LC: Chelsea-PSG, 1-1 (2-2, ap) (crónica)

11 mar 2015, 22:25

Calculismo de Mourinho correu mal em mais uma noite para a história do futebol

Estão a ver aquela lengalenga de o futebol ser um desporto único, em que tudo pode acontecer, nada pode ser dado como adquirido e que torna o improvável no certo? É para jogos como este que foi inventada.
 
O PSG, com dez desde o minuto 30, foi a Londres eliminar o Chelsea que José Mourinho quis calculista desde cedo, mas que acabou agarrado à cabeça e de ilusões desfeitas. Está fora da Liga dos Campeões e não se pode queixar: o PSG, com dez, nunca foi inferior, e foi gigante na crença. Mereceu o apuramento.
 
Tudo isto num filme que apela ao velho chavão das «duas partes distintas». Com a nuance de que a primeira teve oitenta minutos e roçou o tédio. A segunda, composta pelos últimos dez e todo o prolongamento, trouxe mais uma bela página para a história da Champions e do futebol.
 
Recorde o jogo AO MINUTO


Se o início de jogo (entenda-se, primeiros minutos) foi algo frenético, percebeu-se depois que o só mesmo devido ao nervosismo, muitas vezes traduzido em agressividade, de ambas as equipas. O 1-1 de Paris servia ao Chelsea, mas ambos sabiam que um passo em falso poderia deitar tudo a perder.
 
Esse lado calculista foi mais visível na equipa de José Mourinho, sobretudo porque ficou em superioridade numérica bem cedo na partida. O árbitro holandês Bjorn Kuipers considerou merecedora de cartão vermelho uma entrada de Ibrahimovic sobre Oscar, ao minuto 32. Foi dura, sim, mas o amarelo teria resolvido bem a situação.
 
Com um jogador a mais esperava-se que o Chelsea pudesse assumir de vez um jogo repartido até então. E o puxasse de vez para o seu lado. Ilusão, apenas. A equipa de Mourinho manteve-se expectante. Teve mais bola, sim, mas sem forçar um passo que, caso corresse mal, poderia deitar tudo a perder. Calculismo ao extremo, algo que já não surpreende nas equipas do técnico português.
 
O PSG, por seu turno, fazia o que é de lei nestas alturas: reagrupava a equipa e tentava o contra-ataque. Ora, contra uma equipa que não dava um passo em falso e com o jogo a entrar numa cadeia de faltas atrás de faltas, tornava-se difícil que houvesse espaço.
 
Não foi de estranhar, portanto, que o primeiro remate do jogo tenha surgido já a quatro minutos do intervalo. Oscar, timidamente, tentou a sorte de fora da área mas saiu à figura. Sem atar nem desatar, o jogo recolheu aos balneários triste e cinzento. Nem parecia uma noite de Champions, no fundo. E no segundo tempo pouco mudou, de início.
 
Mourinho até trocou Oscar por Willian logo no reatamento, mas a solução não trouxe a frescor que se esperava. Agitou de bola parada, onde é forte, e pouco mais. O Chelsea continuou longe da baliza e por culpa própria.
 
Cavani no prefácio de dez minutos elétricos 

 
Aliás, antes de o jogo entrar no carrossel final, que nada teve a ver com os 80 minutos anteriores, a melhor ocasião foi mesmo do PSG. Cavani, isolado por Pastore, ficou na cara de Courtois, tirou o guarda-redes da frente mas, de ângulo apertado, atirou ao poste.
 
Respirou fundo Mourinho e viu a equipa voltar a controlar à distância. O jogo caminhava lentamente para o 0-0 que servia para a festa, mas os últimos dez minutos foram um filme à parte. E deram início a uma noite para recordar.
 
Ramires deu o aviso com um remate que Sirigu sacudiu para canto. Deste veio o 1-0. Após dois toques, a defesa do PSG não tirou a bola da área e esta foi parar aos pés de Cahill que fuzilou a baliza. Jogo resolvido…não era?
 
A derrota castigava muito a organização francesa com dez e David Luiz, que no último Verão trocou Londres por Paris, corrigiu com estrondo: entrada fulminante, de cabeça, em novo canto. 1-1. Ia haver prolongamento.
 
E aí aconteceu o lance mais surreal do jogo, com Thiago Silva a colocar a mão na bola numa disputa aérea na área com Zouma. A repetição não é totalmente esclarecedora, mas a ausência de protesto do brasileiro ajuda a perceber que não se tratou de um erro de Kuipers: o gesto, inconcebível a este nível, comprometeu-o.
 
Hazard, com toda a calma do mundo, fez o 2-1 e colocou o Chelsea na frente da eliminatória. Com o PSG esgotado fisicamente, seria uma questão de tempo até o carimbo passar definitivamente para o passaporte de Mourinho. Mas o futebol, insiste-se, não para nunca de surpreender.
 
O mesmo Thiago Silva que quase enterrou o PSG, puxou-o para cima com duas estocadas. A primeira foi negada por Courtois. À segunda, nem o gigante belga se intrometeu. O cabeceamento saiu perfeito, o PSG empatou o jogo e o brasileiro passou de vilão a herói.
 
Um caminho bem mais curto no futebol do que aquele que o Chelsea tinha de fazer para voltar a «apurar-se». Nada feito, então. Controlo do PSG com frieza, apito final e festa francesa.
 
Mourinho, este noite, foi traído pela própria estratégia. 

Relacionados

Champions

Mais Champions

Mais Lidas

Patrocinados