"Se isto é ser corrupto, eu também quero ser corrupto". José Ornelas aplaude "cunha" no caso das gémeas - só que há um problema na análise

19 dez 2023, 21:34

Sandra Felgueiras e José Alberto Carvalho mostram como as declarações do bispo assentam num dado "totalmente errado"

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa decidiu falar sobre o caso das gémeas tratadas no Hospital de Santa Maria. Perante os jornalistas, e sem que lhe tivessem perguntado sobre o assunto, José Ornelas defendeu todos os intervenientes neste processo, no qual pode estar em causa uma cunha, que já está a ser investigada pelo Ministério Público.

José Ornelas afirmou que se os políticos que ajudaram a marcar a consulta foram corruptos então, também ele quer ser corrupto.

"Houve gente que apressou, fosse quem fosse, não me interessa. Se isto é ser corrupto, eu também quero ser corrupto, e tenho tentado", afirmou, dizendo que "estamos no Natal".

Só que há um problema nas declarações do bispo de Leiria-Fátima. Como explicaram Sandra Felgueiras e José Alberto Carvalho no Jornal Nacional da TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal), esta declaração assenta num dado completamente errado.

É que não estava em causa salvar as gémeas, que não foram salvas em Portugal, nem poderiam sê-lo.

O medicamento que lhes foi administrado, e que serve para tratar a atrofia muscular espinhal tipo 1, não tem um valor terapêutico maior do que aquele que estava a ser administrado no Brasil.

Esta mesma informação foi dada aos pais no Brasil, pelo Tribunal Federal, ao qual a família recorreu para que o Estado brasileiro pagasse a terapêutica de toma única, que custa dois milhões de euros por utente.

A justiça brasileira negou essa pretensão, pelo que a família decidiu tentar o mesmo, mas em Portugal. Também os médicos do Hospital Dona Estefânia disseram a mesma coisa: não havia vantagem em passar a administrar o Zolgensma. Por último, a própria auditoria do Hospital de Santa Maria, onde as gémeas acabariam por ser tratadas, confirma este cenário. A única vantagem do Zolgensma é, a longo prazo, o preço do tratamento ficar mais baixo.

Foi essa mesma auditoria que concluiu que houve uma violação da portaria que regula o normal acesso ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), uma vez que a consulta foi marcada, como diz o documento, pelo então secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales.

A gravidade deste caso reside no facto de ter sido atribuído um tratamento a favor de duas crianças, num caso que pode ter prejudicado vários outros lusodescendentes que pediram o mesmo tratamento, mas não o obtiveram.

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