Família das gémeas diz que desconhece como foi marcada polémica consulta no Santa Maria

6 dez 2023, 21:07

Família diz que contactou vários médicos do SNS, insistiu e que alguém (não sabe quem, nem como) marcou a consulta. Antes da viagem, os pais tinham uma equipa de advogados em Lisboa

É uma das dúvidas sobre o caso das gémeas tratadas no Hospital de Santa Maria: quem marcou a primeira consulta que seria decisiva para que fosse mais tarde aprovado o uso do medicamento que custava cerca de dois milhões de euros? 

Três documentos do processo clínico das crianças, a que a TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal) teve acesso ao longo das últimas semanas, têm escrito que a consulta foi marcada pelo secretário de Estado da Saúde, na altura António Lacerda Sales, uma marcação que terá acontecido já depois do e-mail escrito pelo filho Marcelo de Rebelo de Sousa para o Presidente da República que acabou encaminhado para o gabinete do primeiro-ministro. 

Apesar daquilo que está escrito nos registos clínicos, o ex-secretário de Estado, hoje deputado do PS, já veio dizer que não marcou nada, acrescentando que "nenhum secretário de Estado, nem ninguém, tem poder para marcar consultas, nem para influenciar ou violar quer a consciência quer a autonomia de qualquer médico".

Do lado da família, depois das palavras da mãe à TVI sobre a influência de um "pistolão" (uma espécie de cunha) no tratamento das filhas perante a resistência dos médicos do Santa Maria, surge agora uma espécie de explicação para a primeira consulta: a família não sabe como é que esta foi marcada. 

Uma chamada avisou que tinham a consulta marcada

Um documento enviado pelo advogado da família à TVI, onde se relata a história das gémeas antes e depois de chegarem a Portugal, explica que "sem saber exatamente como de fato ocorreu, Daniela [a mãe das gémeas] recebeu uma ligação que tinha consulta agendada para as filhas". 

A consulta aconteceu a 5 de dezembro de 2019 apenas com a presença do pai e do tio, sem a presença das crianças internadas no Brasil e sem condições clínicas de fazerem uma viagem tão longa.   

O advogado da família (que já negou que a família conhecesse o filho do Presidente da República, apesar dos contactos de Nuno Rebelo de Sousa com Belém) acrescenta que apesar de desconhecer a origem exacta da consulta, estão convencidos que esta surgiu depois de inúmeros contatos feitos pela família e advogados junto dos hospitais para conseguir que as crianças (com nacionalidade portuguesa há pouco tempo e a residir em São Paulo) recebessem em Portugal aquele que na altura era o medicamento mais caro do mundo. 

Segundo a família, "após tantos e-mails, telefonemas e força da campanha, que tomou proporção global de conhecimento, dada a raridade do caso, sequer houve preocupação de como e quem pudera ter feito o agendamento". 

"Tantas foram as pessoas que enviaram e-mails e fizeram esforços para se conseguir as consultas que a mãe na verdade não sabe qual foi a origem de fato do agendamento", refere o documento enviado pelo advogado. 

Viagem ao Brasil para avaliar as crianças e equipa de advogados em Lisboa

O mesmo documento mostra uma troca de e-mails com médicos de três hospitais portugueses, sendo o último deles o Hospital de Santa Maria onde acabaram por ser tratadas.  

Os e-mails, na maioria dos casos enviados por uma representante da família que não dá para compreender ao certo quem é, permite perceber as dificuldades que a família enfrentou e a complexa logística que teve de ultrapassar antes de viajar para Portugal, tendo, inclusive, o apoio de um advogado no Brasil e de uma "equipa de advogados em Lisboa". 

Por duas vezes, em dois e-mails, na troca de mensagens com médicos em hospitais públicos portugueses, os médicos são questionados se existe hipótese de alguém da equipa hospitalar ir ao Brasil avaliar as crianças antes da viagem para Lisboa, havendo a garantia de que "a família arcará com todas as despesas".

Uma advogada em Lisboa tentou inscrever as gémeas num centro de saúde, sendo sublinhado, pela família nas respostas à TVI, que esta não seria uma família rica, ao contrário daquilo que é dito pelos médicos da neuropediatria do Santa Maria. 

Segundo a família, devido à saúde frágil das crianças, a viagem para Lisboa de avião foi acompanhada por uma médica e um fisioterapeuta pulmonar que regressaram ao Brasil no mesmo dia; uma enfermeira que ficou durante 30 dias pois as crianças tinham feito uma gastrotomia e precisavam de acompanhamento constante; e uma cuidadora que auxiliava o tratamento e ficou com a família. 

Todas as despesas anteriores, segundo a família, foram suportadas com a angariação de fundos feita para ajudar as gémeas a receber o medicamento mais caro do mundo. 

A campanha ficou longe de chegar aos 4 milhões de euros necessários, numa campanha que segundo a família foi "auditado por uma empresa especializada, a pedido da mãe das crianças".

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