Família das gémeas tratadas no Santa Maria só recorreu ao filho de Marcelo depois de objeções do Hospital D.ª Estefânia

5 dez 2023, 19:58

Responsáveis clínicos do Hospital Dona Estefânia mostraram resistência em receber as crianças

Os pais das gémeas luso-brasileiras que foram tratadas no Hospital de Santa Maria para a doença atrofia muscular espinhal tipo 1 ouviram quatro objecções do Hospital Dona Estefânia, antes de conseguirem ultrapassar os obstáculos para que as crianças recebessem o medicamento mais caro do mundo, o Zolgensma.

A TVI, do mesmo grupo da CNN Portugal, revela que só ao fim desses obstáculos é que o caso chegou à Presidência da República através do filho de Marcelo Rebelo de Sousa, Nuno Rebelo de Sousa.

Depois disto, os contacto da família mudaram para o Hospital de Santa Maria, tendo sido o chefe de Estado a confirmar os contactos prévios com o Hospital Dona Estefânia.

A TVI teve acesso aos emails trocados entre as partes, envolvendo médicos do Hospital Dona Estefânia e a família das gémeas, que demonstram que havia várias razões clínicas para não tratar estas doentes.

O parecer dos médicos do Santa Maria acabou, no entanto, por ser ultrapassado, suspeitando-se que a utilização do nome do Presidente da República tenha servido para desbloquear o impasse. Recorde-se que o próprio Marcelo Rebelo de Sousa admitiu uma “intervenção” da Presidência da República neste caso, ainda que tenha negado claramente que tenha estado diretamente envolvido.

No filme dos acontecimentos é possível perceber que a família contactou o Hospital Dona Estefânia a 14 de outubro de 2019, exatamente uma semana antes do email enviado por Nuno Rebelo de Sousa para a Presidência da República, segundo o calendário traçado por Marcelo Rebelo de Sousa.

Nesse dia a resposta do hospital foi clara: não havia condições para administrar o tratamento. Só que os pais das gémeas voltaram a tentar várias vezes até 15 de novembro.

Os diferentes argumentos do hospital para esta resistência em tratar as gémeas foram dados. Nos emails enviados pelo responsável de Neuropediatria daquele hospital, José Pedro Vieira, pode ler-se, a 14 de outubro, que “o tratamento não está incluído no orçamento do hospital e é primeiro inserido numa plataforma informática do Ministério da Saúde para integrar o orçamento deste ministério”.

Dois dias depois, o mesmo médico refere que “em Portugal houve um caso muito excecional de administração de Zolgensma. Contudo as autoridades de saúde não têm uma posição definida e uniforme quanto aos casos restantes. Nomeadamente para os bebés com mais de oito meses de idade”.

O bebé a quem o email se refere é a pequena Matilde, que ficou conhecida após uma campanha de angariação de fundos que serviu para juntar os dois milhões de euros necessários para pagar o medicamento.

Além disso, tanto o diretor da unidade de Neuropediatria como o diretor clínico do Hospital Dona Estefânia sempre estiveram de acordo: os estudos científicos não permitiam concluir que a transição do medicamento feito pelas gémeas no Brasil para aquele que se fazia em Portugal traria vantagens”.

Mas a troca de emails continuou, com o Hospital Dona Estefânia a manter a posição. Só depois de várias tentativas falhadas é que a família recorreu a Nuno Rebelo de Sousa, desencadeando uma história que pode envolver a Presidência da República, mas também o Governo.

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