Gasóleo e gasolina já estão abaixo do preço praticado antes da invasão da Ucrânia. Porque estão a descer os combustíveis?

7 dez 2022, 13:20
Preços do combustível continuam a subir (Nicolas Asfouri/AFP via Getty Images)

A revisão da carga fiscal veio interromper a queda no preço dos combustíveis que se verificam há várias semanas. A expectativa, tendo em conta a guerra na Ucrânia e a aproximação do inverno, seria a de um aumento, mas tal não acontece

Com a revisão da carga fiscal sobre os combustíveis, anunciada na passada sexta-feira pelo Ministério das Finanças, o que deveria ter sido uma descida de três cêntimos no litro do gasóleo e de 1,5 cêntimos na gasolina, transformou-se num aumento de 1,8 cêntimos e 1,4 cêntimos, respetivamente.

A redução do desconto do Imposto sobre os Produtos Petrolíferos (ISP) acabou por anular aquilo que deveria ter sido uma continuação da descida do preço dos combustíveis, uma tendência que já se verifica há várias semanas.

Segundo dados da Direção-Geral de Energia e Geologia, o preço médio da gasolina simples 95 está nos 1,655 euros, enquanto o preço médio do gasóleo simples se situa nos 1,647 euros (dados até 6 de dezembro de 2022). Estes números, por sua vez, já são inferiores aos valores praticados antes da guerra na Ucrânia.

No caso da gasolina, a descida do preço tem sido mais acentuada, estando até inferior ao praticado em janeiro. A 24 de fevereiro, data em que arrancou a invasão russa da Ucrânia, o preço médio da gasolina era de 1,816 euros, enquanto a 1 de janeiro estava nos 1,662 euros. Mesmo o preço médio do gasóleo, que já chegou a ser superior ao da gasolina (algo inédito até 2022), estava a 1,66 euros a 24 de fevereiro, embora ainda se mantenha longe dos 1,494 euros registados em 1 de janeiro.

Os preços atualmente praticados refletem uma tendência de descida no preço dos combustíveis que já se verifica desde outubro no caso do gasóleo e novembro para a gasolina. No entanto, porque acontece esta descida quando os portugueses já consomem mais gasolina face ao período pré-pandemia, além de o inverno se estar a aproximar, implicando uma maior despesa com o aquecimento?

É verdade que com a chegada do inverno, as necessidades energéticas com o aquecimento aumentam, no entanto, em nota enviada à CNN Portugal pela Associação Portuguesa De Empresas Petroliferas (Apetro), a associação esclarece que as necessidades de aquecimento têm um impacto mais significativo no consumo de gás natural do que nos combustíveis líquidos.

Dados do Eurostat recolhidos em 2022 também apontam neste sentido ao concluir que do total de energia consumida pelas famílias na União Europeia em 2020, mais de metade (62,8%) se destina ao aquecimento do lar. Adicionalmente, do total da energia consumida pelos agregados familiares, 31,7% tem origem no gás natural, 24,8% advém da eletricidade, 20,3% das energias renováveis, enquanto 12,3% provém de petróleo e seus derivados.

Neste sentido, podemos justificar a descida do preço dos combustíveis das últimas semanas com a evolução das cotações do petróleo e dos combustíveis refinados nos mercados internacionais, mas porque estão estes mercados em baixa? A Apetro explica que a evolução do preço destas mercadorias assenta muito em expectativas.

De momento, a associação garante que as expectativas são de uma desaceleração do crescimento económico a nível mundial, além de uma situação na China marcada pelo encerramento, ou redução, de algumas unidades industriais devido a surtos de covid-19. Acontece que a China é o maior importador de petróleo do mundo o que, por sua vez, leva os analistas a considerar uma possível redução no consumo do “ouro negro”, esclarece.

A junção de uma economia mundial em desaceleração, aliada a um consumo reduzido de petróleo pelo seu maior consumidor, leva a um excesso de oferta deste produto no mercado, isto é, mais petróleo disponível do que o necessário. Por sua vez, isto leva à descida das cotações nos mercados internacionais, diz a Apetro.

Contudo, a associação sublinha que todos estes fatores são marcados pela volatilidade, pelo que o cenário se pode alterar de um momento para o outro.

Relacionados

Economia

Mais Economia

Patrocinados