Lucros da Caixa, 1,3 mil milhões. Salários, 2 717 €. Convites para o governo, zero

15 mar, 16:43
O presidente da Comissão Executiva da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo, durante a apresentação dos resultados de 2023 (Lusa/ José Sena Goulão)

Banco do Estado lucrou 108 milhões por mês em 2023. Em média, são 147 mil euros por hora, ou cerca de 3,5 milhões por dia. Questionado sobre os rumores de que poderá integrar o Governo da AD, Paulo Macedo limita-se a dizer: "Ninguém me contactou, portanto, não há qualquer convite. Zero."

A Caixa Geral de Depósitos apresentou, esta sexta-feira, os lucros referentes ao ano de 2023, que atingiram um novo recorde: foram 1.291 mil milhões de euros. Segundo Paulo Macedo, presidente executivo da CGD, o banco público vai entregar ao Estado dividendos num total superior a 1.200 milhões de euros (incluindo dividendos em espécie, o que inclui a entrega do edifício da sede da CGD).

Trata-se de um crescimento de 53,14% face a 2022, ano em que os resultados líquidos haviam sido de 843 milhões de euros. 

Lucros dos bancos em 2023
Bancos Lucros 2023 Lucros 2022 Crescimento € Crescimento %
CGD 1291 843 448 53,14%
Santander 894,6 568,5 326,1 57,36%
MillenniumBcp 856 197,4 658,6 333,64%
Novo Banco 748,2 585,9 162,3 27,70%
Banco BPI 524 368,9 155,1 42,04%
Total 4313,8 2563,7 1750,1 68,26%
Valores em milhões de euros

Estes resultados foram "muito impulsionados pela margem financeira", que reflete o efeito das taxas de juro, explicou Paula Geada, administradora do banco controlado pelo Estado. 

Paula Geada garantiu ainda que o banco público estima devolver ao Estado, em dividendos, 525 milhões de euros este ano, sendo que isto permite cumprir o "compromisso de devolver aos contribuintes este valor [do aumento de capital realizado em 2017] na sua totalidade". Segundo Paula Geada, o valor dos dividendos pagos entretanto já supera o 2,2 mil milhões de euros.

"A Caixa teve o maior volume de negócios da banca nacional", num total 138 mil milhões de euros, quantificou ainda a administradora Paula Geada.

A Caixa Geral de Depósitos mantém-se como líder no crédito à habitação em Portugal, com uma quota de 23,5%, acrescentou Paula Geada, que sublinhou também duas tendência em 2023: o aumento da procura de créditos com taxa fixa e a realização de amortizações antecipadas de créditos.

Salários de 2 717 euros

O banco público revelou que, em 2023, 93% dos trabalhadores receberam um prémio de desempenho, sendo que praticamente todos eles (97%) receberam pelo menos um ordenado extraordinário. Segundo Paulo Macedo, foram no total os prémios mais altos alguma vez pagos pelo banco, somando 30 milhões de euros. "É o maior de sempre per capita", disse.

Em causa está a tensão social no banco, sendo que Paulo Macedo desvalorizou o impacto da greve, já que a informatização dos serviços bancários permite atenuar problemas junto dos clientes. Ainda assim, realçou a necessidade de haver acordos com os sindicatos. Mas estranhou o facto de as propostas da Caixa terem sido melhores do que as de outros bancos onde não houve greve.

E quantificou que o ordenado médio bruto na Caixa Geral de Depósitos é neste momento de  2717 euros, realçando que, além disso, o ordenado mínimo bruto da Caixa é idêntico ao salário médio em Portugal.

Nos últimos anos, a CGD tem mantido em vigor um programa de reestruturação de pessoal para redução de trabalhadores, seja através de pré-reformas e reformas seja por rescisões por mútuo acordo.

A CGD tinha 6.243 trabalhadores em Portugal no fim de 2023, menos 270 do que em 2022, segundo as contas anuais divulgadas. Quanto à rede da Caixa Portugal (agências, espaços Caixa e gabinetes de empresas), o banco público manteve o número de espaços comerciais em 515.

Taxas de juro vão descer 

O presidente-executivo da CGD dá como provável uma descida das taxas de juro, alinhando-se com as estimativas anteriores do governador do Banco de Portugal, na casa dos 2%. Recorde-se que, neste momento, a Euribor a seis meses, por exemplo, está nos 3,9%.

Paulo Macedo aponta para taxas de juro um pouco acima dos 2%, embora não diga o período temporal em que tal deverá  ocorrer. De qualquer forma, no segundo semestre deste ano, os lucros da CGD já deverão cair, refletindo essa descida das taxas de juro.

"A Caixa sempre teve resultados positivos quando as taxas de juro eram negativas", lembra no entanto Paulo Macedo, acrescentando: “Concordo que os resultados da banca serão decrescentes no futuro e que a margem tenderá a normalizar.”

E o governo? 

Questionado sobre se o próximo governo deve ou não realizar um Orçamento do Estado retificativo, ou manter o orçamento em vigor, Paulo Macedo foi reservado.

"Como já se viu, há ministros das finanças que dizem que não haver aprovação de orçamentos é bom. Pessoalmente acho que é importante ter uma orientação sobre o que é que se pretende para o país e para as empresas", afirmou, alertando que “não é bom politizar a Caixa, embora tenha sido utilizada várias vezes a Caixa na campanha eleitoral. Agora, a Caixa é totalmente alheia a isso e não contribui parta isso”.

Respondendo a uma questão sobre se terá sido convidado a integrar o Governo de Luís Montenegro, conforme já foi noticiado mas sem confirmação, Paulo Macedo disse apenas: "Ninguém me contactou, portanto, não há qualquer convite. Zero".

Perante a insistência dos jornalistas, que questionaram Paulo Macedo várias vezes sobre a sua eventual disponibilidade para entrar num governo liderado por Luís Montenegro, Paulo Macedo nunca desenvolveu: "ninguém me convidou para nada e estou comprometido com a Caixa". 

Depósitos mais altos

Paulo Macedo gabou-se ainda de o banco público ter aumentado as taxas de depósitos pagas aos clientes em 2023, tendo sido único a anunciá-lo, segundo disse, referindo-se a publicidade na imprensa: "Liderámos a subida [das taxas de depósitos] e influenciámos os outros bancos".

Para já, a Caixa não decidiu ainda vender certificados de aforro, possibilidade que o Governo criou, mas sem adesão até agora.

“Nenhum dos grandes bancos aderiu à comercialização de certificados de aforro”, relembrou Paulo Macedo. “A Caixa vai estudar o assunto. Temos sempre de ver a questão da canibalização relativamente aos produtos comercializados pela Caixa.” Além disso, sublinhou, é essencial manter os bons rácios de liquidez dos bancos.

 

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