além do qual os cientistas dizem que os seres humanos e os ecossistemas terão dificuldade em adaptar-se.

No entanto, a Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS), organização intergovernamental, afirmou estar "excecionalmente preocupada" com o acordo. "Fizemos um avanço gradual em relação ao status quo, quando o que realmente precisávamos era de uma mudança exponencial", argumentou em comunicado.

Muitos especialistas em clima, apesar de acolherem com cautela a referência aos combustíveis fósseis no acordo, apontam pontos fracos, incluindo o facto de deixar a porta aberta à continuação da expansão dos combustíveis fósseis.

"Finalmente, os apelos para acabar com os combustíveis fósseis foram parar ao papel, preto no branco, nesta COP, mas as lacunas existentes ameaçam minar este momento de avanço", considerou Jean Su, diretor de justiça energética do Center for Biological Diversity dos Estados Unidos.

Harjeet Singh, responsável pela estratégia política global da organização sem fins lucrativos Climate Action Network International, afirmou que "depois de décadas de evasão, a COP28 lançou finalmente um foco de luz sobre os verdadeiros culpados da crise climática: os combustíveis fósseis. Foi definida uma direção, há muito esperada, para nos afastarmos do carvão, do petróleo e do gás".

No entanto, acrescentou, "a resolução está manchada por lacunas que oferecem à indústria dos combustíveis fósseis numerosas vias de escape, com base em tecnologias não comprovadas e inseguras".

O acordo também apela a uma aceleração de tecnologias como a captura e armazenamento de carbono - um conjunto de técnicas que estão a ser desenvolvidas para retirar a poluição de carbono de instalações poluentes, como centrais elétricas, e do ar, e armazená-la no subsolo.

Muitos cientistas manifestaram a sua preocupação com o facto da captação de carbono ser dispendiosa, não estar comprovada à escala e ser uma distração das políticas de redução da utilização de combustíveis fósseis.

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